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Ucrânia e a desesperada procura por um presidente salvador

Roman Goncharenko av
31 de março de 2019

Eleição presidencial promete ser decisiva para o país abalado por crises e guerra, e dividido entre a Rússia e o Ocidente. Candidato favorito é um humorista de TV, mas sua vitória está longe de garantida.

Mulher sai de cabine de votação para presidenciais na Ucrânia
Locais de votação estão abertos desde a manhãFoto: Reuters/V. Fedosenko

Poucas vezes o resultado de uma eleição presidencial na Ucrânia esteve tão em aberto quanto na que se realiza neste domingo (31/03). Trata-se da primeira desde o pleito antecipado de maio de 2014, motivado pela fuga para a Rússia do então presidente Viktor Yanukovych, diante dos protestos dos oposicionistas.

Na época, a surpreendente vitória, já no primeiro turno, coube ao político e empresário Petro Poroshenko. Agora ele tem motivos para duvidar de sua reeleição, e um outro outsider está em rápida ascensão.

Cerca de 36 milhões de eleitores escolhem entre um total de 38 candidatos, a maioria sem qualquer chance. Segundo as pesquisas de intenção de voto, só três deles poderão participar do segundo turno, em 21 de abril.

O favorito é o apreciado humorista de TV Wolodymyr Zelensky, a quem as diferentes fontes atribuem entre 20% e quase 30% dos votos, à frente do atual presidente Poroshenko e da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, ambos com cerca de 17%.

Wolodymyr Selensky: um cômico aspira à presidênciaFoto: picture-alliance/Pacific Press/A. Gusev

Zelensky, de 41 anos, é conhecido por diversos shows satíricos e pela série cômica Sluha Narodu (Servidor do povo), em que representa um professor secundário que se torna presidente do país. A terceira temporada foi lançada poucos dias antes do pleito.

Ele se aproveita da imagem de forasteiro e preenche a demanda por uma cara nova, emplacando entre os eleitores jovens e concentrando em si as expectativas por uma espécie de salvador que resolverá os muitos problemas do país.

Em contrapartida, Poroshenko e Timoshenko são vistos como representantes do velho sistema, percebido como ineficaz. O chefe de Estado é de malquisto a odiado por muitos. Também devido às recentes revelações de corrupção na indústria armamentista estatal, o político de 53 anos parece abatido. Suas vitórias na política externa, como a isenção de visto para ucranianos na União Europeia, não anulam a decepção com os preços crescentes e o nepotismo.

Aos 58 anos, Timoshenko tem possivelmente a melhor oportunidade em sua carreira de tornar-se a primeira presidente da Ucrânia. No entanto, ela polariza fortemente e tem fama de inescrupulosa e sedenta de poder. Sua principal desvantagem, contudo, é estar há mais de 20 anos na política ucraniana, sendo, portanto, tudo, menos uma cara nova.

Ainda assim, não se pode dar como certa uma vitória de Zelensky. Seu eleitorado potencial parece se concentrar nas regiões de idioma russo, no Leste e no Sul do país. Além disso, os detratores o acusam de ser uma "marionete" do oligarca Ihor Kolomoyskyi.

Yulia Timoshenko: mais de 20 anos na política ucranianaFoto: Reuters/V. Ogirenko

Ambos rechaçam a acusação, mas estão conectados nos negócios. Kolomoyskyi trava contra Poroshenko uma espécie de briga pessoal devido a conflitos anteriores, por exemplo no setor bancário. No fim das contas, Zelensky também polariza muito e é considerado pró-russo, o que pode afastar os eleitores do Oeste do país.

Poroshenko apela principalmente aos ucranianos de espírito patriótico, apresentando-se como supremo comandante na luta contra os separatistas pró-russos do Leste ucraniano, e insinua que seus principais adversários seriam uma quinta coluna da Rússia. Ele dá peso aos próprios êxitos na política externa e pretende impulsionar o afastamento em relação à Rússia e a associação ao Ocidente.

Timoshenko aposta sobretudo na política interna, promete um recomeço e a reforma da Constituição no sentido de uma democracia puramente parlamentar. A promessa de gás mais barato visa os eleitores mais pobres. Ela quer também aproximar a Ucrânia da UE e da Otan.

Em seu programa eleitoral, Zelensky fica basicamente em promessas vagas, de cunho populista. Entre outros pontos, ele quer adotar mais democracia direta, através de referendos, e coloca o dedo nas feridas de numerosos ucranianos, como, por exemplo, a alta corrupção, salários e aposentadorias baixos ou o crescente imigração de trabalhadores.

Presidente Petro Poroshenko dificilmente repetirá façanha eleitoral de 2014Foto: Reuters/V. Ogirenko

Eleições anteriores no país foram obscurecidas por acusações de fraude e manipulação, levando à "Revolução Laranja" de 2004. Desde então, observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) atestaram votações relativamente justas. Agora, porém, são mais uma vez numerosas as advertências de manipulação: segundo um relatório parcial da OSCE, haveria "muitas acusações de compra de votos em todo o país".

Nesse contexto, aumenta a importância das consultas de boca de urna, realizadas logo à saída dos locais de votação. A possivelmente mais relevante entre elas é realizada por três institutos de pesquisa de opinião, financiada, entre outros, pelos Estados Unidos e a UE.

Além da guerra na região mineira de Donbass e da consequente necessidade de modernização das Forças Armadas nacionais, o novo chefe de Estado se verá diante de numerosas tarefas hercúleas, sobretudo a luta contra a corrupção, travada há longo tempo, porém sem convicção.

São necessárias reformas em praticamente todos os setores importantes, da Justiça e polícia à saúde. O futuro presidente possivelmente se confrontará com as consequências de uma eventual suspensão do transporte de gás para a Europa, a partir de 2020, o que pode debilitar a Ucrânia e torná-la mais vulnerável à desestabilização pela Rússia. Por fim, ainda não está claro que efeito terá sobre a sociedade a fundação, no fim de 2018, de uma Igreja Ortodoxa nacional independente de Moscou.

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