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Ucrânia tem armas suficientes, afirma perito

Bernd Riegert, de Bruxelas (av)10 de fevereiro de 2015

Siemon Wezeman, do Sipri, questiona necessidade do polêmico fornecimento de armas. Derrotar os rebeldes não é questão de equipamento, mas de uma estratégia melhor.

Gefechte in der Ukraine Donezk
Foto: Manu Brabo/AFP/Getty Images

Desde que começou, em abril de 2014, o conflito no leste da Ucrânia, entre o Exército nacional e os separatistas pró-Rússia, já custou cerca de 5.400 vidas. Há meses o governo em Kiev vem pedindo aos Estados Unidos e aos países da União Europeia que forneçam armas para a luta contra os rebeldes, supostamente munidos de equipamento altamente moderno, disponibilizado pela Rússia.

No entanto, baseados em dados e estimativas, tanto o Armament Research Services (Ares), da Austrália, quanto o Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri) questionam a necessidade desse fornecimento.

A DW entrevistou o historiógrafo holandês Siemon Wezeman, especialista em armamentos convencionais do Sipri. Esse instituto financiado pelo Parlamento sueco investiga as exportações de armas e gastos militares em todo o mundo.

DW: O senhor se dedica, entre outros temas, à pesquisa do arsenal das Forças Armadas ucranianas. Que lado está atualmente mais bem equipado, os rebeldes pró-Rússia ou as Forças Armadas da Ucrânia? Quem dispõe de quê?

Siemon Wezeman: As Forças Armadas ucranianas estão mais bem armadas. Um exército regular tem sempre mais equipamento do que rebeldes. Ele dispõe das Forças Aéreas, de armas mais pesadas, ao contrário dos insurgentes, e tem uma organização muito maior. Há, de fato, um grande número de rebeldes, mas eles não são tão fortes quanto as forças nacionais.

Siemon Wezeman, especialista em armamentos convencionais do Sipri, em EstocolmoFoto: SIPRI

No entanto, afirma-se que os separatistas recebem armas russas ultramodernas, melhores do que as de que dispõem as Forças Armadas da Ucrânia. Essas informações procedem?

Não, isso não é o que eu constato. Os rebeldes empregam uma quantidade de equipamento bélico que saquearam. Uma parte vem de fora da Ucrânia, mas não é um arsenal muito avançado: é moderno, mas não supermoderno. E não é nada que o lado ucraniano também não tenha.

A Ucrânia era uma grande exportadora de armamento, sua indústria abastecia a Rússia e, antes, a União Soviética. Então, por que as Forças Armadas ucranianas não estão melhor equipadas?

Há dois problemas. Um é dinheiro: o orçamento de defesa da Ucrânia não é especialmente grande, considerando-se o tamanho das forças de combate do país. Portanto a modernização avançou muito lentamente, e quase não há verba para aquisições. O segundo problema: o pouco dinheiro disponível foi empregado sobretudo na revisão ou modernização de sistemas antigos, herdados da antiga União Soviética.

Consta que Kiev pediu armamento antitanques. A seu ver, a Ucrânia precisa mesmo desses sistemas?

Não, eu me surpreenderia se esse fosse o caso. Os rebeldes não empregam tantos tanques de combate; os que possuem são do mesmo tipo que usa o Exército nacional. A Ucrânia tem muitos tanques capazes de combater outros tanques; há uma grande quantidade de armas antitanques da época soviética ou de produção ucraniana mais recente. Eu acredito que a Ucrânia esteja mais interessada em aparelhos de visão noturna, equipamentos de reconhecimento militar e drones.

Os Estados Unidos e alguns países europeus consideram fornecer armas à Ucrânia. Isso realmente ajudaria? O Exército saberia operar esses sistemas totalmente diferentes?

Depende do que exatamente seria entregue. Armas antitanques são relativamente fáceis de operar: pode-se aprender, pois provavelmente são muito semelhantes aos sistemas existentes. Quando se trata de sistemas mais complexos, como um tanque ou um avião, é preciso tempo, sobretudo se forem muito diversos dos usados até então. Também no tocante a sistemas computadorizados, é preciso algum tempo até dominá-los, mas eles podem ser de grande efeito. Talvez por isso se queira adquiri-los.

Wezeman questiona afiirmativas sobre inferioridade bélica das tropas de KievFoto: Reuters/M. Levin

Por que as Forças Armadas ucranianas não são capazes de dar conta dos rebeldes, de derrotá-los? Afinal, seu contingente é maior do que as tropas separatistas. Qual é o problema?

Não estou muito seguro. Geralmente tem-se um exército grande e um grupo rebelde relativamente pequeno, que combate na própria terra natal, em parte apoiado pela população. Neste caso, a zona de combate fica, ainda, numa fronteira [com a Rússia], para além da qual os rebeldes podem recuar, se necessário, mas que as forças ucranianas não podem ultrapassar.

A questão é, sempre, como combater rebeldes que não são muito bem organizados. Por vezes, não há um front definido, e o adversário trava uma guerra de guerrilha. Contra rebeldes é necessário muito mais contingente do que contra um exército regular. Não é um questão de força, tamanho ou equipamento. O Exército ucraniano é grande e forte o suficiente para derrotar, em pouco tempo, qualquer exército convencional que seja do tamanho das forças rebeldes. Mas, para derrotar rebeldes, é preciso mais do que tamanho, força ou armamento.

Portanto a questão não é de armas, mas de estratégia e tática. Como combater insurgentes que se escondem numa cidade, numa área civil?

No fundo, é justamente essa a questão. Como lutar contra uma tropa que a qualquer momento pode se dissolver, adotar novas formações e voltar a surgir? Como atacar? A qualquer momento eles podem depor armas, vestir roupa civil, e ninguém é capaz de reconhecer se se trata de militares, combatentes ou o quê. Três dias mais tarde, as mesmas pessoas reaparecem como guerrilheiros uniformizados. Isso, é justamente, tática de guerrilha, que é bem difícil de enfrentar.

Quantos soldados mobilizados a Ucrânia tem, de fato? Nos últimos anos suas Forças Armadas foram reduzidas.

Depende de como se conta. Há soldados ativos e reservistas. Caso necessário, o país pode facilmente mobilizar vários milhões – se todos vão estar adequadamente armados, é uma outra questão. Em serviço ativo, a Ucrânia pode dispor de várias centenas de milhares de soldados, sem problema.

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