Turquia remove teoria da evolução do currículo escolar
23 de junho de 2017
Autoridade da educação argumenta que teoria de Darwin é controversa e complexa demais. Aulas sobre o fundador da Turquia moderna e o secularismo também dvem ser reduzidas, para maior ênfase nos estudos islâmicos.
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A Turquia vai retirar o estudo da evolução das espécies dos currículos do ensino médio. Segundo um alto funcionário do setor, a teoria de Charles Darwin é excessivamente controversa e de difícil entendimento.
O capítulo intitulado "Começo da vida e evolução" será eliminado dos livros curriculares de biologia adotados nas escolas, e o material só estará disponível para os estudantes universitários, a partir dos 18 ou 19 anos de idade.
"Estamos cientes de que os nossos alunos não possuem a base para compreender as premissas e hipóteses [da teoria da evolução]. Se não dispõem do conhecimento e do arcabouço científico, eles não serão capazes de entender algumas questões controversas. Então, as deixamos de fora", explicou, em comunicado online emitido nesta sexta-feira (23/06), o presidente do Departamento Nacional de Educação, Alpaslan Durmus.
As mudanças são parte do novo currículo, a ser adotado no ano acadêmico 2017-2018, que foi formulado de acordo com "valores turcos", acrescentou Durmus. Alguns meses atrás, o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus, declarara que a teoria darwinista seria "velha e podre", não tendo necessariamente que ser ensinada.
Agenda antissecular
A teoria da evolução, publicada pela primeira vez em 1859, é rejeitada pelos criacionistas tanto muçulmanos quanto cristãos, para os quais Deus criou o mundo e todos os seres vivos em seis dias, como descrito na Bíblia e no Alcorão. A diferença é que para os islâmicos os "dias" são compreendidos não literal, mas sim simbolicamente, como longos períodos de tempo.
Será que o ser humano ainda está evoluindo?
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Entre outros, o grupo lobista Egitim-Is (Trabalho de Educação), que se engaja pela formação secular na Turquia, expressou apreensão pelas mudanças num total de 51 cursos, da escola primária à secundária. A seu ver, elas limitam os avanços alcançados por Mustafá Kemal Atatürk (1881-1938), fundador da moderna Turquia, que baniu o islã da vida pública.
Essa mudança de foco, contudo, não parece ser acidental: notícias da imprensa nacional, baseadas em vazamentos de reuniões dos grêmios escolares, vêm prevendo uma redução da parte do currículo dedicada ao estudo de Atatürk e do secularismo, compensada por mais horas para as matérias religiosas.
Durmus confirma que haverá mais ênfase nas contribuições dos cientistas muçulmanos e turcos, e que as aulas de história abandonarão a abordagem "eurocêntrica".
Há bastante tempo a oposição secular vem argumentando que o governo do conservador islâmico Recep Tayyip Erdogan persegue uma agenda fundamentalista velada, contrariando os valores fundadores da república.
A educação é um tema especialmente polêmico, por seu potencial de formar gerações futuras. Têm ocorrido protestos em pequena escala nas escolas, por parte de pais que discordam da forma como a religião é ensinada.
AV/rtr/dpa
Darwin, o pesquisador e colecionador
Estimado, celebrado, hostilizado
Ao tornar pública sua teoria, em 1858, Darwin foi alvo, ao mesmo tempo, de reconhecimento, gozações e críticas. Ele foi chamado, inclusive, de herege, por questionar a origem da Criação. Isso, para a Igreja, e muitos outros membros da sociedade, era inaceitável. Caricaturas de Darwin com traços humanos e de macaco foram publicadas com frequência em jornais e revistas da época, fato que pouco o incomodou. Diz-se que ele, inclusive, as teria colecionado.
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Quarto de estudos
Em outubro de 1836, Darwin regressou à Inglaterra de sua viagem pelo mundo. Um ano mais tarde, casou-se com sua prima e mudou-se para Downe, ao sul de Londres. Como Darwin descendia de uma família próspera, não teve que se preocupar com dinheiro. Ele pôde dedicar-se, com tranquilidade, à pesquisa. No total, Darwin publicou 20 pesquisas científicas e ministrou palestras para especialistas e pesquisadores. Mas sobre sua Teoria da Evolução das Espécies falou, inicialmente, apenas para seus amigos mais próximos.
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A lei do mais forte
Darwin observou que na maioria dos grupos de animais somente um macho tem o direito de se reproduzir. O maior, o mais colorido, o mais forte ou mais ágil para eliminar os concorrentes é escolhido como líder. A isto, Darwin denominou de 'a sobrevivência do mais forte'. Darwin acreditava que suas descobertas também eram válidas para o ser humano, levando-o a concluir que o homem descenderia do macaco, o que foi uma provocação para muitos dos seus contemporâneos.
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Charles Darwin
Charles Robert Darwin foi um dos mais importantes e, provavelmente, mais controversos naturalistas da história. Ele nasceu em 12 de fevereiro de 1809 na Inglaterra. Estudou Medicina e Teologia e, mais tarde, dedicou-se a sua verdadeira paixão: a biologia. Em suas viagens ao redor do mundo, Darwin coletou informações, através de investigações e observações dos animais, para formular a Teoria da Evolução. Com isso, ele refutou a doutrina vigente até então, que creditava a criação do mundo, das coisas e do homem a um poder independente (Deus).
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Coleta de materiais
Na viagem, Darwin fez aquisições valiosas: reuniu exemplos de 1.529 espécies e 3.907 peles e ossos. O naturalista encheu 12 catálogos com informações completas de animais e plantas, de exemplares comunsaos mais exóticos – na foto, o caranguejo-de-pedra do Atlântico – e preencheu, ainda, 2 mil páginas com seus apontamentos. Ele também enviou fósseis e pedras a Londres para analisá-los melhor em casa.
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Best-seller
Durante mais de 20 anos, Darwin aperfeiçoou sua Teoria da Evolução, antes que fosse forçado a apresentá-la ao público. Em 1858, recebeu de um jovem cientista uma dissertação com elementos da sua teoria. Para assegurar a glória científica, Darwin teve que agir rápido. No ano de 1859, publicou o livro 'Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural'. A primeira edição esgotou-se em um dia. O livro tornou-se um best-seller, assim como muitas de suas obras traduzidas para diversas línguas.
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Tentilhões de Darwin
Os pássaros cantores encontrados somente nas ilhas Galápagos, denominados tentilhões de Darwin, levaram o pesquisador à ideia de 'nicho ecológico'. Cada uma das 13 espécies que hoje vivem nas ilhas tem seu próprio nicho. Isso significa que não há concorrência com outras espécies por comida e ninhos. O tentilhão das árvores (pássaro de pequeno porte de coloração viva) tem o bico fino, permitindo-o apanhar insetos. Já o grande tentilhão da terra tem o bico fortificado para apanhar frutas e sementes.
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Tartaruga gigante
Darwin ficou fascinado com as tartarugas gigantes, que pesam até 350 kg e são endêmicas do arquipélago. Ele reparou que a cor e a forma da couraça variavam de ilha para ilha, indicando que a adaptação ocorria de acordo com o habitat. O navio Beagle trouxe dezenas de tartarugas gigantes a bordo, das quais a maioria foi usada como alimento pela tripulação. A tartaruga Harriet, no entanto, conseguiu chegar à Europa, para depois ser enviada à Austrália. O objeto de pesquisa de Darwin morreu em 2006, aos 175 anos de idade.
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Teoria da evolução
Também outros pesquisadores, como Jean-Baptiste de Lamarck, tinham se ocupado da evolução das espécies. A teoria de Darwin da 'seleção natural' baseou-se, em parte, nele. Em uma geração de girafas há, por acaso, uma cujo pescoço é mais longo que o dos outros. Tal fato representa uma clara vantagem na busca por comida, já que esta conseguiria pegar as folhas das árvores mais altas. Isso a tornaria mais resistente, permitindo que vivesse e se reproduzisse por mais tempo. Darwin acreditava que a característica do pescoço longo seria passada às próximas gerações, como uma forma de seleção encontrada pela natureza.
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Répteis exóticos
Darwin encontrou répteis marinhos que o surpreenderam. Como as ilhas Galápagos não oferecessem alimentos em terra, os animais mergulhavam no mar, ficando até 15 minutos embaixo da água. Isso, para os répteis, era algo muito incomum. Darwin concluiu daí a capacidade de adaptação dos animais para poderem sobreviver.
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Galápagos
O arquipélago de Galápagos, formado por 58 ilhas na costa do Equador, foi um importante ponto de pesquisa para Darwin. O local o impressionou pela biodiversidade, tendo contribuído de maneira significativa para a elaboração da Teoria da Evolução. Apesar das difíceis condições de sobrevivência nas ilhas, Darwin encontrou ali grande diversidade de espécies (animais e vegetais) e viu somente uma explicação para isso: a adaptação.
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A expedição
Com o navio britânico HMS Beagle, em 1831, Charles Darwin iniciou aos 22 anos de idade uma viagem de cinco anos ao redor do mundo. Assim, conheceu o Brasil, a Argentina, o Chile, a Austrália e a Nova Zelândia. Suas longas observações foram registradas num diário, juntamente com desenhos dos objetos de pesquisa.