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Ucrânia acusa Putin de levar civis à força para a Rússia

25 de março de 2022

Autoridades de Kiev afirmam que 400 mil pessoas foram levadas e que Moscou pode estar planejando usar deslocados como "reféns". Russos confirmam números, mas afirmam que pessoas saíram voluntariamente.

Mariupol
Ucranianos fogem de Mariupol após ataque russoFoto: Maksim Blinov/SNA/IMAGO

As autoridades ucranianas denunciaram que centenas de milhares de civis ucranianos estão sendo levados à força para a Rússia e que o regime de Vladimir Putin pode estar planejando usar muitos de civis "como reféns para exercer mais pressão" sobre Kiev.

A comissária de Direitos Humanos do Parlamento da Ucrânia, Lyudmyla Denisova, disse na quinta-feira (24/03) que 402 mil pessoas, incluindo 84 mil crianças, foram levadas. Entre este grupo, segundo Denisova, estava uma mulher de 92 anos de Mariupol, que teria sido forçada a ir para Taganrog, no sul da Rússia.

Os números são semelhantes aos apresentados pela Rússia, embora o Kremlin tenha sublinhado que essas pessoas o fizeram de livre vontade.

As pessoas transportadas para a Rússia são essencialmente provenientes das regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, onde separatistas apoiados por Moscou lutam pelo controle das áreas há quase oito anos, apontou o coronel russo Mikhail Mizintsev.

Em 18 de fevereiro, líderes separatistas apoiados pela Rússia ordenaram uma evacuação de civis das regiões em antecipação à invasão do oeste da Ucrânia.

Já o governador ucraniano da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, afirmou que "as pessoas estão sendo deslocadas à força para território de um Estado agressor".

As autoridades ucranianas também apontaram, que além de terem tido seus passaportes confiscados, os deslocados estão sendo transportados para "campos de triagem" no leste ucraniano, antes de serem enviados para áreas distantes na Rússia.

Entre esta população, estariam 6.000 habitantes de Mariupol, cidade portuária a leste do país devastada pela invasão, acusou o Ministério das Relações Exteriores ucraniano.

Os serviços de inteligência ucranianos alertaram, por sua vez, que alguns cidadãos podem estar sendo levados para lugares tão distantes como Sakhalin, uma ilha no oceano Pacífico, onde lhes é oferecido trabalho sob a condição de não deixarem a região nos próximos dois anos.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia disse ainda acreditar que a Rússia quer usar estas pessoas "como reféns para exercer mais pressão sobre a Ucrânia".

Guerra completa um mês

Num balanço à invasão russa, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou na quinta-feira ao país para manter a defesa militar, dizendo que o caminho para "a vitória está se aproximando". 

"Não podemos parar por um minuto", disse, em vídeo, ao país.

Zelensky ainda mencionou que milhares de pessoas, incluindo 128 crianças, morreram no primeiro mês de guerra. Em todo o país, 230 escolas e 155 jardins-de-infância foram destruídos. Cidades e vilas "estão em ruínas", apontou o presidente.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar contra a Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.035 mortos, incluindo 90 crianças, e 1.650 feridos, dos quais 118 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,7 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada por boa parte da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamentos para a Ucrânia e a imposição de sanções económicas e políticas ao regime de Putin.

jps (Lusa, AP, ots)