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Ucranianos pressionam governo por aproximação com União Europeia

15 de dezembro de 2013

No quarto domingo seguido de manifestações em Kiev, protestos se voltam contra a visita do presidente Yanukovytch a Moscou na próxima terça-feira. Senadores americanos levam apoio a manifestantes.

Foto: DW/R. Goncharenko

Ao meio-dia deste domingo (15/12) a Praça da Independência de Kiev – o centro dos protestos na Ucrânia – já estava tomada por dezenas de milhares de manifestantes, refugiados da polícia atrás de barricadas improvisadas. Os manifestantes referem-se ao protesto deste domingo como Witsche – termo em ucraniano antigo que significa um tipo de assembleia pública onde eram tomadas as decisões importantes e fatídicas.

"É exatamente isso o que acontece aqui hoje", explica a estudante Switlana, 20 anos. Ela veio à Praça da Independência com três amigos, vestindo uma coroa de flores, que é parte do traje tradicional das mulheres do país, e com as cores da bandeira ucraniana pintadas no rosto.

"Queremos que a Ucrânia se aproxime da União Europeia e não da Rússia", diz a estudante. Ela e seus amigos são de uma geração que nasceu e cresceu em uma Ucrânia independente.

Yanukovytch visita Putin

O principal objetivo dos protestos é evitar uma possível aproximação da Ucrânia com a Rússia. O presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, é aguardado em Moscou nesta terça-feira, onde irá se reunir com o colega russo, Vladimir Putin. Os manifestantes na Praça da Independência temem que essas conversas possam resultar em uma aliança ainda mais sólida entre os dois países.

Uma declaração lida por políticos e ativistas no palco central das manifestações alerta o presidente para não assinar contratos com a Rússia que possam interromper o caminho do país em direção à Europa.

Presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovytch (esq.), irá se reunir com o russo Vladimir Putin na terça-feiraFoto: AP

Outras manifestações estão programadas para a terça-feira, paralelamente à visita de Yanukovytch a Moscou, para expressar o descontentamento da população com o possível aprofundamento das relações entre os dois países. Uma frase muitas vezes repetida por oradores no palco na Praça da Independência afirma: "somos um povo europeu e queremos ir para a Europa".

Apoio americano aos protestos

Neste domingo, os manifestantes receberam o apoio dos senadores americanos John McCain, do Partido Republicano, e Chris Murphy, do Partido Democrata. "A América está com vocês", bradou McCain à multidão no centro de Kiev. Ele fez um apelo à polícia para que não use de violência contra os manifestantes.

Os senadores americanos iniciaram sua visita a Kiev no sábado e mantiveram reuniões com os líderes da oposição: o campeão de boxe Vitali Klitschko, o nacionalista Oleg Tyagnybok e o líder do partido da ex-presidente Yulia Timochenko, Arseniy Yatsenyuk.

Do mesmo palco que os líderes da oposição têm utilizado para se pronunciar à multidão, McCain exaltou os protestos no país – os maiores desde a chamada Revolução Laranja de 2004. "A Ucrânia fará uma Europa melhor, e a Europa, uma Ucrânia melhor", afirmou o veterano senador. "Estamos aqui porque seu protesto pacífico serve de inspiração para seu país e para o mundo."

Os serviços de segurança do país estão em alerta desde que cerca de 5 mil apoiadores de Yanukovytch chegaram das províncias do país para o que chamaram de "protestos ininterruptos" em um parque próximo à Praça da Independência.

Senador americano John McCain se une aos manifestantes na Praça da Independência em KievFoto: Reuters

Dezenas de barracas do Exército e uma cozinha foram providenciadas pelos manifestantes pró-governo para alojar os manifestantes. A maioria deles é proveniente do leste e do sul do país, o chamado cinturão industrial, que forma a base de apoio de Yanukovytch.

Cada vez mais longe da Europa

O comissário da União Europeia para a Expansão, Stefan Füle, anunciou de modo surpreendente via Twitter que o bloco das 28 nações estaria congelando as negociações com Kiev até receber do presidente Yanukovytch a confirmação de que a Ucrânia leva a sério o acordo.

No sábado, Füle divulgou na rede social que as "palavras e atos do presidente e do governo" deixam o país cada vez mais longe do acordo de associação. Bruxelas estaria congelando as conversações com Kiev após uma reunião ocorrida na sexta-feira, na qual não houve progressos.

Segundo o comissário, oficiais da UE teriam dito aos ucranianos que as discussões exigem um "comprometimento claro" de Kiev para a assinatura do acordo. Ainda assim, não obtiveram resposta. "Seus argumentos não eram fundados na realidade", afirmou.

Um porta-voz do governo ucraniano respondeu que Kiev continua levando a sério as negociações e não considerou a mensagem de Füle como uma posição formal do bloco europeu.

"O governo da Ucrânia está decidido a continuar as negociações sobre as condições em que o acordo de associação possa ser implementado", afirmou Vitali Lukyanenko, porta-voz do primeiro-ministro Mykola Azarov, a uma agência de notícias russa. "Kiev irá apenas examinar as declarações oficiais da UE sobre as negociações e responderá apenas a elas", acrescentou.

Comissário para a Expansão da UE, Stefan Füle: acordo com a Ucrânia está cada vez mais distanteFoto: DW/ A.Gazazyan

Corrida contra o tempo

Os manifestantes no centro de Kiev disseram temer que o tempo esteja se esgotando para suas aspirações de associação ao Ocidente, devido à posição intransigente da Rússia.

No sábado, em uma tentativa de suavizar os protestos, Yanukovytch suspendeu o prefeito de Kiev e o vice-presidente do Conselho de Segurança em razão da violenta investida das forças do governo contra os manifestantes no dia 30 de novembro.

Já o procurador-geral da Ucrânia anunciou que pretende acusar de abuso de poder o chefe da polícia de Kiev e seu vice-comandante. Líderes da oposição afirmaram que as medidas tomadas pelo presidente não são suficientes e pedem também a exoneração do ministro do Interior e do primeiro-ministro.

RC/afp/dw

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