Tunísia vai às urnas
20 de outubro de 2011 As eleições na Tunísia, no próximo domingo (23/10), marcam uma nova fase política no país. Nove meses depois da queda do regime do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, o pleito define quem serão os 217 representantes que formarão uma assembleia nacional constituinte e organizarão as próximas eleições presidenciais e parlamentares.
As revoltas populares conhecidas como Primavera Árabe começaram na Tunísia e desencadearam uma série de manifestações pró-democracia no norte da África e no Oriente Médio. Os protestos de janeiro levaram ao fim do regime de Ben Ali na Tunísia, após 23 anos no poder.
Ben Ali está exilado na Arábia Saudita. Urnas para cidadãos tunisianos no exterior estarão disponíveis na França, na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos. Observadores internacionais calculam que candidatos de cem partidos políticos e outros independentes devem participar do pleito.
Diversidade ideológica
Para o especialista Asiem el Difraoui, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik, no nome em alemão), um elevado número de partidos é comum em tempos de transição.
"Trata-se, na verdade, de um desenvolvimento normal após tantos anos de ditadura. Não existe uma cultura de comprometimento político na Tunísia. Porém, no final, provavelmente emergirão daí grandes blocos políticos", opina Difraoui.
Para os eleitores, a decisão não deverá ser tão fácil, uma vez que existem tendências variadas, desde centro-esquerda até as correntes liberais, passando pelo socialismo científico e pelos radicais islâmicos. Ao final, cerca de dez conquistarão espaço na assembleia constituinte, calculam observadores.
Apesar da quantidade expressiva de partidos, três correntes podem ser consideradas como as mais proeminentes no cenário político do país. Uma delas é formada por jovens revolucionários e ativistas políticos influenciados por ideias social-democratas e socialistas. Eles querem uma Tunísia moderna, mas nunca estiveram organizados num partido político.
Outra corrente se formou em torno de antigos membros do governo, que formavam uma espécie de "oposição interna" ao regime. Também eles querem uma Tunísia moderna e liberal. Nesse setor estão representantes de setores empresariais, que puderam financiar campanhas políticas caras.
O partido islâmico Ennahda exerce especial influência. A corrente foi muito reprimida durante o regime de Ben Ali e é hoje a única organização política que possui uma estrutura em todo o país. O partido tem grande chance de ter bom desempenho nestas eleições, apesar de também ser fragmentado, conforme salienta o representante da Fundação Konrad Adenauer na Tunísia, Klaus Loetzer.
"Uma ala segue o modelo turco e quer uma separação entre igreja e Estado", diz Loetzer. "Outros querem a unidade de Estado e religião – ou seja, a charia como base para a ação do Estado e o comportamento dos cidadãos."
Mobilização policial
Muitos analistas afirmam que, desde a independência da França, em 1956, e a transição para uma república presidencialista, esta é a primeira vez que a Tunísia vive uma atmosfera de liberdade política. O país já tinha uma atividade sociopolítica mais avançada em comparação com outros estados árabes, mesmo durante o regime de Ben Ali.
Mais de 40 mil policiais e soldados estão mobilizados para o pleito deste domingo. As forças de segurança já montaram barricadas em diversas estradas e patrulhas vigiam cerca de sete mil pontos de votação em todo o país. Nesta semana, o Ennadha alertou que o pleito poderia ser manipulado e prometeu um novo levante, caso fosse necessário.
Outras correntes políticas reagiram, apelando por "apaziguamento", enquanto grupos de esquerda acusam a corrente islâmica de assediar seus militantes nas últimas semanas. A campanha tem registrado manifestações antisseculares esporádicas, lideradas basicamente por salafistas ultra-conservadores.
MP/dw/afp/dpa
Revisão: Alexandre Schossler