Em entrevista à DW, biógrafa Gwenda Blair fala sobre a relação do novo presidente dos EUA com a família e explica os papéis que seus filhos e sua mulher devem desempenhar na Casa Branca.
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Gwenda Blair é autora de duas biografias sobre o novo presidente americano: Trumps: Three generations that built an empire (Trumps: três gerações que construíram um império) e Donald Trump: Master Apprentice (Donald Trump: aprendiz-mestre).
A professora de jornalismo da Universidade de Columbia diz ser na família que o magnata mais confia e que ele não deixará de tê-la bem perto do centro do poder, em Washington, e de tirar o máximo proveito disso para si.
"O que estamos vendo agora é o começo da transformação da Casa Branca num local com fins lucrativos, dependendo da família dele, de seus filhos", afirma Blair. "Essa é a maneira de ele levar isso adiante e manter o foco no que há de vantajoso para si e de tirar proveito de ser agora presidente." Mas família não é igual a família: "As esposas são acessórios, os filhos são o futuro."
DW: A família tem um papel muito importante para o presidente Donald Trump. Que tipo de first family devemos esperar dos Trump?
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Gweda Blair: Como já vimos, ele mantém a família sempre por perto. É assim que vai continuar o que sempre fez, que é se concentrar na própria vantagem. Ele sempre teve um olho muito afiado para saber como avançar, não importa a situação, e para encontrar as melhores oportunidades em qualquer situação e saber lucrar com elas. Ele fez isso em sua carreira como empresário, e o que estamos vendo agora é o começo da transformação da Casa Branca num local com fins lucrativos, dependendo da família dele, de seus filhos, tendo a filha e o genro bem perto.
Não sabemos quão próximo o seu genro estará da Casa Branca, mas não vai ficar muito longe. Essa é a maneira de ele levar isso adiante e manter o foco no que há de vantajoso para si e de tirar proveito de ser agora presidente.
Donald Trump tem cinco filhos e foi casado três vezes. Qual é o conceito de família dele?
A família é aquilo em que ele confia. Eu acho que é mais ou menos tudo em que ele realmente confia: ele confia em si, e eles são uma extensão dele próprio. É uma família muito próxima. Eram cinco filhos na família dele, e desde o início ele disse que queria cinco filhos. São de três mulheres, mas ele tem cinco filhos. Dessa forma, ele talvez se considere um marido e pai bem-sucedido. Ele vê nisso uma espécie de unidade básica, e todo o mundo fora disso é um estranho.
Trump tem sido acusado de nepotismo por nomear seu genro Jared Kushner para assessor da Casa Branca. Ele também foi criticado pela decisão de entregar a gestão de seus negócios aos filhos, devido a potenciais conflitos de interesse com o seu papel político como presidente. Mas Trump não se deixou intimidar muito com essas críticas. Por quê?
Ele é um cara esperto. Não há dúvida quanto a isso, gostando dele ou não. Ele tem faro para descobrir brechas nos negócios, para descobrir como tirar vantagens ao usar falências de empresas para deixar de pagar impostos sobre rendimento pessoal por 20 anos, e agora ele também está sendo muito bom em descobrir brechas na Casa Branca. E uma delas diz que o presidente não está legalmente preso a quaisquer conflitos de interesses. E ao entregar seus negócios aos filhos, ele insiste que isso não é um conflito de interesses e que ele não vai falar com eles, coisa que, visto por alto, é muito difícil de se imaginar. Ele está conseguindo borrar os limites, de forma que pareça que "afinal, são só os filhos dele". E ter seu genro, em vez de seu descendente de sangue, como seu mais próximo conselheiro é outro tipo de operação de borrar os limites.
O fato é que ele não é, legalmente, obrigado a obedecer ao mesmo tipo de regulamentação a que está sujeito qualquer um que trabalhe no governo e que ele venha a indicar para seu gabinete. E ele é extremamente consciente disso, assim como estava consciente de que não é legalmente obrigado a restituir suas devoluções do imposto de renda. Todos os outros presidentes fizeram isso. Há muita tradição e há muita expectativa, mas na verdade ele não é obrigado a fazê-lo. Isso é o que se chama de uma brecha. E o mesmo está acontecendo com os filhos dele, e a suposta retirada dos negócios, que não está realmente acontecendo porque há uma brecha e ele está passando bem pelo meio dela.
Os filhos de Donald Trump parecem desempenhar papel maior e mais importante do que a esposa, na política e nos negócios. A senhora concorda?
Todas as três esposas têm sido importantes de alguma forma. Aos olhos do público, todas as três são modelos, todas as três são muito atraentes, todas as três são o tipo de acessório ideal para quem queira ser o macho-alfa em qualquer ambiente ou situação. Ter uma esposa loira e modelo no braço é um acessório muito importante, e elas desempenham esse papel muito bem. Afinal, são mulheres treinadas para atrair atenção: esse é o trabalho delas. Então elas têm sido muito importantes nesse aspecto.
A primeira esposa, Ivana, queria ser mais do que isso, ela queria ser parte do negócio, e o casamento deles desmoronou. Ele não queria alguém ao seu lado, ele quer alguém que do lado dele, um pouco à parte, mas que não saia na frente. E aí foi um desastre e não deu certo, e ele partiu para a esposa número dois, que não tinha planos de ter qualquer papel de negócio, e a esposa número três tem ainda menos aspirações. Nós a temos visto em público ao lado dele: ela nunca sai na frente, fala muito raramente e parece que nem mesmo estará ao lado dele na Casa Branca.
A senhora diria, então, que os descendentes de sangue, os filhos, são mais importantes para Trump do que as esposas?
É o que parece. As esposas são os acessórios, os filhos são o futuro. Eles são a dinastia que está indo adiante.
Os escolhidos do governo Trump
Os nomes que o presidente eleito dos EUA já anunciou para compor a sua equipe. Uma lista cheia de nomes polêmicos.
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
Chefe de gabinete
Reince Priebus, líder do Partido Republicano, vai chefiar o gabinete da Casa Branca. Ele, que atualmente preside o Comitê Nacional Republicano, foi o principal aliado de Trump durante a corrida presidencial. Ao nomear Priebus, o magnata volta-se para um veterano de Washington, muito próximo dos caciques republicanos.
Foto: Getty Images/M. Wilson
Estrategista
Stephen Bannon, ex-diretor do portal de notícias da extrema direita "Breitbart News", será o chefe estrategista do governo Trump. Ele também trabalhou na campanha presidencial. A nomeação de Bannon foi denunciada por grupos de defesa e democratas, que o acusam de opiniões racistas, antissemitas e misóginas.
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Segurança Nacional
O general reformado Mike Flynn foi apontado como assessor de segurança nacional da Casa Branca. Flynn tem em seu registro uma série de declarações polêmicas sobre muçulmanos. Segundo a imprensa americana, a escolha é uma mescla de experiência e controvérsia. Como vice, Trump nomeou Kathleen Troia McFarland, conhecida como K.T. McFarland, analista da Fox News sobre segurança nacional.
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Inteligência Nacional
Como novo diretor de Inteligência Nacional (DNI), o ex-senador Dan Coats será o principal assessor presidencial em temas de inteligência e vai supervisionar todos os serviços de informação e espionagem. Coats já trabalhou nos comitês de Inteligência e das Forças Armadas no Senado e também foi embaixador dos EUA na Alemanha.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh
Secretário de Justiça
Jeff Sessions, senador conservador do estado do Alabama, será o secretário de Justiça e procurador-geral dos Estados Unidos. Sessions tem discurso linha-dura e muitas vezes inflamatório sobre imigração. Em 1986, ele foi indicado para juiz federal pelo então presidente Ronald Regan, mas teve nomeação suspensa por comitê do Senado, sob acusação de racismo.
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CIA
O deputado republicano Mike Pompeo foi apontado para dirigir a agência de inteligência dos Estados Unidos – a CIA. Pompeo, que é membro do Comitê de Inteligência da Câmara, ganhou destaque por seu papel na investigação do Congresso sobre o ataque de 2012 ao consulado americano em Benghazi, na Líbia. Durante a campanha presidencial, o republicano foi um crítico ferrenho de Hillary Clinton.
Foto: Getty Images/AFP/S. Loeb
Representante na ONU
Nikki Haley, governadora da Carolina do Sul, ocupará o cargo de embaixadora nas Nações Unidas. Primeira mulher a ser nomeada para um cargo importante do futuro governo Trump, ela teve sua indicação criticada pela falta de experiência anterior com política externa. Filha de imigrantes indianos, Haley chegou a trocar farpas com o magnata durante a campanha, dado o tom racista do colega de partido.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Reynolds
Secretária de Educação
Betsy DeVos será secretária de Educação. A bilionária foi presidente do Partido Republicano no Michigan e preside a organização American Federation for Children, que propõe que os pais possam recorrer a fundos públicos para escolher a escola que seus filhos vão frequentar, seja particular ou religiosa. É também opositora declarada dos sindicatos de professores, chegando a chamá-los de "inimigos".
Foto: Picture-Alliance/AP Photo/C. Kaster
Secretário do Tesouro
Steven Mnuchin foi indicado para ser secretário do Tesouro. Chefe financeiro da campanha do magnata, ele já trabalhou para o grupo bancário Goldman Sachs e foi presidente da empresa Dune Capital Managment, que financiou filmes como "Avatar". Em entrevista à imprensa americana, afirmou que sua prioridade será diminuir os impostos de empresas, como Trump havia prometido durante a campanha eleitoral.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Kaster
Secretária de Transportes
A americana de origem chinesa Elaine Chao deve comandar a Secretaria de Transportes do país. Ela terá um papel fundamental no cumprimento da promessa eleitoral de Trump de reformar a infraestrutura de transporte dos Estados Unidos. Chao foi vice-secretária da pasta durante o governo George Bush, de 1989 a 1991, e secretária de Trabalho de 2001 a 2009, com George W. Bush.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Kaster
Secretário de Comércio
O bilionário Wilbur Ross, conhecido por investir e retomar o lucro de empresas falidas, é a escolha de Donald Trump para chefiar o Departamento do Comércio no seu governo. O empresário ajudou a moldar as propostas econômicas da campanha do presidente eleito dos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Lennihan
Secretário de Defesa
O general reformado da Marinha, James Mattis, deverá comandar o Departamento de Defesa americano. Considerado um militar "linha-dura", Mattis liderou operações em todo o Oriente Médio, como a que invadiu o Iraque em 2003. Ele é conhecido pelo apelido "Cachorro Louco" (Mad Dog).
Foto: Getty Images for DIRECTV/B. Steffy
Secretário de Saúde e Serviços Humanos
O deputado republicano e cirurgião Tom Price foi escolhido por Trump para a pasta de Saúde e Serviços Humanos e para administrar os programas de seguro de saúde do governo, entre eles o Affordable Care Act, que ficou conhecido como ObamaCare. Nos planos do secretário está a redefinição desses programas.
Foto: Reuters/J. Roberts
Conselheiro da Casa Branca
Donald McGahn, conselheiro geral da equipe de transição de Donald Trump, foi escolhido para servir como advogado da Casa Branca. Segundo especialistas, a prevenção de escândalos está entre as tarefas principais deste cargo.
Foto: Getty Images/D. Angerer
Pequenas Empresas
A magnata Linda McMahon foi a escolha de Trump para o posto de secretária de Pequenas Empresas. McMahon entrou para o mundo da política ao se candidatar para o Senado pelo estado de Connecticut, sem sucesso, em 2010. Desde o início ela apoiou a campanha presidencial de Trump.
Foto: Getty Images/D. Angerer
Habitação
O neurocirurgião aposentado Ben Carson foi nomeado para o posto de secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano. Carson, que concorreu com Trump na lista de candidatos presidenciais republicanos, nunca ocupou um cargo público. Até agora, ele é o afro-americano mais bem posicionado no novo governo dos EUA.
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
Segurança Interna
O general aposentado da Marinha John F. Kelly foi a escolha de Trump para chefiar o Departamento de Segurança Interna, o terceiro maior departamento do governo americano, com mais de 240 mil funcionários. Dentre as funções do novo secretário está o combate ao terrorismo e a proteção do presidente.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Balce Ceneta
Proteção Ambiental
O procurador-geral do estado de Oklahoma, Scott Pruitt, será o chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA). Pruitt é criticado por negar a mudança climática e por ser um defensor dos combustíveis fósseis. O procurador interpôs várias ações judiciais contra a regulamentação da administração Obama, implementada pela EPA, para reduzir as emissões pela indústria do carvão.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Harnik
Ministério do Trabalho
Andrew Puzder, chefe da rede de fast foods CKE, foi apontado como o próximo ministro do Trabalho. Segundo Trump, o empresário de 66 anos é ideal para o cargo por ter criado milhares de postos de trabalho. Puzder, contudo, também ficou conhecido por ser contra a fixação de um salário mínimo de nove dólares a hora. Ele alega que isso prejudica os lucros.
Foto: picture alliance/dpa/S. Osman
Secretário de Estado
O CEO da multinacional de gás e petróleo ExxonMobil, Rex Tillerson, foi escolhido para o cargo de secretário de estado. Tillerson, de 64 anos, não tem experiência no setor público. Ele começou na ExxonMobil em 1975 e, em 2006, tornou-se o CEO da companhia. A relação estreita que o novo secretário de Estado mantém com o presidente russo, Vladimir Putin, foi apontada como motivo de preocupação.
Foto: Getty Images/AFP/N. Balout
Energia
O ex-governador do Texas Rick Perry foi escolhido como secretário de Energia. Segundo analistas, é provável que ele adote uma política distante das energias renováveis e favorável aos combustíveis fósseis, cuja produção ele defendeu como governador por 14 anos. Nas duas últimas eleições presidenciais, Perry foi pré-candidato pelo Partido Republicano, sem sucesso.
Foto: Getty Images/AFP/K. Betancur
Exército
O bilionário Vincent Viola foi escolhido para o cargo de secretário do Exército. Aos 60 anos e filho de imigrantes italianos, ele é dono de um time de hóquei e da Virtu Financial. Seu único vínculo com a carreira militar vem de quando era jovem: Viola se graduou na prestigiada academia militar de West Point.
Foto: picture alliance/AP Photo/P. Carter
Conselho Nacional de Comércio
O economista linha-dura em relação à China, Peter Navarro chefiará o recém-formado Conselho Nacional de Comércio da Casa Branca. Navarro é autor de livros incluindo "Death by China: How America Lost its Manufacturing Base" (Morte pela China: como os EUA perderam a sua base industrial, em tradução livre). Professor da Universidade da Califórnia, ele tem sugerido intensificar as relações com Taiwan.
Foto: Imago/Zumapress
Interior
Ryan Zinke, 55, republicano de Montana e membro do subcomitê da Casa Branca para recursos naturais, votou a favor de leis que enfraqueceriam as salvaguardas ambientais em terras públicas. Ele tomou posições favoráveis à indústria do carvão, a qual foi prejudicada durante o governo Obama.
Robert Lighthizer, 69, serviu como vice-representante comercial dos EUA durante o governo Reagan nos anos 80 e, desde então, atuou por quase três décadas como advogado na defesa de empresas americanas em processos anti-dumping e anti-subvenções. Crítico ferrenho da política comercial chinesa, Lighthizer defende medidas mais agressivas ao lidar com o país asiático.
Foto: greatagain.gov - CC BY 4.0
Agricultura
O ex-governador da Geórgia Sonny Perdue, de 70 anos, serviu no comitê consultivo agrícola da campanha de Trump. Republicano, ele serviu no Senado estadual e cumpriu dois mandatos como governador, de 2003 a 2011. Posteriormente, fundou a Perdue Partners, uma empresa global de comércio que presta consultoria e serviços para empresas interessadas em exportar produtos.