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Tudo como dantes no quartel da Bundesliga

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
7 de julho de 2020

Desde 2013, o Bayern prevalece graças à sua competência administrativa e à qualidade indiscutível do seu elenco. E há fortes indícios de que os poderosos de Munique ainda darão as cartas na Alemanha por alguns anos.

Jogadores do Bayern comemoram título em junho de 2020Foto: Reuters/K. Pfaffenbach

Houve uma época em que o título de campeão alemão era decidido na última rodada, e não faz tanto tempo assim. Em 2000, por exemplo, o Leverkusen entrou em campo contra o Unterhaching precisando apenas de um empate para erguer a salva de prata pela primeira vez em sua história. Uma atuação catastrófica, com direito a gol contra de Michael Ballack, enterrou os sonhos do time da Aspirina, que mais uma vez viu o Bayern levar a melhor.

Um ano depois, em 2001, a última rodada rendeu lágrimas e ranger de dentes a milhares de torcedores do Schalke 04. Os "azuis reais" fizeram sua lição de casa ao derrotar o Unterhaching por 5 a 3, e já estavam festejando o título inédito da Bundesliga porque o Bayern perdia para o Hamburgo por 1 a 0. Jogo encerrado em Gelsenkirchen, a torcida invadiu o gramado e, extasiada, comemorou a conquista que seria inédita. Só que em Hamburgo ainda faltava um minuto para o fim do jogo, e foi nesse minuto fatal que os bávaros conseguiram empatar. Literalmente tiraram o pão da boca do Schalke e abocanharam mais uma vez o título.

Tudo isso sem contar que os assim chamados "pequenos" se enchiam de brios ao ter que encarar o imensamente superior Bayern. Era a hora e a vez dos modestos operários do futebol de times da região do Ruhr, como Bochum ou Bielefeld, compensarem sua inferioridade técnica com uma porção extra  de garra, atrevimento e audácia. Em 2002, por exemplo, o icônico St. Pauli derrotou o Bayern, então campeão da Copa Intercontinental de Clubes. Tem torcedor da velha guarda desse bairro boêmio de Hamburgo que até hoje se lembra do triunfo com os olhos cheios de lágrimas. Em botecos de St. Pauli há faixas estendidas até hoje onde se lê: "Vencemos os campeões do mundo."        

Nos anos seguintes, pelo menos até 2012, ainda houve alguma alternância no poder do futebol alemão com Borussia Dortmund, Werder Bremen, Stuttgart e Wolfsburg levando a melhor sobre os poderosos de Munique. De 2013 para cá, porém, não tem para mais ninguém.

Desde então, ano após ano, o Bayern prevalece graças à sua competência administrativa e à qualidade indiscutível do seu elenco. Por outro lado, é bom não esquecer que na última temporada ficou ainda mais evidente a fragilidade dos times concorrentes, especialmente aqueles que, ao menos em teoria, poderiam fazer frente ao todo poderoso.

Basta lembrar que nas primeiras 20 rodadas do campeonato encerrado há pouco mais de uma semana, houve diversos times se alternando na liderança. Borussia Dortmund, Borussia M'Gladbach e Leipzig em algum momento pontearam a tabela. O Leipzig até levou o título decorativo de campeão do primeiro turno. Houve uma situação durante a campanha em que o Bayern figurava em sétimo lugar na classificação geral.

Durante a campanha de 2018/2019, o Dortmund chegou a liderar a tabela com nove pontos de vantagem sobre os comandados de Niko Kovac, então treinador dos bávaros que no fim acabaram levando a salva de prata com dois pontos de vantagem sobre os aurinegros.

Em 2019/2020, Leipzig terminou o primeiro turno na liderança com quatro pontos à frente do Bayern e acabou apenas em terceiro lugar, 16 pontos atrás do novo (velho) campeão. Qual é, afinal, o problema dos concorrentes, principalmente daqueles que poderiam fazer frente, ou ao menos tornar a disputa mais equilibrada desse campeonato? Um campeonato cantado em prosa e verso por sua organização, suas torcidas, seus estádios e agora, alvo de sarcasmo por conta de sua monotonia.

É sempre mais do mesmo, e isso não apenas na luta pelo título. Três rodadas antes do encerramento da temporada, os primeiros seis colocados na tabela eram exatamente os mesmos seis do ano anterior com uma agravante – praticamente na mesma ordem. Apenas Leverkusen e Gladbach trocaram suas posições. O único novato das sete vagas disponíveis para as competições europeias é o Hoffenheim, que tomou o lugar do Eintracht Frankfurt. 

Logo depois de ter conquistado a Copa do Mundo em 1990, o então técnico da seleção alemã, Franz Beckenbauer, declarou que a Alemanha seria imbatível por muitos anos. Naquela época, ele errou.

A frase dele, contudo, cai como luva para o status quo atual do Bayern na Bundesliga. Pelo menos na Alemanha, há fortes indícios de que os poderosos de Munique ainda darão as cartas por alguns anos.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.

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