Considerada a maior estrutura móvel do mundo, redoma envolve o chamado "sarcófago", construído sobre reator nuclear destruído por um acidente há 30 anos. Edifício deve evitar saída de radiação pelos próximos 100 anos.
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A Ucrânia inaugurou oficialmente nesta terça-feira (29/11) a maior estrutura móvel do mundo, sobre o reator destruído da usina nuclear de Chernobyl.
"Muitas pessoas tinham dúvidas e se recusaram a acreditar que isso era possível", frisou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, em cerimônia festiva em frente à brilhante nova cúpula. "Mas, meus amigos, eu os parabenizo. Sim, nós conseguimos", acrescentou.
A redoma só estará funcionando plenamente no final de 2017, já que é necessário ainda instalar e colocar em funcionamento diversos equipamentos no interior da construção.
A estrutura, de 2,1 bilhões de euros, financiada por doações recolhidas pelo Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), foi colocada sobre uma cúpula já existente, que os soviéticos construíram apressadamente logo depois do desastre, mas que apresenta falhas estruturais e pode permitir vazamentos.
Desastre há três décadas
O desastre nuclear de Chernobyl completou três décadas neste ano. Em 26 de abril de 1986, uma explosão e um incêndio em um dos reatores causaram a destruição da cobertura da unidade, expondo o reator e lançando grandes quantidades de radiação em regiões da Ucrânia, Belarus e outras áreas mais distantes.
Para reduzir o risco, os engenheiros construíram em tempo recorde uma enorme estrutura de concreto armado – o chamado sarcófago, que envolveu o reator e se destina a deter a liberação de radiação para a atmosfera. Seu princípio de construção lembra o de um bunker.
Mas a proteção não é suficiente, pois a chuva e o clima corroem o enorme prédio erguido às pressas. As armações de aço estão parcialmente enferrujadas, e há buracos no teto. Engenheiros não descartam a possibilidade de o sarcófago vir a desmoronar um dia.
Pavilhão móvel
Já alguns anos após a construção do primeiro sarcófago ficou claro que um segundo edifício deveria ser construído por cima do primeiro. Em 1997, os países-membros do G7 decidiram pela implementação do projeto. Mais de 40 países participaram no financiamento, e a construção começou em 2010.
A nova edificação deveria ser mais poderosa, sendo capaz não somente de evitar a saída de radiação nuclear, mas também permitir que operários possam, em seu interior, começar a demolição da usina destruída. A nova estrutura em forma de arco possui em seu interior dois sistemas de ponte rolante com quase 100 metros de comprimento. Os guindastes rolam paralelamente em trilhos no chão e em trilhos no teto.
O pavilhão foi feito para resistir durante 100 anos, que também é o prazo para a demolição e eliminação de todos os resíduos radioativos da central nuclear destruída, incluindo as cerca de 150 toneladas de combustível nuclear.
30 anos depois, reator de Chernobyl receberá outra cobertura
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No entanto, ainda não se sabe quando devem começar os trabalhos de demolição e eliminação dos detritos nucleares. Atualmente, a Ucrânia não tem capacidade para financiar tal empreendimento.
Maravilha da engenharia
O escudo protetor é um dos maiores pavilhões já construídos pelo homem. Seus 108 metros de altura superam em um metro o detentor do recorde anterior, que era um antigo hangar de Zeppelin perto da cidade de Brand, ao sul de Berlim.
O vão de 257 metros é 47 metros maior do que o recordista anterior, construído para abrigar dirigíveis, que não chegaram a ser construídos. A construção ucraniana só perde em comprimento para o hangar. Ela tem 162 metros, enquanto o prédio alemão (que hoje abriga um resort tropical) tem mais que o dobro.
Entretanto, a estrutura tem traços marcantes de engenharia. Com suas 36 mil toneladas de aço (peso três vezes maior que o da Torre Eiffel), é capaz de resistir a um terremoto de magnitude 6 e a um furacão de intensidade 3.
Além disso, o sarcófago ainda é projetado para se mover. Pois ele não foi construído sobre o reator destruído, o que seria muito perigoso para os operários, mas a uma distância segura, de cerca de 330 metros da unidade.
Os engenheiros levaram o arco para seu destino, movendo-o sobre trilhos especiais, usando um potente sistema hidráulico, a uma velocidade de cerca de 10 quilômetros por hora.
A resistente fauna de Chernobyl
Trinta anos de contaminação radioativa não expulsaram os animais que habitam ao redor do antigo reator nuclear que explodiu em 1986. Um fotógrafo bielorrusso documentou a vida na região desabitada por humanos.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Quando os humanos se foram
Trinta anos após o desastre de Chernobyl, na antiga União Soviética, grandes áreas ao longo da usina nuclear, nos territórios que hoje são da Ucrânia e Belarus, ainda estão desertas por medo das consequências de longo prazo de um vazamento nuclear. Em vez de casas e edifícios, reaparecem águias, lobos, veados e outros animais.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Inóspito para humanos
Diferentes tipos de animais foram vistos no local, como esta raposa na foto tirada pelo fotógrafo bielorrusso da agência de notícias Reuters, Vasily Fedosenko, responsável por esta série de imagens. Segundo a agência, a ministra ucraniana do Meio Ambiente, Hanna Vronska, informou que "as pessoas não podem viver lá, é impossível, nem mesmo nos próximos 24 mil anos."
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Evacuados e realocados
O acidente ocorreu em 26 de abril de 1986, quando um experimento fracassado na usina nuclear na localidade de Pripyat levou a uma explosão no reator número 4, que fora construído somente três anos antes do desastre. Uma imensa quantidade de material radioativo foi liberada na atmosfera, espalhando-se para o resto da Europa. Mais de 350 mil pessoas foram evacuadas e realocadas entre 1986 e 2000.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Consequências pouco claras
Os pesquisadores continuam divididos sobre as implicações do desastre na flora e fauna da região, especialmente considerando a contradição entre os efeitos negativos da radiação e as conseqüências positivas da ausência humana. No entanto, parece que não se pode conter a natureza, como demonstra esta manada de bisões perto do vilarejo de Dronki, em Belarus.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Vilarejos abandonados
Reportagem de 2014 transmitida pelo programa "60 minutes", principal noticiário da emissora americana CBS, mostrou as ruínas quase intocadas de Pripyat, cidade abandonada na fronteira entre a Ucrânia e Belarus e que antes abrigava 50 mil pessoas. Aqui se veem restos de edifícios agrícolas perto do vilarejo bielorrusso de Pogonnoe, na declarada faixa de exclusão de 30 quilômetros.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Implicações de longo prazo
Muitas pessoas temem os efeitos de longo prazo para a saúde, provocados por tal ambiente radioativo. Em março, a Prêmio Nobel bielorrussa Svetlana Alexievich disse à DW: "todos os amigos que perdi nos últimos dez anos morreram de câncer. E não passa um dia em que eu não escuto de alguém que adoeceu ou morreu."
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Ninguém é imune
Um lobo olha para a câmera no vilarejo abandonado de Orevichi, em Belarus. Ainda que muitas espécies de plantas, flores e animais continuem a povoar a área em torno do reator nuclear, sabe-se que a taxa de mortalidade entre eles é maior que a média, e que eles sofrem de tumores e outras complicações. O impacto da radiação parece variar por espécie.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Perigo por séculos
"Foi bastante óbvio que padrões de deformação tenham prevalecido muito mais em áreas de alta contaminação", explicou o biólogo Timothy Mousseau à DW, após passar anos coletando insetos, aves e ratos mutantes da região de Chernobyl e Fukushima, no Japão. "Muitas áreas vão permanecer perigosas por séculos, ou até milênios", acrescentou. Aqui, alces são vistos perto de Dronki.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Efeitos em Belarus
Uma águia pousa sobre o telhado de uma escola no vilarejo abandonado de Tulgovichi, a cerca de 370 quilômetros ao sudeste de Minsk. A antiga república soviética de Belarus recebeu por volta de 70% da precipitação radioativa do acidente. Mais de 20% das terras agrícolas do país foram contaminadas.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Números pouco concludentes
Trinta anos depois, números precisos sobre casos de câncer causados pelo desastre de Chernobyl e pela contaminação indireta ainda não são concludentes. A quantidade de mortes atribuídas diretamente à explosão é de 31, mas até agora não há um quadro compreensível ou mesmo um consenso sobre o método usado para contabilizar os impactos na saúde.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
De uma geração a outra
O exame de animais, como este pica-pau visto perto do vilarejo de Babkhin, levou cientistas a acreditar que os efeitos da radiação são passados tanto através da cadeia alimentar quanto de uma geração a outra. Testes em animais provenientes da região de Chernobyl apontaram para um aumento das taxas de tumores, catarata e defeitos neurológicos, como tamanhos menores de cérebro.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Grande incerteza
Alguns pesquisadores acreditam que várias espécies encontradas hoje ao redor da área de Chernobyl não estavam lá antes do desastre. No entanto, essas suposições não foram confirmadas e, em sua maioria, os cientistas são cautelosos sobre tais declarações.