Líder muçulmano exilado nos EUA é acusado por Erdogan de arquitetar golpe de Estado de 2016. Segundo ministro do Exterior turco, após sinais positivos de Trump para deportação de Gülen, "precisamos ver passos concretos".
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O governo turco exige dos Estados Unidos passos concretos para a extradição do pregador islâmico Fethullah Gülen e de outros membros de seu movimento social-religioso.
O presidente Recep Tayyip Erdogan tocou no assunto com o homólogo americano, Donald Trump, durante a cúpula do G20 na Argentina, duas semanas atrás, afirmou o ministro do Exterior Mevlüt Cavusoglu num fórum em Doha: "Quando nos encontramos pela última vez, em Buenos Aires, o presidente Trump disse a Erdogan que eles estavam trabalhando nesse sentido. Mas precisamos ver passos concretos."
Embora vivendo em exílio nos EUA, Gülen é considerado arqui-inimigo do líder turco, que o responsabiliza pela tentativa fracassada de golpe de Estado de julho de 2016. Por diversas vezes, Ancara exigiu a deportação do pregador de 77 anos. Até agora Washington tem se negado, o que redundou numa crise diplomática entre os dois parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Já em meados de novembro circulavam boatos de uma possível extradição de Fethullah Gülen para a Turquia. Segundo a mídia americana, a Casa Branca se informara junto a diversas agências sobre as possibilidades legais de expulsar o pregador muçulmano – notícia desmentida por uma porta-voz do Departamento de Estado em Washington.
A Turquia também acusou a Alemanha de não investir com a dureza necessária contra Gülen: o país estaria longe de corresponder às exigências turcas, criticou Cavusoglu na época. Em setembro, Ancara exigira a entrega de centenas de os adeptos do Movimento Gülen, o qual não é proibido na Alemanha, ao contrário do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Após o fracasso do levante de 2016, dezenas de milhares de supostos apoiadores do pregador foram presos ou demitidos de cargos públicos. As medidas, severamente criticadas pela opinião internacional, atingiram também acadêmicos, ativistas de direitos humanos e jornalistas.
Segundo dados oficiais de meados de novembro, desde 2016 218 mil cidadãos já foram presos pelo regime Erdogan. Quase 17 mil suspeitos foram condenados, outros 15 mil ainda se encontram em prisão preventiva, mais de 140 mil funcionários públicos foram despedidos.
Ancara segue investindo contra supostos simpatizantes de Fethullah Gülen. Segundo a agência de notícias estatal Anadolu, apenas na última sexta-feira a Promotoria Pública de Istambul expediu 219 mandados de prisão contra oficiais e suboficiais suspeitos de pertencerem ao movimento.
AV/rtr,ap,dpa
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Desde o golpe militar fracassado contra o presidente Erdogan, em julho de 2016, relações entre Ancara e Berlim têm se deteriorado constantemente. Mas o processo já começara antes, e não há fim à vista.
Foto: picture-alliance/POP-EYE/B. Kriemann
Caso Böhmermann
31 de março de 2016: O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apresenta queixa contra o humorista alemão Jan Böhmermann por seu "poema difamatório" a respeito dele, envolvendo bestialidade, entre outras acusações. Em 4 de outubro, os promotores encerraram o caso, mas um conflito diplomático entre Ancara e Berlim estava desencadeado.
2 de junho de 2016: Parlamento alemão aprova quase unanimemente resolução classificando como genocídio o massacre de centenas de milhares de armênios pelo Império Otomano, em 1915. Ancara retira seu embaixador de Berlim, a comunidade turca promove protestos em várias cidades alemãs. Segundo a Turquia, o número de mortes seria exagerado, e também havia muçulmanos turcos entre as vítimas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Gallup
Tensões após golpe fracassado
15 de julho de 2016: Uma facção das Forças Armadas turcas tenta derrubar o presidente turco, mas fracassa. Ancara acusa Berlim de não se posicionar contra a tentativa de putsch nem fazer algo contra a organização do pregador exilado Fethullah Gülen, acusado por Erdogan de orquestrar o golpe militar.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Suna
Alemanha critica purgação pós-golpe
Logo em seguida à tentativa de golpe, as autoridades turcas fizeram uma devassa no Exército e no Judiciário, detendo milhares de pessoas. Logo em seguida, a purgação foi expandida, incluindo funcionários públicos civis, diretores e professores universitários. Políticos alemães criticaram as detenções. Diplomatas, acadêmicos e militares turcos fugiram do país e pediram asilo na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Suna
Manifestações curdas em Colônia
A devassa de Erdogan pós-golpe foi também condenada por ativistas curdos em manifestações na cidade de Colônia, no oeste alemão. Em muitas delas se exigia a libertação de Abdullah Öcalan, líder encarcerado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Ancara Turquia acusa Berlim de não fazer esforços suficientes para sustar as atividades do grupo. que classifica de terrorista.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Meissner
Prisões de cidadãos alemães na Turquia
14 de fevereiro de 2017: Deniz Yücel, correspondente do jornal "Die Welt", é colocado sob custódia policial na Turquia. Outros cidadãos alemães, como a jornalista Mesale Tolu e o ativista de direitos humanos Peter Steudtner, são detidos pelo que Berlim define como "razões políticas". Todos os três foram acusados pelas autoridades turcas de apoiar organizações terroristas.
Março de 2017: Municipalidades alemãs proíbem ministros turcos de realizarem comícios a favor do referendo de abril na Turquia, para ampliar os poderes presidenciais de Erdogan. Este acusa a Alemanha de empregar "táticas nazistas" contra cidadãos turcos em seu território e deputados turcos em visita. Dirigentes alemães condenam severamente o líder turco, acusando-o de ter ido longe demais.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg
Espionagem
30 de março de 2017: A Alemanha acusa a Turquia de espionar centenas de adeptos de Gülen, assim como mais de 200 associações e escolas ligadas ao movimento do pregador na Alemanha. Paralelamente, requerentes de asilo turcos acusam o departamento de imigração BAMF de repassar as informações deles para veículos de imprensa ligados ao governo turco.
Foto: Imago/Chromeorange/M. Schroeder
Erdogan insta turco-alemães a não votarem em "inimigos"
18 de agosto de 2017: O presidente chama três dos principais partidos políticos da Alemanha de inimigos da Turquia e insta os alemães de origem turca a não votarem neles na eleição geral de setembro. Seus alvos são a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde. A chefe de governo acusa Erdogan de se imiscuir na eleição.
Foto: picture-alliance/abaca/AA/M. Ali Ozcan
Merkel contra Turquia na UE
4 de setembro de 2017: A chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirma, durante debate eleitoral, ser contra a Turquia se tornar membro da União Europeia e promete conversar com outros líderes da UE sobre o fim das negociações com Ancara nesse sentido. Em outubro, ela apoia a iniciativa de cortar os fundos pré-filiação da Turquia.
Foto: Reuters/F. Bensch
Ofensiva militar turca em Afrin
20 de janeiro de 2018: Forças Armadas turcas e seus aliados rebeldes sírios lançam a Operação Ramo de Oliveira contra o enclave curdo de Afrin, no norte da Síria. A ofensiva é criticada por políticos alemães e desencadeia protestos de comunidades curdas na Alemanha.
Foto: Getty Images/AFP/O. Kose
Deniz Yücel é libertado da prisão
16 de fevereiro de 2018: A Turquia liberta o jornalista turco-alemão Deniz Yücel, depois de mantê-lo preso por mais de um ano sem acusações formais. Segunda a mídia estatal turca, o turco-alemão foi libertado da detenção pré-julgamento sob fiança. A promotoria exige para ele pena de 18 anos de prisão, por "propaganda terrorista" e incitação popular.