1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Turcomenistão proíbe uso da palavra "coronavírus"

31 de março de 2020

ONG denuncia que regime autoritário do país baniu termo de publicações oficiais e passou a prender pessoas que usam máscaras na rua ou que mencionam a pandemia em público.

O ditador Gurbanguly Berdimuhamedow, dentista por formação, está no poder desde 2007
O ditador Gurbanguly Berdimuhamedow, dentista por formação, está no poder desde 2007Foto: picture-alliance/dpa/TASS/V. Sharifulin

O regime autoritário do Turcomenistão tem implementado uma política extrema que parece seguir o lema escapista "o problema não existe se você não falar dele".

O governo dessa ex-república soviética da Ásia Central já vinha afirmando de maneira pouco convincente não ter registrado nenhum caso de coronavírus no país. Agora, quer banir até mesmo o uso do termo "coronavírus" da vida pública.

Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o autoritário e excêntrico líder do país, Gurbanguly Berdimuhamedow, determinou que a palavra desapareça por completo da mídia estatal e até mesmo de conversas privadas.

De acordo com a ONG, a população de 5,8 milhões foi proibida de usar a palavra em público. O serviço em turcomeno da Radio Free Europe aponta que agentes do regime começaram a prender pessoas que foram ouvidas falando sobre a doença ou que estavam usando máscaras na capital do país, Asgabate.

A mídia independente é praticamente inexistente no país, e o Turcomenistão frequentemente aparece na última posição em rankings de liberdade de imprensa, atrás até da Coreia do Norte. Os poucos veículos que conseguem extrair informações não oficiais do país, como a Radio Free Europe, são bloqueados pelo regime.

Segundo a rádio, o termo "coronavírus" também foi retirado de brochuras que vinham sendo distribuídas pelo governo em hospitais e escolas para incentivar a população a combater o vírus. Em vez de "coronavírus" ou "covid-19", os folhetos passaram a usar expressões genéricas como "enfermidade" ou "doença respiratória".

Estátua em homenagem a Berdimuhamedow na capital do país. Regime promove culto à personalidadeFoto: Getty Images/AFP/I. sasin

Com esse cenário, não se sabe ao certo quantos casos de covid-19 de fato existem no país. Um dos vizinhos do Turcomenistão, o Irã, é um dos países mais atingidos pelo coronavírus no mundo, acumulando 44 mil casos oficiais e quase 3 mil mortes.

"As autoridades turcomenas fizeram jus à sua reputação adotando esse método extremo de erradicar todas as informações sobre o coronavírus", afirma Jeanne Cavelier, chefe da seção Leste Europeu e Ásia Central da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

O país até tem tomado algumas medidas para conter a doença, como o fechamento de fronteiras e a imposição de bloqueios nas estradas, mas com a doença permanecendo um tabu, medidas como o isolamento da capital do resto do país estão sendo executadas sem qualquer anúncio prévio, de acordo com a Radio Free Europe.

Berdimuhamedow, que governa o país desde 2007, tem formação em odontologia. Ele serviu como ministro da Saúde do seu antecessor, o ditador Saparmurat Niyazov. Ele é conhecido pelos hábitos excêntricos, como uma paixão quase obsessiva por cavalos e carros de luxo. 

A mídia estatal do país costuma promover um culto à personalidade do líder, de 62 anos, que é chamado de "pai protetor" do país e retratado como um atleta, um compositor e até mesmo um autor de romances. Fora do país, dissidentes acusam Berdimuhamedow de administrar um estado totalitário e de perseguir qualquer oposição.

Em 2017, em uma eleição de fachada, Berdimuhamedow conquistou mais um mandato presidencial, com 97,69% dos votos, segundo o governo.

JPS/ots

______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube 
App | Instagram | Newsletter

Pular a seção Mais sobre este assunto