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Trump sob a sombra de Watergate

8 de junho de 2017

Caso que, nos anos 1970, levou à renúncia de Richard Nixon guarda paralelos com o escândalo envolvendo o atual presidente americano e a influência russa sobre as eleições de 2016.

Bild-Kombo Donald Trump & Richard Nixon
Donald Trump (esq.) e o ex-presidente Richard NixonFoto: Reuters/J. Roberts - picture-alliance/CNP/AdMedia/Arnie Sachs

A declaração de um ex-alto membro dos serviços secretos americanos, comparando o atual escândalo envolvendo Donald Trump a Watergate, ganhou grande repercussão na imprensa dos Estados Unidos. James Clapper trabalhou em várias funções em agências de inteligência: do governo de George H. W. Bush até o de Barack Obama – e sua palavra tem peso.

"Eu acho que, se você compara os dois casos, Watergate é mais fraco", afirmou na quarta-feira (07/06), em discurso na Austrália, em referência ao maior escândalo político doméstico da história moderna dos EUA e aos atuais eventos relativos às conexões de Trump com a Rússia.

Para entender o peso da declaração de Clapper – e todas as outras comparações com Watergate que surgiram recentemente – é necessário saber exatamente como o escândalo se desenvolveu e fez com que a presidência de Richard Nixon chegasse ao fim.

O caso Nixon

Em 17 de junho de 1972, às 2h30 da manhã, cinco homens foram presos por arrombarem e tentarem grampear os escritórios do Comitê Nacional Democrata (CND) localizados no hotel e complexo de escritórios Watergate, em Washington.

O chefe da campanha de reeleição republicana de Richard Nixon inicialmente negou qualquer conexão com os cinco homens, mas o jornal Washington Post publicou várias reportagens investigativas que refutaram essa afirmação.

Apesar do escândalo, Nixon foi reeleito em uma vitória esmagadora em 7 de novembro de 1972. Mas, em abril de 1973, poucos meses após o início do segundo mandato, vários funcionários da Casa Branca se demitiram devido a Watergate.

Em maio de 1973, Archibald Cox foi nomeado promotor especial do Departamento de Justiça para o caso Watergate. Ele deveria investigar o quão profundamente a Casa Branca estava envolvida com as escutas telefônicas no CND.

Em 20 de outubro de 1973, o presidente Nixon demitiu Cox, que o investigava, e extinguiu completamente o escritório do promotor especial. Aumentou, então, a pressão por um processo de impeachment contra Nixon.

Durante a investigação, revelou-se que Nixon gravava todas as conversas e telefonemas em seus escritórios desde 1971. Ele se recusou a entregar as fitas ao promotor especial, mas o Supremo Tribunal decidiu que algumas gravações tinham que ser repassadas. Os áudios provaram que Nixon era uma parte dos esforços de seu governo para encobrir seus envolvimentos com o escândalo Watergate.

É por isso que a obstrução de Justiça estava entre os artigos do pedido de impeachment contra o presidente em julho de 1974. Para evitar sua destituição, Nixon anunciou sua renúncia em 8 de agosto de 1974. Até hoje, ele é o único presidente dos EUA a renunciar.

O caso Trump

Mesmo com essa explicação simplificada dos eventos do Watergate, os paralelos com a presidência de Trump parecem claros. Os hackers russos são acusados de influenciar as eleições presidenciais de 2016. Em julho do ano passado, eles invadiram os servidores de e-mail do CND, vazando milhares de mensagens confidenciais à mídia, muitas das quais constrangeram altos democratas – a versão do século 21 de arrombamento.

Trump e sua equipe de campanha dizem que não tem nada a ver com o ocorrido. Porém, o ataque cibernético continuou trabalhando a seu favor: ele venceu as eleições e tomou posse em 20 de janeiro de 2017.

Mas em 13 de fevereiro, menos de um mês depois de Trump assumir o cargo, o conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, foi forçado a renunciar depois de ter mentido sobre seus encontros com autoridades russas.

Flynn disse que nunca discutiu as sanções americanas contra Moscou com o embaixador russo nos EUA. Mais tarde, comprovou-se que a afirmação era falsa. O Departamento de Justiça, bem como o ex-presidente Obama, alertaram o governo Trump que Flynn poderia ser vulnerável à chantagem russa.

Em março de 2017, o então diretor do FBI, James Comey, confirmou que sua agência estava investigando os esforços da Rússia para influenciar as eleições de 2016 e a possibilidade da coordenação com funcionários da campanha de Trump.

Supostamente, Trump não estava feliz com Comey e teria pedido que ele abandonasse a investigação do FBI sobre Flynn. Em 9 de maio, demitiu Comey, o responsável por investigar seu governo e a campanha eleitoral.

Se as alegações contra Trump se revelarem verdadeiras – o que Comey pode reforçar durante seu depoimento no Congresso – alguns especialistas jurídicos dizem que seu comportamento pode constituir obstrução de Justiça: o que é definido como tentativas corruptas de "influenciar, obstruir ou impedir" "a administração devida e correta da lei" em processos.

Outro paralelo com o caso Nixon: Trump já deu a entender ter gravado conversas na Casa Branca. "James Comey deveria torcer para que não haja 'fitas' de nossas conversas, antes de começar a fazer vazamentos para a imprensa", escreveu Trump, em maio, no Twitter.

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