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Ucrânia prepara eleição em meio à crise

Stephanie Höppner (rc) 20 de maio de 2014

Cerca de 36 milhões de eleitores estão convocados a comparecer às urnas em todo o país. Mas a instabilidade no leste, parcialmente dominado por separatistas, pode comprometer a votação nessa região.

Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images

A eurodeputada alemã Barbara Weiler, do Partido Social Democrata (SPD), acompanhará de perto a eleição do novo presidente da Ucrânia. "Estaremos observando, por exemplo, o que vai acontecer nos locais de votação, se haverá propaganda eleitoral ilegal ou brigas", explicou. "Vamos também examinar cabines de votação, urnas, listas de eleitores. Também estaremos presentes nas seções eleitorais móveis", relata.

Weiler é uma dos observadores internacionais do Parlamento Europeu e tentará, ao lado de outros seis parlamentares, atestar que a eleição transcorreu normalmente – partindo do princípio de que ela vá mesmo ocorrer.

Pois, a menos de uma semana do pleito, ainda é incerto se o acesso aos locais de votação, em algumas partes do país, será permitido. A comissão eleitoral apontou numerosos problemas no leste do país, onde forças pró-Rússia se rebelaram contra o governo interino em Kiev. Devido aos combates entre tropas do governo e milícias rebeldes fortemente armadas, muitos locais sequer puderam iniciar os preparativos para a votação. Nas regiões de Donetsk e Lugansk, é praticamente impossível assegurar que a eleição venha a ser realizada.

Sem uma ação firme das forças de segurança da Ucrânia, quase dois milhões de eleitores poderão ficar sem acesso aos locais de votação. Weiler diz temer que isso aconteça. "A não ser que haja uma mudança brusca no leste ucraniano, é impossível garantir que o processo democrático transcorra normalmente em todo o país", alerta.

Weiler prevê que o processo democrático não vá transcorrer normalmente em todo o paísFoto: European Union PE-EP

As dificuldades para a realização da eleição se refletem também no trabalho dos observadores. O Serviço Europeu de Ação Externa, por exemplo, cancelou as viagens deles ao leste da Ucrânia. O mesmo vale para a cidade portuária de Odessa, no sul, que recentemente ganhou as manchetes internacionais quando 48 pessoas morreram em consequência de distúrbios entre ativistas pró-Kiev e pró-Moscou.

"Presumo que a própria Organização para a Segurança e Cooperação [OSCE] deverá visitar o leste do país. Do contrário, a situação vai ficar difícil", comenta Weiler, enfatizando que tal situação poderá comprometer a imparcialidade do pleito. Além dos representantes do Parlamento Europeu e da OSCE, haverá ainda observadores vindos de outros países e do Conselho da Europa.

Crise sem solução

No campo diplomático não houve maiores progressos para solucionar a crise na Ucrânia. O primeiro-ministro interino, Arseniy Yatsenyuk, reuniu-se no sábado passado (17/05) com o diplomata alemão Wolfgang Ischinger, com dois ex-chefes de Estado ucranianos e com representantes do leste do país em Carcóvia, na segunda rodada de negociações sobre a crise. Os separatistas não foram incluídos nas conversações, que não trouxeram resultados significativos.

Ainda assim, os participantes avaliaram que o encontro foi mais amplo por incluir também representantes da oposição vindos de regiões sob forte influência russa, como disse o ex-presidente ucraniano Leonid Kravtchuk. Yatsenyuk falou em proteção especial para o idioma russo e numa "descentralização do poder".

Para Gabriele Baumann, do escritório da Fundação Konrad Adenauer em Kiev, as conversas significaram uma passo na direção certa. Ela concorda que não há resultados concretos imediatos. "Mas é um começo ou a continuação de um diálogo entre diversas forças políticas, com exigências políticas divergentes". Para ela, não é possível saber que influência essas negociações terão sobre a eleição.

Enquanto isso, muitos políticos alemães, entre eles o ministro da Economia, Sigmar Gabriel, já falam em sanções à Rússia caso a eleição fracasse.

O primeiro-ministro interino, Arseniy Yatsenyuk (c), durante a segunda rodada de negociações sobre a criseFoto: picture-alliance/dpa

Legitimidade assegurada

Apesar do pessimismo em muitas regiões do país, na capital o clima não é tão sombrio. "De modo geral, as pessoas aqui em Kiev acreditam que as eleição vai acontecer", diz Baumann. Uma pesquisa recente mostra que aproximadamente 80% da população pretende comparecer às urnas. "É muito importante para o país que a eleição presidencial ocorra agora, para que haja um chefe de Estado legítimo", diz a especialista.

Mesmo que milhões de eleitores no leste da Ucrânia acabem impossibilitados de comparecer à votação, novas leis garantem a legitimidade do pleito mesmo que em algumas regiões a participação não seja grande. "Mesmo que muitos em Donetsk e Luhansk não possam votar, o pleito será válido", diz Baumann.

Weiler não é tão otimista. "Se a situação se agravar nos próximos dias, a eleição poderá ficar comprometida", alerta. Caso isso aconteça, a Ucrânia perderá uma oportunidade crucial para a paz no país.

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