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Turquia está em rota de ruptura com EUA e Otan

22 de fevereiro de 2018

Relações entre dois maiores exércitos da Aliança Atlântica estão cada vez mais estremecidas, e governo em Ancara se aproxima de Moscou. Golpe fracassado de 2016 elevou cisão entre turcos e membros da Otan.

Recep Tayyip Erdogan
No Ocidente predomina percepção de que Ancara, sob Erdogan, se afasta dos valores democráticos e do Estado de DireitoFoto: Imago/Depo Photos

A atual intervenção da Turquia na cidade de Afrin, no norte da Síria, contra a milícia curda YPG abalou ainda mais as já estremecidas relações entre os dois maiores exércitos da Otan: a Turquia e os Estados Unidos, que apoiam as YPG.

Leia mais: As várias guerras na Síria

Na prática, é como se dois aliados no âmbito da Otan estivessem lutando entre si, pois as YPG foram armadas pelos americanos. No início da operação em Afrin, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou avançar até a cidade de Manbij, também controlada pelas YPG e onde soldados dos EUA estão estacionados.

Erdogan alertou que as tropas americanas lá estacionadas não deveriam se opor à operação turca. Washington respondeu que não tem planos de retirar seus soldados da cidade e enviou dois generais para visitas a Manjib.

Um deles, Paul Funk, declarou que, se forem atacadas, as forças americanas responderão de forma agressiva para se defender. A resposta de Erdogan foi imediata: "Está bem claro que aqueles que dizem 'nós vamos responder agressivamente se atacados' nunca experimentaram um tapa otomano".

Aproximação com a Rússia

Para complicar ainda mais a situação, a tensão entre os EUA e a Turquia ocorre em paralelo a uma aproximação entre Ancara e Moscou. Para irritação dos membros da Otan, a Turquia comprou o sistema de mísseis antiaéreos S-400 justamente da Rússia, e não de um país da Otan. A Turquia também está colaborando, ao lado do Irã, com os esforços diplomáticos russos para acabar com a guerra na Síria.

Para a operação em Afrin, Erdogan até mesmo anunciou que obteve o aval da Rússia, que controla o espaço aéreo do lado ocidental do rio Eufrates. Analistas afirmam que uma das intenções do presidente Vladimir Putin, ao dar seu aval à operação turca, era justamente estremecer ainda mais as relações da Turquia com os EUA. Afinal há tempos os turcos se queixavam do apoio americano aos curdos.

E já há tempos, também, as relações entre EUA e Turquia estão estremecidas. A acusação, velada ou mesmo explícita, de apoio de Ancara a grupos jihadistas, como a Frente al-Nusra ou o Estado Islâmico, é feita recorrentemente pelos americanos. Mas a situação piorou mesmo depois do fracassado golpe de Estado contra Erdogan, em julho de 2016. O presidente turco acusa o clérigo Fethullah Gülen de estar por detrás da tentativa de golpe. Gülen está asilado nos Estados Unidos, que se recusam a extraditá-lo.

Longe da democracia?

O golpe fracassado também piorou as relações da Turquia com outros aliados dentro da Otan, como a Alemanha, que concederam asilo a muitos militares acusados de participar da conspiração.

Erdogan tem agido com rigor contra todos que ele acusa de participação na tentativa de golpe. Isso vale também para militares que trabalham no âmbito da Otan. Cerca de 400 adidos militares turcos ao exterior, que ocupavam postos na Aliança Atlântica, foram afastados de suas funções e convocados de volta para a Turquia. Muitos obtiveram asilo nos países onde estavam baseados, o que irritou profundamente o governo em Ancara.

Entre os países da Otan, cresce a preocupação com os atuais rumos da Turquia. A percepção é de que Ancara se afasta dos valores democráticos e do Estado de direito e se aproxima do autoritarismo e do fundamentalismo religioso islâmico. Ao agir assim, a Turquia estaria prejudicando a Aliança Atlântica – que se sustenta sobre valores democráticos – e sobre o princípio de que o ataque a um membro é um ataque a todos.

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