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Tsipras recorre à oposição para aprovar resgate

14 de agosto de 2015

Terceiro acordo financeiro com credores internacionais é aprovado por grande maioiria no Parlamento, mas ruptura no Syriza e na coalizão do governo indicam que primeiro-ministro pode enfrentar em breve novas eleições.

Foto: Reuters/C. Hartmann

Após uma noite de debates, o Parlamento grego aprovou, nesta sexta-feira (14/08), o novo acordo com os credores internacionais. Em um Parlamento dividido, o primeiro-ministro Alexis Tsipras obteve a vitória graças a vários votos de legisladores da oposição favoráveis ao pacote de resgate, de cerca de 85 bilhões de euros.

Dirigindo-se ao Parlamento antes da votação, Tsipras pediu aos legisladores que fizessem a "escolha necessária" para a nação grega, advertindo fortemente contra a opção de um empréstimo temporário, que recolocaria a Grécia "numa crise sem fim".

"Não me arrependo de ter escolhido por um compromisso em detrimento à dança heroica de Zalongo", disse Tsipras, se referindo ao suicídio em massa no século 19, no norte da Grécia, quando um grupo de mulheres e crianças preferiu pular de um precipício a se submeterem à ocupação otomana.

Uma maioria de 222 parlamentares aprovou o documento de 400 páginas, com 64 votos contrários, além de 11 abstenções. No entanto, a votação mostrou uma ruptura dentro do governo Tsipras. Somente 118 dos 162 membros da coalizão votaram a favor do acordo com as instituições internacionais – o terceiro em cinco anos.

Ou seja, o apoio a Tsipras entre sua própria bancada esteve abaixo da margem limite de 120 parlamentares necessários no Legislativo de 330 assentos para governar o país.

Coalizão do governo estaria com tempo esgotado? Premiê Alexis Tsipras precisou de votos da oposição para aprovar o pacote de resgate financeiroFoto: Reuters/C. Hartmann

Tsipras continuará a liderar o governo até a primeira remessa do resgate financeiro ter sido paga e, em seguida, deverá comparecer perante o Parlamento para pedir por um voto de confiança. A oposição conservadora Nova Democracia já anunciou que não votará a favor do premiê.

Além disso, parlamentares antiausteridade do próprio partido de Tsipras, o Syriza, sinalizaram que vão pedir por eleições antecipadas já no próximo mês.

"A luta contra o novo resgate começa hoje, através da mobilização de pessoas em todos os cantos do país", disse um comunicado assinado por Panagiotis Lafazanis, ex-ministro de Tsipras, e outros 11 membros do Syriza.

"Sinto-me envergonhado por você", disse Lafazanis, olhando em direção a Tsipras durante o debate parlamentar. "Nós já não temos mais uma democracia, mas uma ditadura da zona do euro", concluiu.

Na votação, ao menos 40 partidários do Syriza, entre eles o ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, se recusaram apoiar o acordo de três anos.

Dívida vence em uma semana

Atenas e credores chegaram ao acordo na terça-feira, após 23 horas de reunião. O acordo prevê cortes de gastos e aumento de impostos. Na quinta-feira, o ministro das Finanças grego, Euclid Tsakalotos, havia ressaltado a urgência da aprovação do acordo pelo Parlamento em Atenas para que os ministros das Finanças da zona do euro pudessem discuti-lo ainda nesta sexta-feira.

A votação em Atenas, no entanto, teve um atraso devido a uma disputa processual. A chefe do Parlamento, Zoe Constantopoulou, queria impedir a votação, classificando o pacote de resgate como inconstitucional.

"Cada esquina e beleza da Grécia está sendo vendida. O governo está entregando as chaves à troica, juntamente com a soberania e bens nacionais", disse ela, se referindo aos credores gregos – União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

O pacto ainda precisará passar por uma série de parlamentos, incluindo o alemão. A conclusão do acordo abrirá caminho para a Grécia liquidar uma dívida de 3,2 bilhões de euros com o BCE, que vence na próxima quinta-feira. Caso Atenas não honre o débito, o BCE pode cortar a ajuda ao país, o que poderia significar o colapso da economia grega.

Ainda na quinta-feira, o FMI pressionou a Europa por um alívio da dívida grega. A instituição afirmou que só tomará uma decisão sobre conceder mais ajuda à Grécia depois que passos sejam tomados para tornar a dívida mais sustentável.

PV/afp/dpa/ap/rtr

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