UE acusa Israel de ignorar apelos dos países parceiros
12 de dezembro de 2023
Chefe da diplomacia europeia lembra que G7 alertou contra ataques no sul da Faixa de Gaza e compara destruição no enclave à de cidades alemãs na 2ª Guerra. UE avalia sanções contra colonos israelenses na Cisjordânia.
"Dissemos, entre outras coisas nos encontros do G7, que Israel não deveria empregar no sul de Gaza as mesmas táticas utilizadas no norte", disse Borrell nesta segunda-feira (11/12), na ocasião de um encontro dos ministros do Exterior da UE em Bruxelas.
O diplomata disse que a reação israelense aos ataques brutais do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro – quando mais de 1,2 mil pessoas morreram e cerca de 240 foram sequestradas – causou um "número inacreditável de mortes de civis". Israel reagiu aos atentados com uma campanha de intensos bombardeios no norte do enclave palestino e obrigou a população a fugir para o sul do território.
Borrell, ao mesmo tempo em que ressaltou que o Hamas tem lugar cativo na lista de organizações consideradas como terroristas pela UE, criticou a intensidade extraordinária dos bombardeios no sul de Gaza. "Continuará igual, senão pior."
A situação no enclave palestino, segundo afirmou, é "catastrófica, apocalíptica". "A destruição dos edifícios em Gaza é parecida ou até maior do que a destruição sofrida por cidades alemãs na Segunda Guerra Mundial", criticou.
"As mortes de civis representam entre 60% e 70% do total de óbitos", afirmou, com base em dados do Ministério da Saúde de Gaza. Borrell disse ainda que "85% da população foi forçada a se deslocar."
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Sanções a colonos na Cisjordânia
Ele ressaltou que a UE também está "alarmada pela violência perpetrada por colonos judaicos extremistas na Cisjordânia" e condenou a decisão israelense de aprovar a construção de 1,7 mil casas no leste de Jerusalém, o que Bruxelas considerou como uma violação das leis internacionais.
Borrell anunciou que enviará uma proposta aos Estados-membros da UE para impor sanções aos colonos judaicos que cometerem atos de violência contra civis palestinos. A medida deve ser elaborada nos moldes de uma proposta feita pelos Estados Unidos, que querem proibir a entrada no país de qualquer pessoa que "prejudique a paz, segurança ou estabilidade na Cisjordânia".
As sanções europeias incluiriam ainda o congelamento dos bens dessas pessoas no bloco europeu. Além disso, punições contra o Hamas também estão sendo discutidas em Bruxelas.
Números da ONU demonstram que os ataques dos colonos mais do que dobraram desde os atentados do Hamas em Israel. "Está na hora de transformar palavras em ações e de começar a adotar as medidas que nós podemos tomar no que diz respeito à violência contra os civis da Cisjordânia", afirmou o diplomata.
Ele, porém, reconhece que ainda não há consenso entre os 27 Estados-membros da UE para a adoção das sanções aos colonos.
A questão dos assentamentos judaicos é um dos pontos de maior tensão nas relações israelo-palestinas. Apesar de serem considerados ilegais pela maioria dos países, essas localidades vêm sendo constantemente expandidas por Israel nos últimos anos.
Os assentamentos foram construídos em territórios disputados que foram capturados por Israel na Guerra dos Seis Dias de 1967. Os palestinos reivindicam essas áreas, defendendo que elas devem pertencer ao futuro Estado palestino independente.
rc (AFP, Reuters, DPA, DW)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.