TV marroquina se desculpa por ensinar a esconder hematomas
29 de novembro de 2016
Programa matinal no Marrocos exibe tutorial de maquiagem a mulheres que precisam disfarçar marcas da violência doméstica. Vídeo viraliza e gera enxurrada de críticas. "Erro de julgamento", reconhece a emissora.
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Após uma enxurrada de críticas desde que um vídeo seu viralizou na internet, o canal de televisão marroquino 2M se desculpou publicamente nesta segunda-feira (28/11) por ter exibido, na semana passada, um tutorial de maquiagem para esconder marcas da violência doméstica.
O programa foi ao ar na quarta-feira passada, dia 23 de novembro, às vésperas do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, mas passou despercebido num primeiro momento. Ao ser disponibilizado online no dia seguinte, o vídeo gerou comentários revoltados nas redes sociais.
As imagens – removidas do site da emissora, mas ainda disponíveis no YouTube – mostram uma mulher cheia de hematomas que, segundo a apresentadora do programa, não passam de "efeitos cinematográficos". Uma maquiadora convidada começa então o tutorial para esconder os roxos.
"O verde é usado, com a ajuda de um pincel, para camuflar a parte avermelhada", diz a especialista, que sugere ainda o uso de "um corretivo mais amarelado" para cobrir os olhos escurecidos pelos hematomas. Durante o programa, ela afirma ainda que seu objetivo é trazer "soluções a mulheres que precisam desses conselhos para continuar a sua vida e ir ao trabalho".
Na sexta-feira, o canal 2M emitiu um comunicado dizendo que o tutorial foi "completamente inapropriado" e, nesta segunda-feira, publicou um vídeo no Facebook se desculpando mais uma vez.
"Nós sempre colocamos as mulheres no centro de nossos debates e defendemos seus direitos com todo coração", afirma o vídeo, citado por agências de notícias internacionais. "Pedimos desculpas por exibir o quadro, que foi um erro de julgamento de nossa parte, e imploramos por sua compreensão."
Segundo a organização Human Rights Watch, "a brutalidade cometida contra as mulheres é algo comum" no Marrocos. Nesta segunda-feira, Janet Walsh, diretora do departamento de direito feminino da ONG, disse que o país "ainda discute um projeto de lei sobre a violência doméstica".
Um estudo oficial realizado em 2009 e 2010 no Marrocos concluiu que quase dois terços das mulheres marroquinas foram vítimas de violência física, psicológica, sexual ou econômica. Entre elas, aproximadamente 55% disseram ter sido vítimas de violência dentro de casa.
EK/afp/ap/lusa/ots
Mulheres que sobreviveram ao ácido
A fotógrafa alemã Ann-Christine Woehrl retratou mulheres de vários países que foram vítimas de ataques com ácido ou com fogo. E descobriu nelas uma força incomum.
Foto: DW/M. Griebeler
Farida, de Bangladesh
O marido de Farida era viciado em drogas e no jogo. Ele perdeu tanto dinheiro que teve que vender a casa. Farida ameaçou deixá-lo. Nessa noite, enquanto ela dormia, ele derramou ácido sobre ela e trancou a porta com duas fechaduras. Ela gritou tão alto que os vizinhos vieram correndo. Eles tiveram que arrombar a porta.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Cicatrizes que ficam
Quando isso aconteceu, Farida tinha 24 anos. Desde então ela foi operada 17 vezes. Para manter as cicatrizes flexíveis, a mãe dela massageia regularmente as lesões. Farida mora com a irmã em Manigkanj, em Bangladesh. Ela não tem mais uma casa dela.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Flavia, de Uganda
Em 2009, Flavia foi atacada por um estranho em frente à casa dos pais. Ela não sabe até hoje quem ele era. Mas decidiu: a vida continua. Nesta foto, ela se arruma antes de ir para uma aula de salsa.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Apoio da família e amigos
Antes ela não saia de casa, mas agora dança uma vez por semana – e não dá tempo nem de recuperar o fôlego, pois é frequentemente convidada para dançar pelos homens. O que a ajudou muito foi o apoio da família e dos melhores amigos.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Neehari, da Índia
A indiana Neehari tentou, aos 19 anos, por desespero, tirar a própria vida. O marido a agredia física e emocionalmente.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Uma nova beleza
Neehari penteia o cabelo no quarto dos pais, onde ela pôs fogo em si mesma. Foi o último, o 49° palito de fósforo, que finalmente acendeu. Hoje ela tem coragem, uma tatuagem e sua própria organização, "Beleza das Mulheres Queimadas".
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Nusrat, do Paquistão
A paquistanesa Nusrat foi ataca com ácido pelo marido e pelo cunhado – e sobreviveu. Em seu quarto, ela termina de se arrumar para sair de casa. "Eu conheci muitas mulheres que realmente sabem usar o delineador com cuidado", comenta a fotógrafa Ann-Christine Woehrl.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Esperança à vista
Durante o ataque com ácido, Nusrat perdeu muito cabelo. Nesta foto, ela está em uma consulta médica. O médico a informa sobre os próximos passos. O primeiro transplante de cabelos já foi feito.
Foto: Ann-Christine Woehrl/Echo Photo Agency
Entre amigos
Num encontro da Fundação para Sobreviventes de Ácidos, Nusrat tem a oportunidade de manter contato com outras mulheres. Aqui estão pessoas que entendem umas às outras. E todas percebem que não estão sozinhas.