Os melhores da cultura
26 de dezembro de 2006Em termos de cultura, o ano de 2006 não poupou nem eventos nem surpresas. Celebraram-se os 250 anos de Mozart; o Nobel alemão da Literatura Günter Grass confessou, 61 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, que quando jovem pertencera à tropa de elite da SS; e a diretora geral da Deutsche Oper em Berlim excluiu do programa uma obra por temer ataques de extremistas islâmicos. Veja abaixo uma retrospectiva dos eventos culturais que sacudiram o ano que passa.
O ano de Mozart
Este foi, sobretudo, o ano de Mozart: em forma de comédia musical, peça de teatro, filme, gravações históricas, novas gravações e naturalmente um descomunal projeto operístico em Salzburgo, o compositor esteve por todos os lados. Não é para menos: em 27 de janeiro de 2006, foi celebrado o 250º aniversário de nascimento deste gênio austríaco.
150 anos de Freud
No dia 6 de maio de 1856 nascia o pai da psicanálise, Sigismund Schlomo Freud. Em 2006, a data foi celebrada nos quatro cantos do mundo com palestras, simpósios, leituras e festas. No Museu Judaico de Berlim, um bolo, um labirinto e vários divãs foram usados para compor a exposição PSYCHOanalyse, uma reconstrução da vida e obra do pensador.
Há 50 anos sem Brecht
2006 marcou os 50 anos da morte do dramaturgo alemão Eugen Bertold Brecht (1898-1956), criador do teatro épico. Um festival em homenagem ao autor contendo peças, filmes e leituras, manifestações por toda a Alemanha e a reabertura do teatro Admiralspalast, em Berlim, com sua obra mais famosa, A Ópera dos Três Vinténs, fizeram parte das celebrações.
O ano foi também jubileu das mortes de dois outros grandes artistas alemães e expoentes do Romantismo: o poeta Heinrich Heine (1797-1856) e o compositor Robert Schumann (1810-1856).
A polêmica das charges
A suposta difamação do profeta Maomé em 12 charges, publicadas primeiramente na Dinamarca, despertou grandes protestos em fevereiro. O profeta foi representado no diário Jyllands Posten em forma de bomba e como terrorista suicida, entre outras coisas. Os protestos no mundo islâmico adquiriram proporções violentas, com manifestações maciças, ameaças contra europeus e convocações ao boicote de produtos dinamarqueses.
História alemã
Em junho, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, abriu uma exposição permanente no Museu Histórico Alemão que, através de nada menos que oito mil objetos, traça um amplo panorama da história alemã – desde a época dos romanos ao longo do Reno até a queda do Muro de Berlim. Em 7,5 mil metros quadrados de superfície, estão expostos valiosos documentos, pinturas, trajes históricos, objetos de uso cotidiano e armas.
Copa da cultura brasileira
A Copa do Mundo de 2006 gerou também uma extensa programação cultural por toda a Alemanha. O principal evento brasileiro, a Copa da Cultura, teve sede em Berlim. O Brasil ganhou destaque nos palcos, em exposições, festivais de cinema e debates. Artistas de renome como Elza Soares, Caetano Veloso e Chico Buarque coloriram de vede-amarelo a copa teutônica.
A ressurreição da Love Parade
Depois de dois anos de pausa, em julho de 2006 Berlim voltou a receber a Love Parade. Segundo os organizadores, 1,2 milhão de participantes se esbaldaram na maior pista de dança ao ar livre do mundo. De acordo com a polícia, na verdade apenas 500 mil jovens participaram do evento, que durou 11 horas ao som de batidas eletrônicas.
Guggenheim em Bonn
Sensação em Bonn: em julho, uma enorme seleção de obras do acervo da Fundação Guggenheim, de Nova York, começou a ser exposta na antiga capital alemã. Na mostra, que foi considerada até a "exposição do século", são exibidos mais de 200 tesouros do império artístico Guggenheim: um curso relâmpago de história da arte do século 20. Há também uma exposição paralela, dedicada à arquitetura dos mundialmente famosos museus Guggenheim.
A confissão tardia de um escritor
Em agosto, uma entrevista sacudiu o mundo. Pouco antes da publicação de sua autobiografia, o Nobel alemão de Literatura, Günter Grass, relatou a um jornalista que aos 17 anos de idade pertenceu às tropas de elite da SS nazista. Escritores e críticos do mundo todo reagiram consternados à tardia confissão do apóstolo moral de esquerda, que por décadas não deixou passar oportunidades de condenar o passado nazista de muitos políticos.
Decapitações em cena
Em setembro, a Deustche Oper tirou do programa uma controvertida encenação da ópera Idomeneu, de Mozart, por temor reações do mundo islâmico. O diretor teve a idéia de pôr em cena Cristo, Buda, Poseidon e Maomé decapitados.
A decisão, tomada a partir de advertências da polícia, despertou um enorme debate na Alemanha em relação à liberdade artística. Em dezembro, houve duas apresentações, ambas sob rígido esquema de segurança. Ao final, nada aconteceu.
O ano cinematográfico
Em setembro, chegou aos cinemas a adaptação do best-seller internacional O Perfume, escrito por Patrick Süskind. Produzido por Bernd Eichinger e com atores de renome mundial, como Dustin Hoffman, Alan Rickman e Ben Whishaw, o diretor Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra) apresentou sua versão de grande riqueza visual.
Outro filme de sucesso este ano, que levou o Prêmio de Ouro do Cinema Alemão, foi o longa Das Leben der Anderen (A vida dos outros), do diretor Florian Henckel. O filme trata das atividades da polícia secreta da extinta República Democrática Alemã e recebeu sete Lolas nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Câmera, Melhor Cenário e Melhor Roteiro. Das Leben der Anderen foi também indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Estrangeira e é a indicação alemã para o Oscar 2006.
Popkomm à brasileira
Pela primeira vez, a Popkomm, uma das principais feiras de música da Europa, teve um país não-europeu como tema: o Brasil. Representantes de 40 empresas da indústria fonográfica brasileira e mais de 100 artistas de 15 Estados estiveram no evento divulgando a cultura nacional. O combate à pirataria foi um dos temas discutidos no evento.