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TV alemã liga balas da Haribo a trabalho escravo no Brasil

19 de outubro de 2017

Documentário denuncia graves problemas na cadeia de produção das famosas balas de goma "gummibärchen": escravidão moderna na colheita de folhas de carnaúba no Nordeste brasileiro e maus-tratos a porcos na Alemanha.

Pacotes de balas de goma da Haribo
Haribo produz diversos tipos de bala de goma, sendo os ursinhos coloridos o mais famoso delesFoto: Patrik Stollarz/AFP/Getty Images

A fabricante de balas alemã Haribo foi posta na defensiva nesta semana por um documentário da emissora pública alemã ARD que denunciou condições precárias na produção de ingredientes dos famosos gummibärchen (balas de goma colorida em formato de ursinhos) e outros produtos, que são vendidos em todo o mundo, inclusive no Brasil.

O documentário de 45 minutos encontrou problemas na produção de cera de carnaúba no Brasil e de gelatina animal na Alemanha.

Leia mais: Brasil deixa de ser referência no combate ao trabalho escravo, diz OIT

A cera de carnaúba, que é usada para dar brilho aos gummibärchen e impedi-los de grudarem uns nos outros, é obtida das folhas da carnaúba, uma palmeira do Nordeste brasileiro. A cera também é usada em produtos como óleo automotivo, cera para sapatos e fio dental, e as exportações anuais para vários países, principalmente Estados Unidos, Japão e Alemanha, chegam a 118 milhões de dólares, afirmou o documentário.

Escravidão moderna

Os responsáveis pelo documentário descobriram que a Haribo compra cera de carnaúba de fazendas onde os trabalhadores recebem até 40 reais por dia para cortar as folhas com longas e pesadas foices, sob sol escaldante e sem roupas adequadas. A planta tem espinhos cortantes, que podem ferir os trabalhadores.

Em muitos casos, os trabalhadores são forçados a dormir ao relento ou em contêineres, não têm banheiros e bebem água não filtrada de rios. Alguns são menores de idade. As condições nas fazendas são tão ruins que a polícia brasileira costuma fazer ações para libertar trabalhadores, afirmou o documentário.

Sergio Carvalho, um funcionário do Ministério do Trabalho em Fortaleza, disse que as denúncias contra a indústria da cera de carnaúba estão aumentando, e que as autoridades já encontraram inúmeras pessoas trabalhando em condições que poderiam ser descritas como escravidão.

"Os trabalhadores são tratados como objetos, pior que animais", afirmou. "Fico imaginando como os pais das crianças do primeiro mundo que comem essas balas se sentiriam se soubessem que o produto tem o DNA do trabalho escravo."

O escritório alemão da Anistia Internacional afirmou que as empresas alemãs são responsáveis, bem como o governo, por verificar se seus fornecedores respeitam os direitos humanos.

"Se há abusos, as empresas devem corrigir o problema e pagar indenizações", disse a especialista em economia Lena Rohrbach, da Anistia. "Infelizmente, o governo alemão falha na hora de forçar as empresas a cumprir seu dever." 

Maus-tratos a porcos

O documentário também mostrou imagens de fazendas de criação de porcos no norte da Alemanha, feitas por um grupo de proteção dos animais. As fazendas, que não foram identificadas, vendem pele de porco para a empresa Westfleisch, que a processa para um fornecedor de gelatina da Haribo, a Gelita.

As imagens mostram animais com feridas abertas ou graves erupções cutâneas, vivendo em estábulos fechados, em meio aos próprios excrementos, moscas e vermes e, em alguns casos, entre porcos mortos. Alguns tinham a água cortada durante a noite. As peles desses porcos viram gelatina para os gummibärchen da Haribo, afirmou o documentário.

Veterinários entrevistados pelo programa disseram que as condições violam abertamente as leis alemãs de proteção dos animais. A organização Tierretter, que gravou as imagens de forma clandestina, afirmou que "chega a ser cínico que um produto que é, em parte, fabricado sob condições tão cruéis para os animais receba a forma de um animal simpático [urso]".

"Queremos levar alegria para crianças e adultos"

Em resposta, a Westfleisch afirmou que não estava ciente de quaisquer violações das leis de proteção dos animais em suas fazendas, e a Gelita afirmou que apoia todas as medidas para a "criação de animais de forma apropriada à espécie".

A Gelita também afirmou que a pele de animais que a empresa processa vem "exclusivamente de animais saudáveis, que são abatidos em abatedouros autorizados e sujeitos à fiscalização."

Já a Haribo afirmou que não estava ciente de qualquer violação de suas normas de produção, mas que vai abordar a questão com seus fornecedores "de forma proativa". "Somos uma empresa que quer levar alegria para crianças e adultos. Não podemos aceitar o desrespeito a normas sociais e éticas."

A Haribo acrescentou que trabalha de forma preventiva para detectar problemas ao longo de toda a sua cadeia de produção. A empresa com sede em Bonn, no oeste da Alemanha, afirmou ainda que desconhecia se as fazendas de porcos mostradas eram de fato de um de seus fornecedores e que vai buscar mais informações com a ARD.

AS/dw/ots

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