Turquia acirra combate a turismo jihadista
14 de março de 2015Somente nesta semana, foram capturados 16 indonésios querendo chegar à Síria para se aliar ao "Estado Islâmico" (EI) passando pela Turquia, declarou o ministro do Exterior turco, Mevlüt Cavusoglu, nesta sexta-feira (13/03). Não se trata de um caso isolado, nos últimos dias, autoridades turcas têm relatado sobre detenções de estrangeiros ao longo dos 900 quilômetros da fronteira entre Síria e Turquia.
Aumento da vigilância
Os relatos têm por finalidade mostrar o quanto a Turquia se esforça em evitar viagens de "turistas do terrorismo" para a Síria. Já na chegada à Turquia, supostos apoiadores do EI devem ser identificados e enviados de volta, antes da entrada oficial no país.
De acordo com Cavusoglu, atualmente, quase 20 mil nomes fazem parte de uma lista negra. Além disso, até agora, 1.154 estrangeiros foram capturados após a sua entrada na Turquia e enviados de volta para casa. Equipes de especialistas permanecem nos aeroportos à procura de possíveis jihadistas.
Com o aumento da vigilância, a Turquia reage à crítica de europeus e americanos. Os parceiros ocidentais se queixam, repetidamente, de que suspeitos de terrorismo provenientes de seus países conseguem facilmente chegar à Síria através da Turquia. Francis Ricciardone, ex-embaixador americano em Ancara, afirmou no ano passado que autoridades turcas estariam cooperando com grupos como a Frente al-Nusra, braço da Al Qaeda na Síria.
Esperada queda de Assad
Por trás disso, está a expectativa de Ancara de que a luta das milícias islâmicas na Síria possa acelerar a queda do ditador Bashar al-Assad, que é considerado um arqui-inimigo da Turquia.
A acusação dos ocidentais é que, frente a esse objetivo estratégico, as autoridades turcas teriam fechado os olhos para as atividades dos radicais islâmicos na região de fronteira. Grupos como a Frente al-Nusra e o EI usam o território turco como local de refúgio e área de abastecimento de armas e novos combatentes.
O governo turco rejeita as acusações e enfatiza que 900 quilômetros de fronteiras não podem ser totalmente monitorados. Além disso, a Turquia persegue deliberadamente uma "política de portas abertas", segundo a qual nenhum refugiado proveniente da Síria é rejeitado. Representantes governamentais dizem que, diante do grande número de refugiados, combatentes poderiam entrar despercebidos na Turquia.
Mas a crítica persiste. Segundo o jornal oposicionista Cumhuriyet, apesar do reforço de controle, há alguns meses um grande fornecimento de armas chegou aos jihadistas através da fronteira sírio-turca.
O ex-ministro turco da Cultura, Ertugrul Günay, atualmente um opositor do governo em Ancara, alertou durante um inquérito parlamentar nesta semana que, aparentemente, membros do EI continuam a atravessar a fronteira sem maiores dificuldades. Eles estariam até mesmo recebendo tratamento em hospitais turcos, sem o medo de ser presos. Günay pediu ao governo para investigar tais acusações.
Ancara pede mais cooperação
Na opinião do governo turco, os países de origem dos "turistas do terrorismo" compartilham uma responsabilidade nesse desenvolvimento. Nesse contexto, o chanceler Cavusoglu afirmou – em relação ao caso de três garotas britânicas que chegaram à Síria em fevereiro através da Turquia – que as autoridades britânicas informaram Ancara somente três dias depois da fuga das meninas de Londres. O ministro disse que já era tarde demais para contê-las.
Algo semelhante aconteceu no caso de Hayat Boumeddiene, parceira de um dos responsáveis pelos atentados em Paris. Ela também conseguiu chegar à Síria passando pela Turquia.
Por esse motivo, o ministro do Exterior Cavusoglu alertou, nesta sexta-feira, para uma melhor cooperação. Afinal de contas, o problema só pode ser resolvido em conjunto, explicou o ministro.