Ucrânia diz ter retomado mais de 20 localidades em 24 horas
12 de setembro de 2022
Avanço rápido de tropas ucranianas no leste do país, facilitado por retirada das forças russas, pode representar guinada no conflito. Kremlin reconhece abandono, mas garante que seus objetivos "serão alcançados".
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As forças ucranianas recuperaram mais de 20 cidades e vilarejos em apenas 24 horas, segundo comunicado do Estado-Maior da Ucrânia nesta segunda-feira (12/09). A reconquista de um vasto território é consequência do colapso das forças russas no leste do país invadido. Moscou reconheceu ter abandonado a cidade de Izium, principal reduto russo na região, mas não sem antes ter disparado mísseis contra usinas de energia, causando apagões em Kharkiv e localidades adjacentes.
"Estamos tomando o controle total, e medidas de estabilização estão sendo executadas", informou o Estado-Maior ucraniano. Milhares de soldados russos teriam abandonado suas posições, deixando para trás enormes estoques de munição e equipamentos militares.
Antes da retirada, a Rússia disparou mísseis contra usinas de energia, causando blecautes em Kharkiv e nas regiões de Poltava e Sumy. Kiev descreveu os ataques contra alvos civis como retaliação a seus avanços militares. Na manhã desta segunda-feira, a energia em Kharkiv já estava restabelecida em 80%, mas ainda não havia fornecimento de água, segundo o governador regional. Moscou, que nega atacar alvos civis deliberadamente, não se pronunciou.
Explosões em Kharkiv causam falta de energia e água
O Ministério da Defesa do Reino Unido – que tem emitido relatórios constantes sobre o avanço da guerra na Ucrânia – informou que a Rússia provavelmente ordenou que suas forças se retirassem de toda a região de Kharkiv a oeste do rio Oskil, abandonando assim a principal rota de abastecimento que sustentava as operações russas no leste ucraniano.
Segundo o Estado-Maior ucraniano, as tropas russas abandonaram igualmente Svatove, na província de Lugansk, cerca de 20 quilômetros a leste do rio Oskil. Essa informação não pôde ser confirmada de forma independente.
A principal conquista das forças ucranianos foi a retomada do controle sobre a cidade de Izium, que servia como uma espécie de centro de logística e abastecimento para as forças russas. Kiev acrescenta que os combates dos últimos seis meses causaram pelo menos mil mortes em Izium, e cerca de 80% da infraestrutura da cidade estaria destruída. Apenas 10 mil habitantes – cerca de 20% da população pré-guerra – permanecem na cidade.
Esse avanço das forças ucranianas – o mais rápido desde que os russos recuaram da capital Kiev, em março – potencialmente representa uma guinada no conflito. Em questão de dias, a Ucrânia retomou faixas de território que haviam custado a Moscou meses de dispendiosos combates para ocupar.
Segundo o comandante-chefe do Estado-Maior ucraniano, general Valeriy Zaluzhnyi, as tropas ucranianas retomaram mais de 3 mil quilômetros quadrados de território somente em setembro, avançando para um raio próximo de 50 quilômetros da fronteira com a Rússia.
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Kremlin garante que alcançará objetivos da "operação militar"
Caso ocorram outras retiradas russas, especialmente a leste do rio Oskil, as forças ucranianas podem estar capacitados a atacar o território que a Rússia e seus aliados locais ocupam desde 2014.
A Rússia respondeu aos avanços ucranianos com a breve e repetida mensagem de que "atingirá os objetivos de sua operação militar especial" na Ucrânia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentou que não se discutiu uma possível desmilitarização da usina nuclear de Zaporíjia, embora esta seja uma das principais recomendações da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) após visita ao local.
A ofensiva militar iniciada em 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia forçou quase 13 milhões de cidadãos a fugirem: mais de 6 milhões de deslocados internos e quase 7 milhões para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta como a pior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, mas sublinhou que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos ao fim do conflito.
pv/av (Reuters, Lusa, ots)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.