Ministros do Exterior expressam apoio a ações que evitem uso de armas químicas e afirmam que Assad é responsável pelo recente ataque em Duma. Comunicado final, porém, falha na adoção de termos fortes.
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Os ministros do Exterior da União Europeia (UE) expressaram nesta segunda-feira (16/04) apoio aos ataques aéreos realizados na Síria por Estados Unidos, Reino Unido e França no sábado, mas a formulação utilizada no comunicado divulgado após a reunião em Luxemburgo foi contida.
A ação, ordenada pelos três países com o objetivo de destruir instalações suspeitas de desenvolverem e estocarem arsenal químico, veio em resposta a um suposto ataque do regime e seus aliados na cidade de Duma, próxima a Damasco, que matou ao menos 40 pessoas.
Os representantes dos 28 países da UE disseram que condenam "com veemência o uso contínuo e seguido de armas químicas pelo regime da Síria, incluindo o mais recente ataque em Duma", e que apoiam "todos os esforços" para evitar o uso de armas químicas.
"O conselho [dos ministros] entende que os ataques aéreos dos EUA, França e Reino Unido às instalações de armas químicas na Síria foram medidas específicas [...] com o objetivo único de evitar a futura utilização de armas e substâncias químicas pelo regime sírio para matar sua própria população", afirma a nota.
Os 28 ministros também condenaram a ofensiva militar, apoiada pela Rússia, que o governo do presidente Bashar al-Assad realiza contra grupos rebeldes na Síria e pediram um cessar-fogo imediato para permitir o acesso de ajuda humanitária.
A formulação contida do comunicado contrasta com a utilizada por alguns países-membros em seus próprios comunicados, por exemplo a Alemanha. "Apoiamos que nossos aliados americanos, britânicos e franceses, como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, tenham assumido sua responsabilidade dessa forma", afirmara o governo alemão, para quem a operação "era necessária e foi apropriada".
Um "basta" às armas químicas
O ministro britânico do Exterior, Boris Johnson, disse que o ataque não tinha como objetivo "mudar a maré na guerra da Síria, provocar a mudança de regime ou remover Assad ", mas que ocorreu por que o "mundo está dando um basta ao uso de armas químicas".
Os ministros avaliaram meios de renovar a pressão para que a Rússia, que, ao lado do Irã, é a maior aliada do regime sírio, consiga fazer com que Assad volte à mesa de negociações para discutir o futuro de seu país. "Temos que admitir, gostemos ou não, que sem a Rússia não estaremos aptos a resolver esse conflito", afirmou o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas.
Os Estados Unidos anunciaram que deverão impôr novas sanções à Rússia após o ataque em Duma. As medidas terão como alvo empresas que forneceram à Síria equipamentos associados à produção de armas químicas.
A UE, porém, não deve adotar medida semelhante. Alguns de seus membros demonstram receio em provocar uma resposta dura. A Rússia é o principal fornecedor de gás natural aos países membros da UE. Os ministros, porém, avaliam novas ações para aprofundar o isolamento de Assad. "A UE continuará a considerar futuras medidas restritivas contra a Síria, enquanto continuar a repressão [por parte do regime]", diz o comunicado.
UE busca solução política
A Rússia, por sua vez, visa se aproveitar das fissuras expostas entre os membros da UE após o caso do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha com um agente químico na Inglaterra.
No mês passado, os 28 Estados-membros da UE assinaram, após forte insistência do Reino Unido, França e Alemanha, uma declaração culpando a Rússia pelo caso Skripal, o que Moscou nega.
Em seguida, 18 países do bloco europeu seguiram o exemplo britânico e expulsaram diplomatas russos de seus territórios. Outros seis adotaram medidas menos rígidas, como convocar seus embaixadores, e três decidiram não agir.
No comunicado, os ministros afirmam que "o momento da situação atual deve ser utilizado para revigorar o processo de busca por uma solução política para o conflito sírio".
A UE insiste que "não deve haver uma solução militar" para a guerra na Síria, que já matou mais de 350 mil pessoas, e insiste nas conversações de paz em Genebra sob a tutela das Nações Unidas.
Na próxima semana a UE realizará uma conferência em Bruxelas para discutir o futuro da Síria, com o objetivo de angariar apoio financeiro para a ajuda humanitária no país e dar novo impulso ao enfraquecido processo de paz liderado pela ONU.
RC/afp/rtr/dpa
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.