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UE aprova plano para economizar gás para o inverno

26 de julho de 2022

Países terão meta voluntária de reduzir consumo em 15%, que poderá se tornar obrigatória, com diversas exceções. Medida tem objetivo particular de proteger a Alemanha da dependência da Rússia e testou unidade do bloco.

Gasoduto
A Alemanha é a maior consumidora do gás russo na UE, que representou 40% do total de gás importado pelo bloco no ano passadoFoto: Janek Skarzynski/AFP/Getty Images

A União Europeia (UE) aprovou nesta terça-feira (26/07) um plano de redução do consumo de gás, com o objetivo de armazenar o combustível para ser usado durante o inverno e diminuir a dependência da Rússia no setor energético.

Moscou vem reduzindo progressivamente suas entregas de gás para o bloco e poderia em breve interromper totalmente o fornecimento, em retaliação às sanções impostas pela UE contra Moscou pela guerra na Ucrânia.

O plano estabelece uma meta voluntária de redução de 15% do consumo de gás do início de agosto deste ano até o final de março de 2023, e dá ao Conselho da UE, que representa os países-membros, o poder de impor, por maioria de votos, um estado de emergência no bloco caso seja necessário, o que tornaria obrigatória a meta de economia.

O texto aprovado foi suavizado em relação à proposta inicial apresentada pela Comissão Europeia. Caso a meta de redução torne-se obrigatória, ela será adaptada à situação de cada país graças a uma série de exceções, levando em conta o nível das estações de armazenamento de gás e se o país está conectado à rede de gasodutos da UE.

Proteção da Alemanha

Doze países da UE já enfrentaram reduções ou interrupções no fornecimento do gás russo desde o início da guerra na Ucrânia, mas o plano tem como objetivo em particular proteger a Alemanha, que é a maior economia do bloco e pode vir a necessitar de ajuda de seus vizinhos.

A Alemanha é altamente dependente de gás russo para muitas de suas indústrias, e é a maior consumidora do gás russo no bloco, que representou 40% do total de gás importado pela UE no ano passado.

"É verdade que a Alemanha cometeu um erro estratégico ao ficar dependente do gás russo, mas nosso governo está trabalhando (...) para corrigir isso", disse o ministro da Economia alemão, Robert Habeck.

Ele disse também que o acordo fechado pela UE mostraria ao presidente russo, Vladimir Putin, que a Europa se manteria unida frente aos cortes de gás por Moscou. "Você não nos dividirá", disse Habeck.

"Alemanha cometeu erro estratégico ao ficar dependente do gás russo, mas nosso governo está trabalhando (...) para corrigir isso", disse o ministro da Economia alemão, Robert HabeckFoto: Tobias Steinmaurer/dpa/APA/picture alliance

A França também afirmou que mostrar solidariedade a Berlim ajudaria a proteger todo a UE, apesar de a Alemanha ser a maior consumidora do gás russo. "Nossas cadeias industriais são totalmente interdependentes: se a indústria química na Alemanha tiver problemas, toda a indústria europeia poderia ter que pausar [suas atividades]", disse a ministra francesa para a transição energética, Agnes Pannier-Runacher.

Unidade da UE à prova

A necessidade de economizar gás em solidariedade à Alemanha, que no passado recente defendeu posturas fiscais rigorosas em relação a países mais pobres do bloco durante crises financeiras, gerou alguma tensão entre os países de UE.

O texto aprovado nesta terça-feira passou por diversas alterações que diluem seu impacto, diante da oposição inicial de nações como Polônia, Espanha, Itália, Grécia e Portugal. Desde o início da guerra, a UE conseguir reduzir em apenas 5% o seu consumo de gás.

A proposta inicial não admitia exceções à meta de 15% e estabelecia que a Comissão Europeia, braço Executivo do bloco, em vez do Conselho da UE, estaria incumbida de impor o estado de emergência e obrigar o cumprimento da meta.

As exceções incluídas no texto aprovado beneficiarão, por exemplo, país insulares como Irlanda, Chipre e Malta, e nações como Espanha e Portugal, pouco conectadas à rede de gasodutos europeia. Também há exceções para o uso de gás em processos industriais e caso haja riscos de apagões elétricos.

"Ninguém questiona a necessidade de solidariedade, mas os meios para a solidariedade podem ser muito diferentes, e a proposta inicial não era necessariamente a mais efetiva", disse a ministra espanhola para transição ecológica, Teresa Ribera Rodriguez.

A ministra polonesa para o clima, Anna Moskwa, ressaltou que o acordo não iria restringir o uso de gás pela Polônia, e se opôs à ideia de que um país deveria reduzir seu uso industrial do gás para ajudar outros países que enfrentem desabastecimento.

"Redução preventiva de nossa demanda por gás é uma estratégia sensata", afirmou a comissária da UE para energia, Kadri SimsonFoto: JOHN THYS/AFP

Por outro lado, a aprovação da proposta por maioria apenas seis dias depois de ela ter sido apresentada pela Comissão Europeia indicou unidade e reação rápida do bloco. Apenas a Hungria opôs-se ao plano final.

"A Rússia está usando a energia como uma arma e, portanto, em qualquer situação, seja um grande corte parcial do gás russo ou um corte total, a Europa precisa estar pronta", afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no início da semana.

A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, celebrou a aprovação do acordo. "Nós não seremos divididos pela escassez do gás, em vez disso ficaremos juntos, e este é o sinal mais importante para o presidente russo", disse ela nesta terça-feira.

Menos gás russo

Na segunda-feira, a gigante russa de energia Gazprom anunciou mais um corte no fornecimento de gás natural para a UE por meio do gasoduto Nord Stream 1, que vai da Rússia até a Alemanha, alegando reparo de equipamentos.

A partir desta quarta-feira, a estatal russa enviará diariamente apenas 33 milhões de metros cúbicos de gás pelo gasoduto, o que representa apenas 20% de sua capacidade total de fornecimento e metade do que está sendo entregue atualmente.

Segundo a Gazprom, a operação de uma das turbinas será suspensa devido a "condições técnicas da máquina", que será submetida a reparos.

A comissária da UE para energia, Kadri Simson, porém, rejeitou a justificativa russa. "Sabemos que não há um motivo técnico para fazer isso", disse. "Trata-se de uma medida com motivação política e temos que estar prontos para isso, e exatamente por esse motivo a redução preventiva de nossa demanda por gás é uma estratégia sensata."

Ela afirmou que o plano aprovado nesta terça-feira deve garantir estoques de gás suficientes para atravessar um inverno com temperaturas na média histórica. "Nossos cálculos iniciais indicam que, mesmo que todas as exceções sejam usadas em sua totalidade, alcançaríamos uma redução de demanda que nos ajudaria a atravessar com segurança um inverno médio", disse.

O Nord Stream 1 atravessa o Mar Báltico e conecta a cidade russa de Vyborg à alemã Lubmin. No final de maio, a Gazprom já havia reduzido as exportações de gás por meio do Nord Stream para 40% da capacidade normal.

bl/lf (Reuters, AP, AFP, dpa)

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