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Trump visita Reino Unido em meio a caos político

3 de junho de 2019

Agendada há meses, visita oficial visava reforçar parceria entre os dois países após o Brexit. Mas o adiamento da saída do país da UE e a renúncia da primeira-ministra May modificaram o contexto.

Elizabeth 2ª recebe Trump e Melania no Palácio de Buckingham
Agenda de Trump no Reino Unido começou com almoço oferecido pela rainha Elizabeth 2ªFoto: Getty Images/AFP/T. Melville

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou nesta segunda-feira (03/06) sua segunda viagem oficial ao Reino Unido, em meio a várias crises políticas que afetam os governos dos dois lados do Atlântico.

Essas visitas oficiais ocorrem a convite da rainha Elizabeth 2ª, que toma a decisão após consultar o governo, e costumam ser grandes ocasiões repletas de cerimônias – como um desfile em carruagem pelas ruas de Londres e um banquete no Palácio de Buckingham – além de também serem usadas pelo governo britânico para fazer avançarem seus próprios interesses.

A situação política no Reino Unido faz com que a chegada de Trump ocorra em circunstâncias peculiares. Ao anunciar a visita em abril, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse se tratar de uma oportunidade para reforçar o relacionamento já próximo em áreas como o comércio, investimento, segurança e defesa, e discutir como reforçar ainda mais esses laços nos próximos anos.

A visita de três dias de duração ocorre no âmbito das comemorações do 75º aniversário do Dia D, quando as forças aliadas invadiram a Normandia ocupada na Segunda Guerra Mundial, iniciando o que se considera como o princípio do fim do domínio nazista na Europa.

Mas, desde o anúncio da visita, o impasse político em torno do Brexit se agravou com fracasso do governo de May ao tentar resolver a crise, e resultou no adiamento da saída do país da União Europeia (UE) de 29 de março para 31 de outubro. A poucos dias da chegada do ilustre visitante americano, ela acabaria anunciando que deixará o cargo dia 7 de junho, dois dias após Trump retornar a Washington.

"O significado da visita mudou desde que foi proposta e a data acertada", observa Matthew Cole, professor de história da Universidade de Birmingham. "O propósito inicial pode ter sido demonstrar apoio da maior economia do mundo ao Reino Unido após o país deixar a UE. Nada disso se materializou."

"Nesse vácuo de relevância, a imprevisibilidade do comportamento de Trump poderá se tornar muito importante – por exemplo, com quem ele manterá encontros privados? Será que se encontrará com [o líder do partido do Brexit] Nigel Farage ou [o conservador cotado para substituir May] Boris Johnson", questionou Cole.

No fim de semana, Trump, em entrevista ao tabloide britânico The Sun, manifestou apoio a Johnson como novo líder conservador e disse,que ele seria um "excelente" primeiro-ministro britânico. "Na verdade, eu estudei a coisa a sério, conheço os vários candidatos. Mas creio que Boris faria um trabalho bom. Creio que seria excelente. Gosto dele, sempre gostei dele", disse o americano, qualificando o ex-ministro do Exterior como um político "muito talentoso".

Acompanhado de sua esposa Melania, presidente dos EUA, Donald Trump, chega ao Reino Unido para visita de três diasFoto: Reuters/H. McKay

Após os protestos realizados na primeira passagem de Trump pelo país, os manifestantes prometem mobilizar novamente um grande número de pessoas no que chamaram de "atmosfera carnavalesca", inclusive com o retorno do boneco inflável gigante do "bebê Trump", que ficou bastante conhecido durante a primeira passagem do americano pelo país.

Shaista Aziz, integrante do grupo Stop Trump Coalition, diz que os protestos não são apenas em relação à presença do americano, mas cobrem uma variedade de temas como a negação à crise do clima, atribuição de culpa aos migrantes e refugiados, aumento do racismo aberto, retrocessos nos direitos das mulheres, ataques a transexuais e gays, entre outros.

A impopularidade da visita de Trump reforça a instabilidade do momento político atual nos dois lados da parceria transatlântica. Em seu país, Trump enfrenta diversas crises internas e é alvo de graves denúncias por parte oposição democrata, que o acusa de obstrução da Justiça. Questões como a disputa comercial com a China e as controversas políticas migratórias adotadas por Washington também deixam o presidente sob forte pressão.

No primeiro dia da visita oficial, Trump foi recebido pela rainha Elizabeth 2ª, pelo príncipe Charles e sua esposa, Camilla, no Palácio de Buckingham. O presidente e a primeira-dama chegaram aos jardins do palácio no helicóptero Marine One dos EUA.

Assim que o helicóptero pousou, Charles e a sua esposa se aproximaram para dar as boas-vindas a Trump e Melania. Após as honras de rigor, Elizabeth 2ª ofereceu aos convidados um almoço na residência real. Também estavam presentes a filha do presidente Ivanka Trump e seu marido, o assessor presidencial Jared Kushner.

Boneco inflável "bebê Trump" ficou bastante conhecido durante a primeira visita oficial de Trump ao Reino UnidoFoto: picture-alliance/ZUMA/London NEws Pictures/J. Goodman

Durante a tarde, Trump visitou a Abadia de Westminster, em Londres, acompanhado pelo duque de York, o príncipe Andrew, e deixou uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, como lembrança dos caídos nas duas Guerras Mundiais e outros conflitos bélicos mais recentes. Em seguida, o presidente tomou chá com Charles e Camilla na residência do casal real em Londres.

Elizabeth 2ª ofereceu ainda um jantar de Estado em homenagem ao presidente. Para esse banquete foram convidados membros do governo e destacadas personalidades, mas políticos como o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, e o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, rejeitaram o convite.

Na terça-feira, Trump se encontrará com May e participará de um evento com empresários americanos e britânicos. No último dia de sua visita, o presidente tomará parte na cerimônia em homenagem ao Dia D na cidade de Portsmouth.

Apesar das honras com as quais o americano é recebido em Londres, a visita possui algumas anormalidades, como o presidente da Câmara Baixa do Parlamento, John Bercow, afirmando que se opõem "com veemência" a um discurso de Trump no Parlamento britânico – algo bastante habitual – em razão e suas posições racistas e sexistas.

Logo ao chegar em solo britânico, Trump recorreu ao Twitter para criticar o prefeito de Londres, Sadiq Khan, reavivando as animosidades entre ambos. No domingo, o prefeito publicou um artigo na imprensa comparando o americano aos ditadores dos anos 1930 e 1940.

Khan, um muçulmano filho de imigrantes paquistaneses, criticou Trump pelo "uso deliberado da xenofobia, racismo e alienação como tática eleitoral" e se disse contra o tratamento pomposo que o governo britânico dedica ao americano. 

Trump rebateu, dizendo que o Khan é um "perdedor de marca maior" que fez um "trabalho horrível como prefeito de Londres", que fracassou ao combater o crime e o terrorismo na cidade. A assessoria do prefeito disse que "insultos infantis" não combinam com a postura de um presidente dos EUA.

RC/CN/dpa/afp/dw

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