O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu ao governo da Espanha que construísse um muro ao longo do deserto do Saara para combater a crise migratória no Mediterrâneo e reduzir a chegada de refugiados à Europa, afirmou o ministro espanhol do Exterior, Josep Borrell.
Os comentários do chefe da diplomacia foram feitos durante um almoço em Madri nesta semana e amplamente divulgados pela imprensa do país nesta quarta-feira (19/09). Ao jornal britânico The Guardian, um porta-voz do Ministério do Exterior da Espanha confirmou a informação, mas se negou a dar mais detalhes.
Segundo Borrell, durante a conversa com Trump, diplomatas espanhóis teriam apontado para as dificuldades de tal estratégia, lembrando que o Saara se estende por cerca de 4.800 quilômetros. O presidente, por sua vez, teria levantado dúvidas sobre o número: "A fronteira com o Saara não pode ser maior que nossa fronteira com o México".
Em 2016, ainda durante sua campanha à presidência, Trump prometeu construir um "grande e bonito muro" em toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México, que tem aproximadamente 3.200 quilômetros de extensão.
Um plano semelhante no Saara, no entanto, seria complicado, pois a Espanha possui apenas dois pequenos enclaves no Norte da África – Ceuta e Melilha. Dessa forma, o muro teria que ser construído em território estrangeiro.
Segundo o diário espanhol El País, Borrell se manifestou contra a ideia de construir um muro para frear a imigração, tanto no Saara como em qualquer outro lugar.
Fontes diplomáticas afirmaram que a sugestão de Trump ao governo espanhol pode ter ocorrido em junho, durante uma viagem do ministro espanhol do Exterior aos Estados Unidos, por ocasião da visita do rei Felipe 6ª e da rainha Letícia à Casa Branca.
Durante o almoço nesta semana, além de relatar o episódio com Trump, Borrell teria feito ainda um diagnóstico bastante sombrio do debate sobre a crise migratória na Europa.
"O problema econômico, bem ou mal, tem sido resolvido. O migratório não, porque esse problema não se resolve com dinheiro, é um problema emocional", afirmou ele, segundo o El País. "As sociedades europeias não estão estruturadas para absorver mais do que uma determinada percentagem de migrantes, especialmente se forem muçulmanos."
Presidente do Parlamento Europeu entre 2004 e 2007, Borrell também aproveitou para criticar a estratégia da Itália para conter o fluxo de migrantes no sul da Europa e afirmou que a Espanha defende "métodos mais civilizados".
"Não vamos resolver isso no estilo Salvini", disse ele, referindo-se às decisões tomadas pelo ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, de impedir que navios carregados de estrangeiros atracassem nos portos de seu país.
Em junho, o chefe de governo da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, aceitou receber 630 refugiados a bordo do navio Aquarius, que havia sido recusado pela Itália e por Malta.
A Espanha tem se visto na linha de frente da crise migratória. Somente neste ano, mais de 33.600 migrantes chegaram ao país pelo mar, enquanto 1.723 morreram na tentativa.
O aumento da chegada de refugiados – equivalente a três vezes o número registrado no mesmo período do ano passado – significa que a Espanha ultrapassou a Itália e a Grécia como o principal destino dos migrantes que cruzam o Mediterrâneo.
EK/efe/ots
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Donald Trump quer um "grande e belo muro" entre os EUA e o México para frear a migração e o narcotráfico. Em outros lugares, barreiras de concreto e metal feitas para resolver problemas tiveram variados graus de êxito.
Foto: Getty Images/J. MooreAntes de Donald Trump, Bill Clinton já mandou construir cercas na fronteira. Após os atentados de setembro de 2001, George Bush acelerou a construção. Desde então, quase 1.100 quilômetros de fronteira receberam paredes de concreto, vigas de aço e outros tipos de obstruções.
Foto: Getty Images/D. McNewDesde 2002, Israel está construindo uma barreira ao longo da Cisjordânia. O projeto, oficialmente justificado como proteção contra o terrorismo, é altamente controverso e muitas vezes chamado "muro da separação". Há mais de dez anos, a Corte Internacional de Justiça declarou que ele viola o direito internacional. Israel, no entanto, continua construindo o muro, que deverá ter 759 km de extensão.
Foto: A. Al-BazzUm muro de controle militar de mais de 700 km na região da Caxemira divide a Índia e o Paquistão desde 1971. Em muitos lugares, esta "linha de controle" é reforçada por minas e arame farpado. A barreira de arame, que em alguns locais tem 3 metros de altura, também pode ser eletrificada.
Foto: Getty Images/AFPParedes divisórias também separam classes econômicas. Como em Lima, onde uma parede de concreto de 3 m de altura separa os moradores pobres de um bairro de ricos. Aliás, "condomínios fechados" são frequentes na América Latina. Os moradores da capital do Peru chamam a parede de "muro da vergonha".
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/S. CastanedaNa capital do Iraque, um muro de 4 metros de altura e 5 km de extensão corta a cidade. Ele foi construído pelos militares dos EUA na região dominada pelos xiitas em 2007. Hoje, o muro separa quase 2 milhões de pessoas. Também em outros bairros de Bagdá, paredes de concreto separam enclaves sunitas de bairros xiitas.
Foto: Getty Images/W. KuzaieO governo britânico construiu os chamados "muros da paz" na Irlanda do Norte em 1969 para separar católicos e protestantes. Portões permitiam a passagem para o outro lado. Em caso de conflitos, eles eram fechados. Alguns moradores dizem, no entanto, que as paredes acentuaram ainda mais a divisão na mente das pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. SmiejekDesde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950, uma zona desmilitarizada separa a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista. A faixa de cerca de 4 km de largura e 250 km de comprimento é uma das áreas restritas mais vigiadas do mundo. Em alguns pontos, muros marcam a fronteira entre as duas Coreias.
Foto: Getty Images/AFP/E. JonesTambém a Europa está se isolando. Desde outubro de 2015, a Hungria está fechando sistematicamente sua fronteira para evitar refugiados. No início, a cerca ainda não era hermética. Hoje, no entanto, quase ninguém consegue mais passar para o outro lado. A Hungria também quer construir uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia.
Foto: picture-alliance/dpa/S. UjvariNos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila, no Marrocos, há fortificações especialmente altas. Para superá-las, é preciso passar por até três cercas. Para complicar, há detectores de movimento, câmeras infravermelhas e um arame farpado que penetra fundo na pele. Mesmo assim, muitos se arriscam e acabam se ferindo.
Foto: picture-alliance/dpa/A. SempereNa fronteira com a Síria, de onde muitos estão fugindo da guerra civil, a Turquia está construído um muro de 511 km de extensão. No final de fevereiro, o governo de Ancara anunciou que metade já está pronta. O muro de 3 metros de altura tem arame farpado e torres de vigilância. Várias vezes, a União Europeia criticou a Turquia por fazer controles muito brandos em suas fronteiras.
Foto: picture alliance/AA/R. Maltas