Trump tem poucos fãs na Europa
3 de novembro de 2016Na Europa, as únicas construções que levam o nome de Donald Trump ficam na parte europeia de Istambul. A popularidade das duas torres, no entanto, tem caído dramaticamente desde o ano passado, quando o candidato presidencial republicano transformou a proibição de entrada de muçulmanos nos EUA em tema de campanha. Desde então, políticos turcos têm tentado retirar o nome Trump dos arranha-céus.
A Trump Organization também opera campos de golfe na Escócia e Irlanda. Esses são os dois únicos pontos de contato entre o magnata e a Europa. O campo de golfe perto de Aberdeen, que o candidato republicano elogiou como "feito por Deus" devido à sua localização pitoresca, tem sido motivo de vários processos judiciais e dores de cabeça para investidores e até mesmo para o governo escocês.
Na verdade, a Trump Organization nunca investiu a quantidade de dinheiro que prometeu, e o número de empregos criados foi muito menor que o planejado. Mas isso não impediu o milionário de afirmar que havia "conquistado a Escócia" durante uma visita em junho. Na ocasião, ele falou que faria o mesmo na eleição presidencial americana.
Em tempos bons e ruins
O eurodeputado alemão David McAllister, que tem raízes escocesas, resumiu assim o candidato republicano: "Aqui na Europa, Donald Trump é um grande desconhecido. Não sabemos muito sobre ele. Não sabemos muito sobre sua política externa, porque ele raramente fala sobre isso. E, francamente, quando ele entra em detalhes, soa assustador." McAllister preside um grupo parlamentar que trata das relações com os EUA.
"Conhecemos, naturalmente, muito melhor Hillary Clinton. Ela acredita numa relação transatlântica forte. Sem dúvida, podemos alcançar muito junto com ela." Muitos dos atuais políticos europeus conhecem Clinton da época em que foi secretária de Estado.
Até o momento, a maioria dos presidentes democratas e republicanos se comprometeu firmemente em apoiar a Otan como fator de estabilidade. Mas Trump tem questionado a relevância da aliança militar. Ele afirma que só a manterá se a Alemanha, por exemplo, pagar pela própria segurança. Diplomaticamente, McAllister tenta formular as suas expectativas: "A União Europeia e os EUA possuem laços fortes e estreitos. Devemos nos concentrar em reforçá-los ainda mais, não importa qual seja o resultado eleitoral. Temos de estar preparados para tanto para bons quanto para maus tempos."
Nenhum candidato a papa
Mas também há alguns fãs de Trump em Bruxelas, especialmente entre os populistas de direita. O eurodeputado britânico Nigel Farage tem aparecido em comícios de Trump. Farage saiu vitorioso na votação do Brexit. Ele queria um Reino Unido mais independente e enfatizou o nacionalismo justamente da mesma forma que Trump tem feito nos EUA: primeiro o Reino Unido, primeiro os EUA. Para Farage, os comentários sexistas do candidato republicano e seu temperamento machista, algo que está custando a Trump os votos do eleitorado feminino, são pecados perdoáveis.
"Pelo menos há honestidade em Trump", afirmou Farage em entrevista à emissora Fox News. "Quer você goste ou não, ele é o que é. E ele não está se candidatando para ser papa, ele está concorrendo para ser presidente dos EUA. Ele é um ser humano. Todo ser humano tem suas falhas."
O político britânico disse ainda que ninguém sabe que segredos Hillary ainda pode estar escondendo. Trump saudou a decisão britânica de deixar a União Europeia. Ele vê o bloco como ultrapassado e a Alemanha como um refúgio de terrorismo e violência.
"Deus nos ajude"
O tom estridente da eleição americana, que não parece precisar de fatos ou mesmo de temas substanciais, tem provocado reações incomuns na Alemanha – por parte até mesmo de ministros com muito tempo de serviço. O responsável alemão pela pasta das Finanças, Wolfgang Schäuble, mencionou ter acompanhado o segundo debate entre Hillary e Trump ao falar com a mídia após um encontro ministerial em Luxemburgo. Durante o debate, Trump ameaçou prender Hillary, caso fosse eleito presidente. "Eu assisti ao debate na TV. Eu simplesmente relaxei e desfrutei a era da política pós-fatual. Se isso se tornar o princípio orientador de como tomamos decisões políticas, Deus nos ajude quando se trata da democracia e do Estado de direito", advertiu Schäuble.
O ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, também abandonou seu tom reservado habitual, chamando Trump de um "pregador do ódio". O ministro coloca o republicano, que se diz convencido de que as eleições americanas são manipuladas, na mesma categoria de populistas de esquerda e de direita na Europa. "Olhe para este falastrão Donald Trump nos EUA. Essas pessoas têm todas uma coisa em comum: elas mexem com os medos da população", denunciou Steinmeier ao discursar em praças por toda a Alemanha.
Falta de substância
O conservador McAllister tem observado de perto as eleições presidenciais americanas, levantando-se até mesmo no meio da noite para acompanhar os debates na TV. Ele afirmou ter ficado espantado com o que os candidatos estavam realmente falando. E-mails, escândalos e uma linguagem forte? Enquanto tantos problemas em lugares como Síria, Iraque, Afeganistão, Ucrânia e Rússia precisam ser abordados?
"Em minha opinião, as questões que abordaram eram irrelevantes. Eu preferiria que tivessem falado sobre problemas políticos sérios durante os debates presidenciais. Algumas das coisas que saíram da boca do candidato republicano são realmente motivo de preocupação", concluiu o parlamentar europeu.