Numa tentativa de solucionar o impasse sobre o orçamento federal que paralisou parcialmente a máquina estatal, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste sábado (19/01) que pretende oferecer mais proteção aos imigrantes que moram no país em troca de verbas para a construção do muro na fronteira com o México.
A oferta foi direcionada aos democratas, que se recusam a aprovar recursos para a construção do muro, uma das principais promessas de campanha de Trump. A paralisação parcial do governo, também chamada de shutdown, é a mais longa da história americana e já dura 29 dias.
"Estou aqui para quebrar o impasse e fornecer ao Congresso um caminho para o fim do shutdown e resolver logo a crise ao longo da fronteira sul", disse Trump, durante um pronunciamento.
Entre as propostas, Trump disse que apoiará uma lei para prorrogar por três anos a proteção de jovens imigrantes ilegais que chegaram aos Estados Unidos ainda crianças, conhecidos como "dreamers" (sonhadores), que são beneficiados pelo programa de Ação Diferida para Chegados na Infância (Daca).
O presidente ofereceu ainda uma medida similar para os afetados pelo cancelamento de outro amparo migratório, o Status de Proteção Temporário (TPS), que protege da deportação mais de 436 mil imigrantes nos EUA. Esses imigrantes deixaram seus países devido a desastres naturais ou violência.
Em troca, o presidente pediu a aprovação no orçamento de 5,7 bilhões de dólares para construção de um muro na fronteira com o México, que, segundo ele, ajudaria a frear a imigração ilegal. "Como candidato, prometi corrigir essa crise e pretendo corrigi-la de um jeito ou de outro", destacou.
Trump disse que estava oferecendo um "compromisso de bom senso" que deveria ser aceito por ambas as partes.
Antes do pronunciamento, Nancy Pelosi, líder democrata da Câmara dos Representantes e figura-chave da oposição à agenda de Trump, disse que a proposta era uma compilação de iniciativas rejeitadas anteriores e afirmou que era inaceitável.
Pelosi acrescentou que a oferta não era um "esforço de boa-fé" para ajudar os imigrantes e não vai passar no Congresso.
Governo paralisado
Em 22 de dezembro, o governo americano deu início ao fechamento de cerca de um quarto de seus serviços, depois de republicanos e democratas não terem chegado a um acordo orçamentário no Congresso sobre as exigências de Trump para o financiamento de um controverso muro na fronteira com o México.
Embora dias antes os parlamentares tivessem concordado com um orçamento, o presidente se negou a assiná-lo, uma vez que o documento não incluía os mais de 5 bilhões de dólares que ele havia exigido para a construção do muro, levando assim à atual paralisação.
O shutdown atinge agências de dez departamentos do governo federal, incluindo Transporte e Justiça, assim como dezenas de parques nacionais.
Além disso, afeta cerca de 800 mil dos 2,1 milhões de funcionários do governo, que pararam de receber seus salários. Deles, 420 mil têm que comparecer ao trabalho, em serviços considerados "essenciais", enquanto o restante permanece em casa.
CN/efe/rtr/afp/ap
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Donald Trump quer um "grande e belo muro" entre os EUA e o México para frear a migração e o narcotráfico. Em outros lugares, barreiras de concreto e metal feitas para resolver problemas tiveram variados graus de êxito.
Foto: Getty Images/J. MooreAntes de Donald Trump, Bill Clinton já mandou construir cercas na fronteira. Após os atentados de setembro de 2001, George Bush acelerou a construção. Desde então, quase 1.100 quilômetros de fronteira receberam paredes de concreto, vigas de aço e outros tipos de obstruções.
Foto: Getty Images/D. McNewDesde 2002, Israel está construindo uma barreira ao longo da Cisjordânia. O projeto, oficialmente justificado como proteção contra o terrorismo, é altamente controverso e muitas vezes chamado "muro da separação". Há mais de dez anos, a Corte Internacional de Justiça declarou que ele viola o direito internacional. Israel, no entanto, continua construindo o muro, que deverá ter 759 km de extensão.
Foto: A. Al-BazzUm muro de controle militar de mais de 700 km na região da Caxemira divide a Índia e o Paquistão desde 1971. Em muitos lugares, esta "linha de controle" é reforçada por minas e arame farpado. A barreira de arame, que em alguns locais tem 3 metros de altura, também pode ser eletrificada.
Foto: Getty Images/AFPParedes divisórias também separam classes econômicas. Como em Lima, onde uma parede de concreto de 3 m de altura separa os moradores pobres de um bairro de ricos. Aliás, "condomínios fechados" são frequentes na América Latina. Os moradores da capital do Peru chamam a parede de "muro da vergonha".
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/S. CastanedaNa capital do Iraque, um muro de 4 metros de altura e 5 km de extensão corta a cidade. Ele foi construído pelos militares dos EUA na região dominada pelos xiitas em 2007. Hoje, o muro separa quase 2 milhões de pessoas. Também em outros bairros de Bagdá, paredes de concreto separam enclaves sunitas de bairros xiitas.
Foto: Getty Images/W. KuzaieO governo britânico construiu os chamados "muros da paz" na Irlanda do Norte em 1969 para separar católicos e protestantes. Portões permitiam a passagem para o outro lado. Em caso de conflitos, eles eram fechados. Alguns moradores dizem, no entanto, que as paredes acentuaram ainda mais a divisão na mente das pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. SmiejekDesde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950, uma zona desmilitarizada separa a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista. A faixa de cerca de 4 km de largura e 250 km de comprimento é uma das áreas restritas mais vigiadas do mundo. Em alguns pontos, muros marcam a fronteira entre as duas Coreias.
Foto: Getty Images/AFP/E. JonesTambém a Europa está se isolando. Desde outubro de 2015, a Hungria está fechando sistematicamente sua fronteira para evitar refugiados. No início, a cerca ainda não era hermética. Hoje, no entanto, quase ninguém consegue mais passar para o outro lado. A Hungria também quer construir uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia.
Foto: picture-alliance/dpa/S. UjvariNos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila, no Marrocos, há fortificações especialmente altas. Para superá-las, é preciso passar por até três cercas. Para complicar, há detectores de movimento, câmeras infravermelhas e um arame farpado que penetra fundo na pele. Mesmo assim, muitos se arriscam e acabam se ferindo.
Foto: picture-alliance/dpa/A. SempereNa fronteira com a Síria, de onde muitos estão fugindo da guerra civil, a Turquia está construído um muro de 511 km de extensão. No final de fevereiro, o governo de Ancara anunciou que metade já está pronta. O muro de 3 metros de altura tem arame farpado e torres de vigilância. Várias vezes, a União Europeia criticou a Turquia por fazer controles muito brandos em suas fronteiras.
Foto: picture alliance/AA/R. Maltas