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UE: A bola está com o Mercosul

Roselaine Wandscheer18 de junho de 2004

Às margens da conferência da Unctad, continuaram de forma extra-oficial as negociações do acordo de livre comércio UE-Mercosul. Em entrevista exclusiva, diretor-geral de Comércio da UE fala das expectativas de seu bloco.

Carne brasileira rumo ao mercado europeuFoto: AP

Embora a próxima rodada oficial de negociações do acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul esteja marcada só para o próximo dia 19 de julho, a 11ª Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), em São Paulo, serviu de palco para conversas bilaterais entre representantes do bloco sul-americano e o comissário de Comércio da União Européia (UE), Pascal Lamy.

As posições das duas frentes podem ser resumidas da seguinte forma: enquanto os europeus exigem melhor acesso ao mercado de prestação de serviços, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai esperam a abertura do mercado europeu para seus produtos agrícolas, como carne, trigo e açúcar.

Vontade política para concluir acordo

Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, Karl Dietrich Falkenberg, negociador da União Européia (UE) para o acordo de livre comércio com o Mercosul, disse que são cada vez menores as chances de conclusão de um acordo até outubro, conforme o previsto por ambas as partes. "A pressão é cada vez maior. Ainda não estou pessimista, acho que o prazo pode ser mantido, mas é importante que a vontade política prevaleça para a tomada das últimas decisões difíceis", assinala.

Como líder europeu nas negociações, Falkenberg destacou que "a bola agora está com os países do Mercosul". Nas suas palavras, a última proposta apresentada pelos europeus, justamente no sensível setor agrícola, exigiu muita coragem. E complementa: "A proposta do Mercosul continua muito aquém do que nós propusemos, por isso estamos aguardando novas iniciativas do lado sul-americano."

Segundo o diretor-geral de comércio do bloco europeu, as diferenças no momento continuam sendo tantas que ainda não se pode dizer que se está na reta final das negociações. "A substância é mais importante que prazos", observa, pois "não estamos dispostos a encerrar as negociações enquanto o conteúdo não for satisfatório. Há o risco de elas não estarem concluídas em outubro, mas o consenso é tecnicamente possível."

Realidade já em 2006?

Logotipo do Mercosul

Considerando que o acerto se dê no prazo previsto, tanto no Mercosul como na Europa seria iniciado então o processo de ratificação do acordo. Caso isto dure um ano, Falkenberg acha que as primeiras reduções nas tarifas alfandegárias possam ser implementadas em 1º de janeiro de 2006. Segundo ele, a União Européia sugeriu que cerca de 60% dos produtos industriais importados do Mercosul sejam liberados de taxação já desde o primeiro dia em que estiver valendo o livre comércio.

"Em contrapartida, esperamos o mesmo do Mercosul, mas a sugestão no momento é de 6%, e isto nos é muito pouco", reclama. Na lista de prioridades da UE para exportação ao Mercosul estão dez setores, entre os quais o automotivo, têxtil, do aço, informática, indústria de celulose, indústria farmacêutica e química. Já o que o Mercosul pretende exportar são, em primeiro lugar, produtos agrícolas, tanto os in natura como processados.

Quanto a novos parceiros na região, Falkenberg declarou que, seguindo o exemplo do Chile e do México — que já mantêm acordos de livre comércio com a União Européia —, os países andinos e nações da América Central estão pressionando o início de negociações com o bloco europeu.

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