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Mídia

Sonia Phalnikar (sv)27 de abril de 2007

Participação de âncora de origem estrangeira num telejornal alemão é vista como uma verdadeira revolução na mídia do país.

Teuto-iraquiana Dunja Hayali: cara nova numa das principais emissoras do paísFoto: picture-alliance/dpa

Ainda neste mês de abril, a jornalista alemã de origem iraquiana, Dunja Hayali, deverá quebrar a tradição dos telejornais de horário nobre de uma principais redes de TV de direito público do país: a ZDF. Hayali será a primeira âncora descendente de imigrantes, numa Alemanha em que um quinto da população, hoje, possui pais estrangeiros.

Em busca da normalidade

Especialistas chamam a atenção para a intrigante ausência de jornalistas imigrantes nos principais órgãos de mídia do país. "Há uma cautela geral na Alemanha em relação ao contato com outras ascendências e culturas e isso reflete-se também na televisão", diz Minou Amir-Sehhi, uma jornalista teuto-iraniana, que trabalha como free lancer para a emissora nacional ARD.

Em toda a mídia do país, o índice estimado de jornalistas com raízes estrangeiras é de meros 3%. Uma percentagem bem menor que a de outros países europeus. Além do fato de que vários deles trabalham em redações de viés claramente multicultural, ou seja, em nichos à parte das principais emissoras, ou em canais de TV privados como a MTV.

Entrada revolucionária

Cadeias de TV de direito público: também financiadas por minorias pouco representadas na telaFoto: picture-alliance/ dpa

Diante disso, a entrada de Hayali no rol dos âncoras do país é "bem revolucionária", avalia Amir-Sehhi. "É um sinal de normalidade, quando você tem um descendente de imigrantes lendo as notícias ou os resultados do futebol no telejornal da noite, em vez de continuar mostrando os imigrantes somente como um problema ou como estereótipos exóticos", completa a jornalista.

O debate em torno da integração de minorias no país fez com que o governo alemão, há pouco, reivindicasse das emissoras públicas de televisão uma abertura maior em relação à contratação de profissionais com "background imigrante", como se costuma definir os descendentes de estrangeiros no país.

"Temos que tornar os imigrantes mais visíveis na TV alemã. Ter uma apresentadora turca tem que passar a ser uma coisa normal. Precisamos de mais repórteres que conheçam melhor o universo dos imigrantes e possam, assim, traduzi-los", afirma Maria Böhmer, encarregada do governo federal para questões relacionadas a estrangeiros e imigração, .

Outros exemplos europeus

Harry Roselmack, apresentador francêsFoto: itele

Numa comparação européia, a Alemanha possui muito menos jornalistas descendentes de estrangeiros que o Reino Unido, onde grandes emissoras como a BBC, por exemplo, possuem há muito apresentadores negros ou de origem asiática. Na França, o âncora negro Harry Roselmack conduz o telejornal mais popular do país.

Nos casos do Reino Unido e da França, boa parte dos imigrantes vêm das ex-colônias britânicas e francesas, o que significa que muitos dominam o idioma do país com perfeição, tendo, por isso, o acesso mais fácil a um emprego na mídia.

Falta de pessoal?

O argumento de muitas cadeias de TV na Alemanha é de que há enormes dificuldades em encontrar jornalistas de origem estrangeira. "O pool de potenciais jornalistas imigrantes é minúsculo, provando que mostrar a diversidade não tem sido uma prioridade para as redes de mídia", diz Lutz Michel, diretor do Instituto de Pesquisa de Mídia, sediado em Essen.

Deficiência na formação: obstáculo para ocupar postos na mídia?Foto: dpa - Bildfunk

Michel acredita que deficiências no domínio do idioma, falta de influências acadêmico-literárias em casa e uma educação escolar insuficiente são alguns dos fatores que acabam afastando da carreira muitos possíveis jornalistas filhos de pais estrangeiros.

Uma pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no último ano, aponta que filhos de famílias de imigrantes na Alemanha têm menos chances de obter sucesso no sistema escolar do país do que os mesmos descendentes de estrangeiros em quase todos os outros países industrializados.

Um longo caminho

A maioria dos analistas que se ocupam de questões relacionadas ao baixo número de jornalistas estrangeiros no cenário da mídia alemã acredita que políticos, emissoras e escolas de jornalismo deveriam unir esforços para mudar este quadro. Investir, a médio e longo prazo, na formação de jornalistas vindos de grupos minoritários é a única forma de fazer com que eles ocupem um espaço maior na mídia alemã do futuro.

"Somente quando tivermos um repórter negro enviando suas matérias diretamente do Parlamento alemão é que poderemos dizer que aceitamos verdadeiramente a realidade e a condição da Alemanha como um país de imigrantes", acredita a jornalista Amir-Sehhi.

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