Cobrança turca
2 de novembro de 2011O primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan, quer que o governo da Alemanha se empenhe com mais intensidade do que outros países no pedido turco de adesão à União Europeia. "A Alemanha é o país de quem mais esperamos apoio à Turquia", afirmou Erdogan nesta quarta-feira (02/11) em Berlim, durante uma cerimônia festiva pelos 50 anos do Acordo de Recrutamento de mão de obra turca, entre a Alemanha e a Turquia.
Segundo a chanceler-federal alemã, Angela Merkel, a crise do euro não afetará as negociações para a adesão da Turquia à UE. Ela afirma que a entrada do país ao bloco depende de "claros critérios" que estão sendo avaliados. Seu posicionamento e o de seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU, do alemão), é que o país se mantenha como "parceiro privilegiado".
A Turquia é candidata a Estado-membro da União Europeia (UE) desde dezembro de 1999 e as negociações tiveram início em 2005. A questão ainda esbarra no reconhecimento do Chipre pela Turquia, que por isso ainda não ratificou o chamando Protocolo de Ancara, que expandirá os acordos da união aduaneira entre Turquia e a UE.
Mesmo ainda não fazendo parte do bloco, o país mantém uma série de acordos com a União Europeia desde 1995 por meio da união aduaneira, que abrange o comércio de produtos manufaturados e prevê a adaptação da legislação turca a algumas políticas do resto da Europa.
O primeiro-ministro apelou ainda por uma maior aproximação de interesses dos dois países que, segundo ele, mantêm boas relações políticas e econômicas desde antes mesmo da assinatura do acordo de recrutamento. Elas datam da aliança entre os dois países na Primeira Guerra Mundial.
Assinado no dia 30 de outubro de 1961, o Acordo de Recrutamento estimulou a migração de trabalhadores turcos para a Alemanha. Atualmente vivem no país cerca de 2,5 milhões de pessoas de origem turca, sendo que mais da metade delas possui nacionalidade alemã.
Problemas de integração
Apesar de serem consideradas boas pelos dos dois países, as relações turco-alemãs ainda enfrentam dificuldades, especialmente no campo social. Uma das barreiras ainda existentes é a integração dos antigos migrantes e das gerações já nascidas na Alemanha. Em entrevista ao jornal alemão Bild, Erdogan criticou que o "setor político alemão não reconhece o suficiente a interdependência entre os três milhões de turcos na Alemanha".
Durante a cerimônia, Merkel ressaltou a importância do aprendizado do idioma. "Aprender e dominar a língua alemã é obrigatório para a integração dar certo", disse a chefe de governo em seu discurso. Ela ressaltou que o nível de educação das pessoas de origem estrangeira vem aumentando, "porém ainda não estamos satisfeitos com este avanço", afirmou Merkel, destacando que problemas com relação à integração não devem ser silenciados.
Para Merkel, o fato de que atualmente cerca de 20% da população da Alemanha têm origem estrangeira faz com que a questão da integração seja crucial para o futuro da Alemanha.
Dupla nacionalidade
O primeiro-ministro turco também defendeu a possibilidade de que alemães de origem turca possam ter dupla nacionalidade, o que hoje não é permitido pelas leis da Alemanha. Entre os 18 e os 23 anos de idade, filhos de estrangeiros nascidos em território alemão precisam optar por uma nacionalidade.
"Vivemos em um mundo em que a dupla nacionalidade é algo normal, mesmo dentro da União Europeia", disse Erdogan, ressaltando que alguns países, como a França, permitem duas cidadanias.
Com relação a este ponto, no entanto, Merkel discorda do colega turco. Segundo a chanceler federal alemã, a nacionalidade "tem relativamente pouco a ver" com a integração, ressaltando que não se pode servir às Forças Armadas de países diferentes, por exemplo.
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Revisão: Roselaine Wandscheer