Ucrânia altera data em que celebra vitória na Segunda Guerra
8 de maio de 2023
País deixará de comemorar derrota da Alemanha nazista pelos Aliados em 9 de maio, como fazem a Rússia e muitas ex-repúblicas soviéticas, e passará a fazer isso no 8 de maio, se alinhando à maioria dos países europeus.
Anúncio
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta segunda-feira (08/05) que a Ucrânia trocará a data em que comemora a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Em vez de 9 de maio, como vinha fazendo nas últimas décadas, a data será celebrada no 8 de maio.
O anúncio simboliza um rompimento com a história da Ucrânia como parte da antiga União Soviética. A Rússia e muitas ex-repúblicas soviéticas celebram a vitória sobre os nazistas em 9 de maio, enquanto o 8 de maio é comemorado na maioria dos países da Europa.
"Hoje estou enviando um projeto de lei à Verkhovna Rada [Parlamento] da Ucrânia propondo que o dia 8 de maio seja o Dia da Lembrança e da Vitória sobre o Nazismo na Segunda Guerra Mundial de 1939-1945", disse Zelenski em uma mensagem em vídeo gravada em frente a um memorial de guerra em Kiev.
A diferença entre as duas datas
A Rússia comemora a derrota dos nazistas em 9 de maio pois a rendição alemã foi intencionalmente assinada às 23h01 da noite de 8 de maio em Berlim, quando o calendário já indicaria 9 de maio em Moscou, dando à União Soviética um dia só seu para marcar a data.
Moscou chama o 9 de maio de "Dia da Vitória", enquanto o 8 de maio é conhecido em países europeus como "Dia da Vitória na Europa". A Segunda Guerra Mundial terminaria mais tarde naquele ano, com a rendição incondicional do Japão em setembro de 1945.
Zelenski disse que a Ucrânia, assim como outras nações europeias, adotaria o dia 9 de maio como "Dia da Europa", uma celebração da "paz e unidade na Europa".
"Juntamente com toda a Europa livre, celebraremos o Dia da Europa em 9 de maio na Ucrânia. Uma Europa unida, cuja base deve ser e será a paz", disse.
"Comemoraremos nossa unidade histórica – a unidade de todos os europeus que destruíram o nazismo e destruirão o rashismo [termo que o governo ucraniano costuma usar para se referir a fascismo russo]."
Anúncio
Embaixador: Rússia esqueceu o mantra "nunca mais"
Também nesta segunda-feira, o embaixador ucraniano na Alemanha, Oleksii Makeiev, participou ao lado do prefeito de Berlim, Kai Wegner, de uma cerimônia para depositar flores no memorial Neue Wache, que homenageia as vítimas da Segunda Guerra Mundial.
Makeiev havia dito que não colocaria flores em nenhum dos memoriais soviéticos na capital alemã, como vinha sendo feito no passado.
"Não posso ir ao memorial soviético", afirmou ele à DW. Ele disse que, entre outros motivos, opunha-se ao fato de esses memoriais ostentarem as datas de 1941 a 1945, abrangendo somente o período após a Alemanha ter rompido seu pacto de não agressão e atacado a União Soviética, sem mencionar o período inicial da guerra, quando Adolf Hitler e Josef Stalin tentaram dividir a Europa Oriental entre si.
"A Ucrânia e os ucranianos deram uma contribuição muito importante para a vitória. E para a eliminação do nazismo na Europa", disse Makeiev. "Estamos sempre dizendo 'nunca mais'. Mas, infelizmente, a Federação Russa trouxe a guerra para a Europa no século 21, e está usando praticamente os mesmos métodos da Alemanha nazista na Ucrânia."
Horror diante da volta da guerra à Europa
O Comitê Internacional de Auschwitz afirmou nesta segunda-feira que as ex-vítimas dos nazistas estavam perturbadas com o retorno da guerra ao continente.
"A maioria dos que sobreviveram aos campos de concentração e extermínio da Alemanha viu o fim da Segunda Guerra Mundial e sua libertação das mãos de seus possíveis assassinos como sua vitória. Eles esperavam sinceramente que a Europa deixasse a guerra para trás, com o fim dos combates e a promoção de seus horrores, sofrimentos e crimes", disse Christoph Heubner, vice-presidente executivo do comitê.
"Eles estão ainda mais horrorizados por vivenciarem mais uma vez, no final de suas vidas, uma guerra sórdida e mentirosa de agressão na Europa, que também os atinge no coração e os empurra de volta para a escuridão", disse Heubner sobre o ataque da Rússia à Ucrânia.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, comemorou o aniversário com elogios às forças aliadas que derrotaram o regime de Hitler, descrevendo o dia 8 de maio como um dia de "libertação" (e não de derrota), ecoando um famoso discurso do ex-presidente alemão Richard von Weizsäcker.
"Vivemos em liberdade hoje porque outros lutaram por nossa liberdade", disse Baerbock. "O fato de o dia 8 de maio ter sido um dia de libertação para a Alemanha e a Europa é nossa imensurável sorte, mesmo 78 anos depois."
bl/lf (AFP, dpa, Reuters)
Memoriais do fim da Segunda Guerra
A Alemanha capitulou incondicionalmente em 8 de maio de 1945, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Memoriais em todo país lembram a libertação pelos Aliados.
Foto: picture-alliance/dpa/Thomas Frey
Memorial do campo de concentração de Dachau
Em 29 de abril de 1945, soldados americanos libertaram o campo de concentração perto de Munique. Em 1965, foi erigido o memorial no local. Para lembrar as vítimas das atrocidades nazistas, esta escultura do artista judeu Nandor Glid foi instalada ali em 1968. Sobrevivente do Holocausto, ele também perdeu muitos familiares em campos de concentração.
Foto: picture-alliance/ImageBroker/H. Pöstges
Ponte em Remagen
Forças americanas tomaram a ponte ferroviária em Remagen, ao sul de Colônia, em 7 de março de 1945. Milhares de soldados americanos conseguiram atravessar assim o Reno e invadir a Alemanha, no episódio que entrou para a história como o "Milagre de Remagen". A ponte foi danificada na batalha e desabou dez dias após a captura. Hoje existe um museu no que restou das torres da ponte.
Foto: picture-alliance/dpa/Thomas Frey
Batalha da floresta de Hürtgen
As forças americanas entraram em choque várias vezes contra a Wehrmacht alemã na floresta de Hürtgen, no extremo oeste alemão. A batalha, de setembro de 1944 até fevereiro de 1945, é considerada uma das mais longas e mais significativas em solo alemão. A floresta de Hürtgen hoje faz parte da "Rota da libertação da Europa", um roteiro de rememoração do avanço das forças Aliadas.
Foto: picture-alliance/dpa/Oliver Berg
Cemitério de Guerra na Floresta de Reichswald
Enquanto os soldados americanos mortos geralmente eram levados de volta aos EUA, os britânicos foram enterrados em 15 cemitérios na Alemanha. O maior deles é o Cemitério de Guerra da Floresta de Reichswald, perto da fronteira com a Holanda. Das 7.654 pessoas ali enterradas, cerca de 4 mil eram pilotos e tripulações de aviões de combate, muitos deles canadenses.
Foto: Gemeinfrei/DennisPeeters
Memorial de Seelow
Os soviéticos iniciaram a última grande ofensiva a partir do leste em 16 de abril de 1945. A Batalha de Seelow começou com bombardeios já ao amanhecer, para abrir caminho até Berlim. Por três dias, mais de 900 mil soldados soviéticos, incluindo 78 mil poloneses, enfrentaram cerca de 90 mil soldados alemães. O memorial relembra a maior batalha da 2ª Guerra em solo alemão e seus milhares de mortos
Foto: picture-alliance/dpa/Patrick Pleul
Dia do Elba em Torgau
As forças soviéticas e americanas se encontraram em solo alemão em Torgau, às margen do rio Elba, em 25 de abril de 1945, marcando o fechamento da lacuna entre as frentes oriental e ocidental. O fim da guerra se aproximava e o aperto de mão dos soldados virou uma imagem icônica. A data é lembrada todos os anos no Dia do Elba, mas em 2020 foi cancelada devido à pandemia do coronavírus.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Museu Teuto-Russo de Berlin-Karlshorst
Os representantes das Forças Armadas alemãs ratificaram a rendição incondicional, de 8 de maio, nos primeiros minutos de 9 de maio de 1945, na escola de oficiais da Wehrmacht em Berlim-Karlhorst. Hoje, o Ato de Rendição original, escrito em inglês, alemão e russo, é a principal peça do museu. Uma exposição permanente foca a guerra nazista de aniquilação contra a União Soviética, iniciada em 1941.
Foto: picture-alliance/ZB
Memorial de Guerra Soviético
O tamanho do memorial em Treptow, Berlim, é impressionante. O memorial, incluindo o cemitério militar, cobre uma área de cerca de 100 mil m2. Ele foi construído após a 2ª Guerra em homenagem aos soldados do Exército Vermelho mortos na Batalha de Berlim. Um par de bandeiras soviéticas estilizadas, feitas de granito vermelho, serve como portal para o memorial.
Foto: picture-alliance/ZB/Matthias Tödt
Conferência no Palácio Cecilienhof
Após a rendição da Alemanha nazista, os chefes de governo das três principais forças Aliadas se encontraram no Palácio Cecilienhof, em Potsdam, em julho de 1945. Joseph Stalin, Harry S. Truman e Winston Churchill lideraram as delegações na chamada Conferência de Potsdam, para estabelecer a ordem do pós-guerra na Europa. Uma de suas decisões foi dividir a Alemanha em quatro zonas de ocupação.
Foto: picture-alliance/dpa/Ralf Hirschberger
Museu dos Aliados
Berlim também foi dividida em quatro setores. O bairro Zehlendorf tornou-se o setor americano. Aqui, o antigo cinema do exército dos EUA, Outpost, tornou-se parte do Museu dos Aliados. Ele documenta a história política e os acordos militares dos aliados ocidentais em Berlim - detalhando a ocupação de Berlim Ocidental em 1945, o corrredor aéreo para a cidade e a saída das tropas americanas em 1994.
Foto: AlliiertenMuseum/Chodan
Palácio Schönhausen em Berlim
Neste palácio barroco prussiano ocorrreram as conversações do Tratado Dois-Mais-Quatro, em 1990, entre o governo alemão e as potências que ocuparam a Alemanha após a guerra: EUA, Reino Unido, França e União Soviética. Elas renunciaram a todos os direitos que detinham na Alemanha, abrindo caminho para a Reunificação alemã. Placas lembram que foi aqui que a 2ª Guerra efetivamente terminou.