Trump suspende taxas após acordo com México sobre migração
8 de junho de 2019
Países acertam pacto para reduzir o fluxo de migrantes centro-americanos na fronteira. México aceita acolher solicitantes de refúgio que aguardam processo nos EUA, e Washington desiste de taxar produtos mexicanos.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite desta sexta-feira (07/06) que decidiu suspender a imposição de tarifas sobre as importações do México, após ter chegado a um acordo com o governo do país vizinho para reduzir o fluxo migratório na fronteira.
"As tarifas programadas para entrar em vigor na segunda-feira contra o México ficam suspensas indefinidamente. Em troca, o México aceitou tomar medidas firmes para deter a maré migratória em direção à nossa fronteira sul", escreveu Trump no Twitter.
O líder americano havia anunciado na semana passada a aplicação de uma tarifa de 5% sobre a importação de todos os produtos procedentes do México. As taxas entrariam em vigor na próxima segunda-feira (10/06) – sendo reajustadas até chegarem a 25% em outubro – se o país vizinho não tomasse medidas para conter o fluxo migratório vindo da América Central.
Diante da ameaça, o ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, e outras autoridades do país viajaram a Washington, onde conseguiram costurar um acordo após três dias de intensas negociações no Departamento de Estado americano.
Sob o pacto, o México concordou em acolher migrantes que cruzarem a fronteira entre os dois países de forma irregular – a maioria centro-americanos de nações como Guatemala, Honduras e El Salvador – enquanto os Estados Unidos processam seus pedidos de refúgio.
"Aqueles que cruzarem a fronteira sul dos Estados Unidos para pedir asilo serão rapidamente devolvidos ao México, onde poderão esperar a resolução de seus pedidos", afirmaram os governos mexicano e americano em comunicado.
"O México autorizará a entrada de todas essas pessoas por razões humanitárias, em cumprimento de suas obrigações internacionais, enquanto aguardam a resolução de seus pedidos de refúgio. O México também lhes oferecerá emprego, saúde e educação de acordo com seus princípios."
Por outro lado, o governo mexicano conseguiu evitar uma proposta que vinha rejeitando continuamente: a de processar solicitações de refúgio em seu próprio território antes que os migrantes tentem chegar aos Estados Unidos.
O país se comprometeu, contudo, a "tomar medidas sem precedentes para impedir a imigração irregular" e "para desmantelar as organizações de tráfico de pessoas e suas redes ilícitas de financiamento e transporte".
Os governos dos dois países também concordaram em adotar "medidas adicionais" caso as estipuladas agora "não apresentem os resultados esperados" nos próximos 90 dias.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que havia anunciado uma viagem à cidade de Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos, para "defender a dignidade do México" antes das tarifas americanas, disse que sua visita será agora para "celebrar".
"Graças ao apoio de todos os mexicanos fomos capazes de evitar tarifas sobre os produtos mexicanos exportados para os Estados Unidos", escreveu no Twitter o presidente esquerdista, que desde sua eleição no ano passado vem tentando cautelosamente não contrariar Trump.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, agradeceu ao México e ao ministro das Relações Exteriores do país pelo "trabalho duro" durante os três dias de negociações do acordo.
"Os Estados Unidos esperam trabalhar em conjunto com o México para cumprir esses compromissos, para que possamos conter a onda de migração ilegal na nossa fronteira sul e para tornar a nossa fronteira forte e segura", disse o americano.
Segundo o governo mexicano, 300 mil migrantes já chegaram ao país a partir da Guatemala desde o início do ano, e 51 mil deles foram detidos – o que representa um aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2018.
Já na fronteira entre o México e os Estados Unidos, as autoridades americanas detiveram mais de 132 mil migrantes somente em maio, um crescimento de 30% em relação a abril e o maior número registrado em um único mês desde 2006.
Trump acusa o México de tomar pouca ou nenhuma atitude para travar esses migrantes, que têm se movido em grandes grupos pelo país rumo aos Estados Unidos. Por isso ameaçou retaliar com tarifas sobre produtos importados.
O México exporta 350 bilhões de dólares em mercadorias todos os anos para os Estados Unidos. Analistas previam que as taxas de Trump poderiam colapsar a economia mexicana, que entraria em risco de recessão.
Mas a imposição de tarifas também encontrou forte oposição nos Estados Unidos, por parte de políticos do próprio Partido Republicano de Trump, em especial parlamentares de estados onde a agricultura é relevante, que temiam perder seu segundo maior mercado internacional.
Em seu mandato, o ex-presidente americano Donald Trump prometeu construir um muro entre EUA e México. Mas, muito antes disso, esta fronteira já havia sido foco de filmes espetaculares. Veja a lista.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
John Wayne em guerra
Em meados do século 19, EUA e México entraram em guerra sobre o estado do Texas, que pertencia aos mexicanos, mas foi anexado pelos americanos. A longa disputa foi muitas vezes retratada por Hollywood nos faroestes que detalhavam os violentos conflitos entre colonos americanos e o Exército mexicano. Entre os mais espetaculares está "Álamo" (1960), estrelado por John Wayne e Richard Widmark.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
Dietrich e a fronteira
Em 1958, Marlene Dietrich fez uma breve aparição no brilhante suspense "A marca da maldade". O diretor Orson Welles, que teve o papel principal no filme, fez da região fronteiriça entre México e EUA o cenário para falar sobre corrupção, tráfico de drogas e outros crimes.
Foto: picture-alliance/United Archives/IFTN
"Rio Bravo"
Quando John Wayne apareceu em "Álamo", a grande era do faroeste americano estava quase no fim. Mas, quando o gênero cresceu na década de 1950, muitos faroestes se passaram na fronteira entre Texas, Novo México e Arizona de um lado, e o México, do outro. Um marco simbólico era o rio Grande que, localizado nesta fronteira, rendeu o título do legendário filme do diretor John Ford, de 1950.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
A fronteira em faroestes posteriores
No entanto, a fronteira entre os dois países conseguiu manter sua importância em numerosos faroestes lançados posteriormente. A região desempenhou um papel de destaque em "Meu ódio será tua herança" (1969), do diretor Sam Peckinpah, um épico do faroeste selvagem com muito sangue e que enfoca a ilegalidade em uma terra esquecida.
Foto: Imago/Entertainment Pictures
Variações modernas
O diretor americano Robert Anthony Rodriguez tem uma paixão pela região de fronteira, o que talvez se deva às suas raízes mexicanas. Muitos de seus filmes reproduzem o choque de culturas nesta região fronteiriça. Seu filme "Um drink no inferno", de 1996, viu Quentin Tarantino e George Clooney encenando irmãos que roubam bancos e que tentam fugir para o México.
Foto: picture-alliance/United Archives
Não há lugar para envelhecer
Ganhador de vários Oscars em 2008, entre eles o de melhor filme e direção, "Onde os fracos não têm vez" foi dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen. A produção aborda as drogas, máfia, assassinatos e fraudes. O filme se passa na fronteira entre EUA e México – um lugar perigoso, onde a morte é comum e poucos envelhecem.
Foto: picture-alliance/dpa/Paramount Pictures
Ao sul de Albuquerque
Albuquerque, no Novo México, é o cenário da extremamente popular série de televisão "Breaking Bad", que foi produzida entre 2008 e 2013. Ela enfoca histórias na região envolvendo drogas. Ao sul de Albuquerque, fica a lendária fronteira entre Estados Unidos e México.
Foto: Frank Ockenfels 3/Sony Pitures
O lado obscuro do comércio
No filme "Desaparecidos" (2007), o diretor alemão Marco Kreuzpaintner escolheu contar a história de crianças mexicanas que atravessam a fronteira para os Estados Unidos como parte do tráfico de escravos sexuais. A estrela de Hollywood Kevin Kline desempenhou o papel principal.
Foto: picture-alliance/kpa
Guerra de drogas na fronteira
"Sicario: terra de ninguém" examina o impacto das guerras do narcotráfico na área de fronteira entre Arizona e México. O cineasta canadense Denis Villeneuve fez o agitado suspense em 2015, tendo Benicio del Toro no papel principal. A obra foi filmada no sul do Arizona.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Lionsgate/Richard Foreman Jr.
Filmes sobre drogas
A questão do narcotráfico parece atrair diretores de forma mágica. Em 2013, o cineasta britânico Ridley Scott filmou um suspense também nesta região fronteiriça. "O conselheiro do crime", estrelado por Brad Pitt e Michael Fassbender, foi filmado em El Paso, no Texas, e na Espanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Crime e política
Há 17 anos, o diretor Steven Soderbergh lançou o renascimento dos filmes sobre a guerra das drogas. Em "Traffic", ele retrata a complexa relação entre polícia, traficantes e políticos – cujos laços uns com os outros estão indissociavelmente interligados para além das fronteiras geográficas.
Foto: picture-alliance/United Archives
Histórias de detetive
Além de faroestes e suspenses sobre drogas, inúmeras histórias de detetives e assassinatos misteriosos decorrem na fronteira entre EUA e México. Um clássico do gênero é o filme "O perigoso adeus" (1973), de Robert Altman, baseado em um romance de Raymond Chandler. O filme foi gravado na Califórnia, mas também em Tepoztlán, no México.
Foto: picture-alliance/United Archives/Impress
A fronteira em tempos de globalização
Em 2006, o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu filmou o drama narrativo múltiplo "Babel". A obra traça os destinos entrelaçados de várias pessoas de diferentes regiões do mundo, e é uma parábola cinematográfica sobre a questão do significado da fronteira para as pessoas em tempos de globalização.
Foto: picture alliance/kpa
Comédia de fronteira
Não há muito o que rir quando se trata de uma fronteira. A maior parte dos filmes que lida com os laços entre EUA e México tendem à seriedade. Mas, em 2004, James L. Brooks fez a comédia "Espanglês" sobre um encontro com muito clichê entre um americano rico (Adam Sandler) e uma faxineira mexicana (Paz Vega).
Foto: picture-alliance/United Archives
Drama sobre imigração
Nos últimos anos, mais e mais filmes foram produzidos sobre imigração e pobreza na região. No ano passado, a coprodução Alemanha-França-México "Soy Nero" estreou na Berlinale. O diretor Rafi Pitts, com raízes iranianas, conta a história de um jovem mexicano que atravessa a fronteira para os EUA em busca de uma vida melhor.
Foto: picture-alliance/dpa/Neue Visionen
Um clássico moderno
Talvez o filme mais impressionante sobre a imigração do Sul para o Norte tenha sido feito por Cary Fukunaga, em 2009. "Sem identidade" retrata o destino de vários jovens do México que estão tentando chegar aos EUA. Enquanto alguns estão tentando escapar de bandos criminosos de suas cidades, outros procuram o paraíso na Terra.