Ucrânia diz que russos estão "longe de capturar Bakhmut"
4 de abril de 2023
Kiev afirma que russos hastearam sua bandeira "sobre um banheiro qualquer" e nega tomada da cidade que se tornou palco de batalhas violentas. Moscou prende jovem suspeita de ataque a bomba que matou blogueiro militar.
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Autoridades ucranianas zombaram de uma declaração do comandante da ofensiva russa em Bakhmut sugerindo que suas tropas teriam conquistado a cidade, que vem sendo palco de intensos combates nas últimas semanas, e que seus soldados teriam erguido uma bandeira russa em um edifício da administração local.
A batalha pela cidade, considerada um importante centro de logística e de mineração, é uma das mais sangrentas desde o início da guerra na Ucrânia. Grande parte dos edifícios e casas ficaram destruídos, e os dois lados do conflito sofreram um grande número de baixas.
Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo Wagner, uma milícia russa formada por soldados mercenários que lidera o cerco a Bakhmut, afirmou neste domingo que suas tropas teriam hasteado a bandeira da Rússia em um edifício da administração pública, apesar de os soldados ucranianos controlarem posições dentro da cidade.
"Do ponto de vista legal, Bakhmut foi tomada", afirmou Prigozhin, que já acumula declarações prematuras sobre disputas territoriais na Ucrânia. Não há, porém, indicações de que a cidade, que tinha 70 mil habitantes antes do início do conflito, tenha caído para as tropas russas.
O Exército ucraniano relatou que ainda ocorrem combates ferozes em torno do edifício da administração pública em Bakhmut mencionado por Prigozhin, assim como nas cidades vizinhas.
"Bakhmut é ucraniana, eles não capturaram nada e ainda estão longe de fazê-lo", afirmou nesta segunda-feira (03/04) o porta-voz do Comando Militar do Leste, Serhiy Cherevatyi.
"Eles ergueram uma bandeira em cima de um banheiro qualquer. Amarraram ao lado de sabe-se lá o quê, penduraram seu trapo e disseram ter capturado a cidade. Muito bem, deixemos que pensem dessa forma", acrescentou Cherevatyi.
O Exército ucraniano afirmou em comunicado ter repelido 25 ataques inimigos em 24 horas, e definiu Bakhmut como o "epicentro das hostilidades", juntamente com as localidades de Avdiivka e Maryinka, mais ao sul.
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Presa suspeita de atentado a bomba
Uma jovem russa foi presa nesta segunda-feira, suspeita de estar por trás da explosão que matou o blogueiro militar Vladlen Tatarsky e feriu mais de 30 pessoas em um café de São Petersburgo, na Rússia.
Moscou alega que o ataque a bomba teria sido planejado por Kiev com a ajuda de apoiadores do líder da oposição Alexey Navalny, preso desde 2021 por acusações de fraude e corrupção. O opositor, alvo de uma tentativa de envenenamento cujas suspeitas recaem sobre o Kremlin, foi condenado em processos considerados fraudulentos por várias entidades internacionais.
A Ucrânia atribuiu o incidente a grupos de oposição ao regime do presidente Vladimir Putin dentro do próprio país. Entretanto, o Comitê Investigativo da Rússia e o Comitê Nacional Antiterrorismo acusaram ativistas pró-Navalny de serem os responsáveis pelo ataque.
O Comitê Investigativo divulgou um vídeo no qual a suspeita, a jovem Darya Trepova, de 26 anos, afirma ter "opiniões de oposição" e que seria uma apoiadora da Fundação Anticorrupção, uma entidade fundada por Navalny que acabou sendo banida na Rússia.
Mas, relatos não confirmados divulgados pela imprensa russa dizem que ela teria contado aos investigadores ter sido alvo de uma armação, narrativa também compartilhada por seu marido.
A detonação ocorreu no café Street Food Bar Nº 1, que, segundo a imprensa russa, pertence justamente a Yevgeny Prigozhin, o fundador do Grupo Wagner.
Tatarsky, cujo nome verdadeiro é Maxim Fomin, estaria participando de uma "noite patriótica", organizada pela Cyber Front Z, um grupo que se autointitula uma "tropa de informação da Rússia".
Ele foi correspondente na linha de frente da Ucrânia e chegou a participar da cerimônia do Kremlin, em setembro do ano passado, onde foi proclamada a anexação ilegal pela Rússia de quatro regiões parcialmente ocupadas da Ucrânia.
2º ataque a bomba desde a invasão da Ucrânia
Originalmente da região do Donbass, no leste da Ucrânia, Tatarsky era um dos mais proeminentes blogueiros militares da Rússia e tinha mais de 560 mil seguidores no Telegram. Em 2014, ele lutou como insurgente pela independência do Donbass, antes de começar a escrever o blog.
Embora fosse um defensor da guerra na Ucrânia, ele criticou alguns aspectos da campanha russa. Em seu blog, distribuía vídeos sobre o que estava acontecendo no front na Ucrânia e, mais recentemente, dava dicas a jovens soldados russos sobre como se comportar nas batalhas.
O ataque em São Petersburgo ocorre meses depois do assassinato da filha de um intelectual ultranacionalista russo em Moscou. Darya Dugina, uma filósofa e publicitária que apoiava a invasão da Ucrânia pela Rússia, morreu em agosto do ano passado quando seu carro explodiu nos arredores de Moscou. O Kremlin também culpa a Ucrânia pelo ocorrido.
O pai de Darya, Alexander Dugin, um dos gurus de Putin, elogiou Tatarsky como um "herói imortal", que "morreu para salvar a vida do povo russo".
rc (Reuters, AFP)
Bakhmut: a "fortaleza do Donbass" na linha de frente da guerra
Antes da invasão russa, Bakhmut tinha 70 mil moradores. Intensos combates entre tropas russas e ucranianas causaram mortes e destruição na estratégica cidade do Donbass, mas nem todos os civis a abandonaram.
Foto: LIBKOS/AP Photo/picture alliance
A cidade antes da destruição
Esta foto, tirada na primavera europeia de 2022, mostra murais com o tema "Família e Crianças" em Bakhmut. Em maio, a linha de frente da guerra chegou à cidade, e os tiros e bombardeios aéreos começaram. Muitas casas foram seriamente danificadas.
Foto: JORGE SILVA/REUTERS
"Você se sente um sem-teto"
Blocos de apartamentos no leste de Bakhmut foram os primeiros a serem atingidos por ataques russos. Hoje, os bairros se assemelham aos da cidade portuária destruída de Mariupol. "Você se sente um sem-teto, perdemos tudo. Não há para onde voltar", disse uma moradora chamada, Halyna, retirada de Bakhmut e cuja casa foi totalmente destruída.
Foto: Aris Messinis/AFP/Getty Images
Escola em ruínas
Dois professores de Bakhmut se abraçam em frente às ruínas de sua escola. Ela foi bombardeada pelo exército russo em 24 de julho de 2022. O prédio ficou bastante danificado. Não houve mortos ou feridos no ataque.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Patrimônio cultural em pedaços
O bombardeio russo causou a destruição de muitos prédios históricos importantes em Bakhmut, incluindo o Palácio da Cultura, a antiga casa particular do comerciante Polyakov da década de 1880 e o antigo ginásio para meninas. Edifícios mais modernos, que já foram o "cartão de visitas" de Bakhmut, também foram destruídos.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Preparativos para a retirada
Oleksandr Hawrys faz os preparativos finais para transferir a esposa e dois filhos de Bakhmut para Kiev. Em 7 de março de 2023, menos de 4 mil pessoas ainda estavam na cidade, que antes da guerra tinha 73 mil habitantes.
Foto: Metin Aktas/AA/picture alliance
Só ficaram os solteiros e os mais fracos
Mais de 90% dos residentes deixaram Bachmut e arredores. Por meses, algumas lojas e uma farmácia ainda funcionaram durante momentos de trégua. Instituições de caridade e voluntários levaram ajuda humanitária aos moradores da cidade.
Foto: ANATOLII STEPANOV/AFP/Getty Images
Eles resistem, apesar de tudo
A grávida Olha e seu marido, Wlad, em 28 de janeiro de 2023 em frente a um abrigo antiaéreo em Bakhmut. O casal está entre os poucos civis que permaneceram na cidade, apesar dos violentos combates. Atualmente, para entrar em Backmut é preciso um passe especial.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Viver sob medo constante
A aposentada Valentyna Bondarenko, de 79 anos, olha pela janela de seu apartamento em Bakhmut, em agosto de 2022. Por causa dos bombardeios sem fim e do perigo constante, muitos moradores de Bakhmut permanecem em porões e abrigos de emergência por meses.
Foto: Daniel Carde/Zumapress/picture alliance
O dia a dia num porão
"Estamos acostumados aos zumbidos e explosões", disse Nina, de Bakhmut, à DW. Suas filhas foram "para a Europa", mas ela e o marido pretendem ficar enquanto o exército ucraniano estiver na cidade. Se a situação piorar, eles querem deixar a cidade "para não perturbar os militares quando o inimigo se esconder atrás das casas".
Foto: Oleksandra Indukhova/DW
Na fila pela ajuda humanitária
A situação humanitária na cidade piorou, principalmente nos últimos meses de 2022, depois da ofensiva das tropas russas de 1º de agosto. A rede elétrica foi danificada pelos ataques e bombardeios. O abastecimento de alimentos se tornou difícil, e a telefonia móvel entrou em colapso. Até voluntários foram atacados.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Batalhas de artilharia pesada
As principais batalhas por Bakhmut são travadas entre unidades de artilharia. Segundo estimativas militares, quase toda a gama de artilharia e morteiros fica nesta área. Bakhmut é fortemente atacada por unidades do exército privado russo Grupo Wagner. Os militares ucranianos continuam resistindo aos ataques.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Bandeira ucraniana de Bakhmut no Congresso dos EUA
Em 20 de dezembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou soldados ucranianos perto de Bakhmut. De lá, ele levou uma bandeira ucraniana, que deu à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, dois dias depois, durante sua visita ao Congresso dos Estados Unidos. A bandeira traz as assinaturas de soldados que defendem a soberania da Ucrânia nas linhas de frente.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Tratamento dos feridos em Bakhmut
As principais tarefas dos médicos militares no front são estabilizar os feridos, prevenir mortes por perda de sangue e choque e, em casos graves, garantir o transporte para hospitais de áreas mais seguras no interior do país.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance
Cidade está 80% em ruínas
A foto é dos últimos dias de dezembro de 2022. A fumaça sobe sobre as ruínas de casas nos arredores de Bakhmut. De acordo com as autoridades locais, em março de 2023 os violentos combates já haviam destruído mais de 80% da área habitacional da cidade.
Foto: Libkos/AP/picture alliance
Destruição registrada por satélite
Uma imagem de satélite divulgada pela Maxar em 4 de janeiro de 2023 mostra a extensão da destruição em Bakhmut. "A cidade tem sido o centro de intensos combates entre as forças russas e ucranianas nos últimos meses, e as imagens mostram danos significativos em prédios e infraestrutura", informou a empresa aeroespacial.
Foto: Maxar Technologies/picture alliance/AP
Cidade-fantasma
Esta foto de 13 de fevereiro de 2023, tirada por um drone da agência de notícias AP, mostra a extensão da destruição causada pelos combates. Fileiras inteiras de casas foram destruídas, apenas as paredes externas e as fachadas danificadas ainda estão de pé. Telhados, tetos e pisos desmoronaram, e a neve se acumula dentro das ruínas.
Foto: AP Photo/picture alliance
"Fortaleza Bakhmut"
Um soldado ucraniano diante de uma pichação no centro da cidade que diz "Bakhmut ama a Ucrânia". Embora a liderança política e militar da Ucrânia tenha decidido continuar defendendo o lugar, a Otan não descarta que Bakhmut possa cair, embora isso não signifique necessariamente uma virada na guerra.