Turquia diz ter destruído base de armas químicas na Síria
29 de fevereiro de 2020
Ação ocorre depois de ataque que provocou a morte de 34 militares turcos no país. Observatório do conflito na Síria aponta que instalação atingida pela Turquia não tinha armas químicas.
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O governo da Turquia afirmou neste sábado (29/02) ter destruído uma "instalação de armas químicas" no nordeste da Síria, em resposta aos ataques aéreos que, na quinta-feira, mataram mais de 30 militares turcos.
Na noite de sexta-feira para sábado, as forças turcas destruíram "uma instalação de armas químicas situada a 13 quilómetros ao sul de Aleppo, juntamente com um grande número de outros alvos do regime", disse um alto funcionário turco a jornalistas sob condição de anonimato, sem dar mais detalhes.
Entretanto, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma organização não-governamental com sede em Londres afirmou que Ancara havia atingido o aeroporto militar de Kweires, localizado a leste de Aleppo, onde, segundo disse, não há armas químicas armazenadas.
O regime de Damasco tem sido repetidamente acusado de utilizar armas químicas desde o início do conflito na Síria, em 2011. A ditadura de Bashar al-Assad sempre negou o uso de tais armas.
Os novos ataques turcos seguiram-se à morte de pelo menos 34 soldados turcos em bombardeios atribuídos por Ancara ao regime de al-Assad na região de Idlib, no noroeste da Síria, na quinta-feira.
Como retaliação, Ancara alega ter bombardeado vários alvos do regime. Esta escalada entre Ancara e Damasco também agravou as relações entre a Turquia e a Rússia, país que é um dos principais apoiadores do regime sírio.
Na sexta-feira, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e seu homólogo russo Vladimir Putin tiveram uma conversa telefónica durante a qual expressaram "preocupação" mútua sobre a situação.
Os dois líderes planejam se encontrar em Moscou na próxima semana, de acordo com o Kremlin.
Nas últimas semanas, o Erdogan tem apelado repetidamente às forças sírias para que se retirem de certas áreas em Idlib até ao final de fevereiro, prazo que expira à meia-noite de sábado.
O regime sírio, apoiado por Moscou, tem conduzido uma ofensiva desde dezembro para retomar a província de Idlib, o último reduto rebelde no país. O conflito na Síria já causou mais de 380.000 mortes desde 2011 e deixou milhares de refugiados e deslocados.
Famílias tentam fugir do conflito e são alvo de ataques indiscriminados de forças do governo e rebeldes em Idlib. Violência e deslocamento em massa podem resultar na maior catástrofe humanitária do século 21, diz ONU.
Foto: picture-alliance/AA/M. Said
Famílias fogem da província de Idlib
As tropas sírias intensificaram a luta pelo último grande enclave rebelde do país – um "prelúdio para sua derrota total", segundo o presidente Bashar al-Assad. Violência e deslocamento em massa podem resultar no maior horror humanitário do século 21, afirmou o diretor de ajuda humanitária da ONU, Mark Lowcock. As crianças, em particular, se tornaram o rosto desse sofrimento.
Foto: Getty Images/AFP/A. Watad
Maior êxodo desde a Segunda Guerra
Dos quase 900 mil forçados a deixar suas casas e abrigos nos últimos três meses, 80% eram mulheres e crianças, relatou um porta-voz da ONU. Cerca de 300 mil deles fugiram apenas desde o início de fevereiro. A onda de deslocamento é o maior êxodo de civis desde a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/AA/M. Said
Temperaturas mortais
Com temperaturas atingindo 7 ºC negativos em campos de deslocados nas colinas perto da fronteira com a Turquia, sete crianças morreram devido às más condições de vida. A organização Save the Children afirma que as famílias queimam tudo o que encontram para se aquecer, e que o número de mortos pode aumentar.
Foto: picture-alliance/AA/H. Harrat
Esforços por cessar-fogo suspensos
Comboios turcos se dirigiram à antiga "zona de desescalada", enquanto forças sírias apoiadas pela Rússia intensificaram seus esforços para retomar a área no fim de janeiro. No início de fevereiro, após a morte de 13 soldados turcos estacionados no local para apoiar rebeldes, os esforços diplomáticos para intermediar um cessar-fogo foram sustados.
Foto: picture-alliance/AA/C. Genco
Rodovia para lugar nenhum
A ofensiva de Assad para retomar a estratégica rodovia M5, que passa pela província de Idlib e segue até a segunda maior cidade da Síria, Aleppo, tem sido um objetivo de longo prazo. Depois de bombardeios russos ajudarem as forças sírias a capturarem todas as cidades ao longo da rota em fevereiro, combates violentos no oeste de Aleppo forçaram mais de 43 mil a fugir em direção à fronteira turca.
Foto: picture-alliance/AA/M. Said
Ataques indiscriminados contra civis
O grande número de ataques russos e sírios contra campos de deslocados, hospitais e escolas "sugere que nem todos podem ser acidentais", disse Rupert Colville, porta-voz da ONU para direitos humanos. Seu escritório registrou 299 mortes de civis em 2020, 93% causadas pelo governo sírio e seus aliados. Michelle Bachelet, chefe de direitos humanos da ONU, chamou os ataques de "indiscriminados".
Foto: picture-alliance/AA/I. Dervis
Rebeldes atacam
Rebeldes apoiados pela Turquia foram capturados pela ofensiva, assim como os jihadistas que não são oficialmente apoiados por Ancara. Um grupo islâmico, Hayat Tahrir al-Sham, conseguiu uma rara vitória em meados de fevereiro, ao derrubar um modelo específico de helicóptero que as forças sírias supostamente usam para lançar bombas de barril sobre civis.
Foto: Getty Images/AFP/O. Haj Kadour
Busca por segurança
Michelle Bachelet observa que "nenhum abrigo está seguro agora" e que os campos de deslocados estão sobrecarregados pelo grande número dos que fogem da violência. Muitos deixaram os campos para tentar a vida fora. A chefe de direitos humanos da ONU pediu a criação de corredores humanitários para permitir aos civis escaparem.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Alkharboutli
Sem rota de fuga
A Turquia, que já abriga 3,5 milhões de refugiados, fechou suas fronteiras para impedir um novo afluxo de sírios. Isso deixa a população de Idlib sem ter uma rota de fuga. Mais de 500 mil dos deslocados são crianças.