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Tsipras inicia governo em rota de colisão com UE

28 de janeiro de 2015

Retrocesso nas medidas de austeridade acordadas e obstáculo a novas sanções contra Rússia, quebrando consenso europeu, inauguram primeiro dia do esquerdista em Atenas. Mercados financeiros reagem com brusca queda.

Griechenland erste Sitzung des neuen Kabinetts 28.01.2015
Foto: Reuters/M. Djurica

O novo primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, inaugurou seu primeiro dia de governo, nesta quarta-feira (28/01), mantendo o tom exaltado de sua campanha eleitoral, ao anunciar medidas desafiadoras à autoridade da União Europeia, colocando o país em franco curso de colisão com seus parceiros no bloco.

"Nosso povo já sofreu muito e exige respeito. Temos de sangrar para defender a sua dignidade", declarou na primeira reunião com seu gabinete de ministros. O principal alvo da resistência de Atenas são as medidas de austeridade e reformas impostas por seus credores internacionais e já acordadas.

Essas imposições foram a contrapartida de um programa de resgate da dívida grega, no montante de 240 bilhões de euros, bancado pela chamada "troica", formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

Privatizações congeladas

Voltando atrás no compromisso de liberalizar o mercado de energia grego, assumido com a troica, Tsipras congelou os planos de privatizar a companhia estatal PPC, a maior do país no setor.

Foram canceladas também a privatização da empresa ferroviária nacional Trainose, e a venda de 67% das ações de Pireu, o principal porto grego. Participam da reta final dessas negociações o grupo estatal chinês Cosco – a quem já pertence uma parte do porto – e quatro outros conglomerados.

Atenas pretende, ainda, aprovar imediatamente a elevação do salário mínimo para 751 euros mensais, o aumento das pensões dos baixos assalariados e a readmissão de milhares de funcionários públicos demitidos. Além de uma série de reformas, o novo governo de esquerda-direita prometeu "propostas realistas para a economia", com o fim de combater a evasão fiscal e a corrupção.

Na bolsa de valores de Atenas, os investidores reagiram negativamente aos anúncios do governo desta quarta-feira, com queda de 7,5% nas cotações – após uma desvalorização de 11% na véspera. Os títulos das empresas financeiras gregas perderam mais de 17%. Desde a campanha eleitoral, a bolsa de valores grega já perdeu vários bilhões de euros.

Gabinete de Alexis Tsipras (c) após primeira reunião em AtenasFoto: Reuters/A. Konstantinidis

"Não" a novas sanções contra Rússia

Tsipras também bateu de frente com a UE num tópico crucial da política externa europeia. Alegando não ter sido consultado, ele se recusou a aderir a uma declaração dos chefes de Estado e governo do bloco sobre um eventual endurecimento das sanções econômicas contra Moscou, em represália à participação russa na guerra civil da Ucrânia.

Visando acelerar a tomada de resoluções entre seus 28 países-membros, em casos como esse a UE adota o procedimento de aprovação tácita: a decisão é comunicada por carta aos respectivos governos, acompanhada de um prazo para eventuais ressalvas. Caso não as apresentem, isso equivale a seu consentimento formal.

Especula-se que possa ter ocorrido um mal entendido, devido à não familiaridade do novo governo grego com o procedimento da UE. Outros observadores chegam a falar em chantagem por parte do líder do Syriza.

Apoio grego a Vladmir Putin?Foto: Getty Images/AFP/Y.Kadobnov

Ao se queixar por telefone ao encarregado de política externa da Comissão Europeia, Tsipras teria afirmado que só colaborará com futuras decisões políticas se a UE ceder às exigências gregas de melhores condições no bilionário plano de resgate ao orçamento nacional. Além disso, as alas mais radicais do Syriza defendem uma maior proximidade política com a Rússia e seu presidente, Vladimir Putin.

"Mudanças radicais" sem "choque catastrófico"

Tsipras prometeu "mudanças radicais" na forma de fazer política na Grécia, abandonando a "subserviência" dos governos anteriores. Ao mesmo tempo, assegurou não querer provocar um "choque catastrófico extremo" nas negociações da dívida com seus credores internacionais.

"Nossa prioridade é apoiar a economia, para ajudá-la a retomar o impulso. Estamos prontos para negociar com nossos parceiros, a fim de reduzir o débito e encontrar uma solução justa e viável", declarou o premiê aos ministros recém-empossados.

Vitorioso nas eleições do último domingo, a legenda Syriza, de Tsipras, ficou aquém da maioria absoluta no Parlamento de 300 postos por apenas dois assentos. Por isso formou uma coalizão de governo com o Gregos Independentes, de orientação populista de direita.

AV/rtr/dpa/afp/lusa

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