Desde o início da pandemia, presidente americano vinha se recusando a aparecer de máscara. Agora ele cede à pressão, no mesmo dia em que o país registra novo recorde de casos diários, com mais de 66 mil novas infecções.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou máscara pela primeira vez em público neste fim de semana, finalmente cedendo à pressão para que ele dê exemplo de saúde pública aos americanos em meio à epidemia de coronavírus que atinge duramente o país.
As imagens de Trump vestindo uma máscara facial de cor escura, durante uma visita a um hospital militar, surgem no mesmo dia em que os EUA bateram um novo recorde de casos diários de covid-19, registrando mais de 66 mil infecções em apenas 24 horas.
O presidente americano voou de helicóptero neste sábado (11/07) para o Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, nos arredores de Washington, para um encontro com militares infectados pelo novo coronavírus e com profissionais de saúde que prestam cuidados aos doentes.
Quando deixou a Casa Branca, Trump disse aos repórteres: "Quando se está em um hospital especialmente, penso que é esperado que se use uma máscara." Ele apareceu usando o equipamento de proteção no corredor do Walter Reed, quando começou sua visita, mas não o vestia quando desembarcou do helicóptero, nas instalações.
O presidente ainda não havia usado máscara em público desde o início da epidemia nos Estados Unidos, que tiveram seu primeiro caso confirmado em janeiro. Ao todo, o vírus já infectou mais de 3,2 milhões de pessoas e matou pelo menos 134 mil no país.
Outros políticos republicanos de alto escalão, como o vice-presidente Mike Pence e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, passaram a aderir ao uso da máscara nos últimos tempos, à medida que o novo coronavírus ganhava terreno.
Pessoas próximas de Trump disseram à agência de notícias Associated Press (AP), em condição de anonimato, que o presidente temia que uma máscara o fizesse parecer fraco e desviasse o foco para a crise de saúde pública, no lugar da recuperação econômica.
Embora não usasse o equipamento de proteção, ele enviou diferentes sinais sobre máscaras, reconhecendo que estas eram apropriadas se usadas em um ambiente fechado onde o distanciamento social não pudesse ser garantido.
Trump, porém, chegou a acusar jornalistas de as usarem para se mostrarem politicamente corretos e publicou mensagens no Twitter debochando do democrata Joe Biden, seu adversário nas eleições presidenciais deste ano, por usar máscara e insistindo que o rival parecia fraco.
O uso de máscaras tornou-se, assim, outra linha divisória na política americana, com republicanos mais resistentes a usá-las do que os democratas. Poucas máscaras foram vistas nos recentes comícios de Trump em Tulsa (Oklahoma), Phoenix (Arizona) e Mount Rushmore (Dakota do Sul).
A única vez em que se soube que o presidente usou máscara foi durante um momento privado, em uma visita a uma fábrica da Ford no Michigan, em maio. Na ocasião, ele se recusou a vestir a proteção em público porque disse que não queria dar esse prazer à imprensa.
Nas última semanas, várias pessoas próximas ao líder americano tiveram resultado positivo para covid-19. Uma delas é Kimberly Guilfoyle, namorada de seu filho Donald Jr. Ela foi diagnosticada pouco antes do comício de Trump em Mount Rushmore, em 3 de julho, e o casal precisou entrar em quarentena.
Os Estados Unidos, país mais atingido pela pandemia no mundo, têm batido recordes de casos quase todos os dias. Neste sábado, foram 66.528 novas infecções registradas, segundo a Universidade Johns Hopkins. Em quatro dos últimos cinco dias, o país somou mais de 60 mil casos diários.
As infecções por coronavírus disparam em alguns estados, como a Flórida, onde a Disney reabriu dois de seus quatro parques temáticos em Orlando neste fim de semana. Neste domingo, o estado bateu recorde de novos casos, com mais de 15,3 mil ocorrências em apenas um dia.
O mundo também registrou um novo recorde de casos neste domingo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram 230.370 infecções em 24 horas, com os maiores aumentos registrados nos EUA, Brasil, Índia e África do Sul. O recorde anterior era de 10 de julho, com 228.102 casos. Ao todo, mais de 12,7 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus em 188 países e territórios, e mais de 566 mil morreram.
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.