Assassinato de jornalista
20 de janeiro de 2007O assassinato do jornalista Hrant Dink, acusado de traição por afirmar que o massacre de armênios pelo Império Otomano na Primeira Guerra Mundial foi um ato de genocídio, chocou a Turquia e causou indignação na Europa.
Milhares de pessoas saíram às ruas de Istambul e Ancara para protestar contra a morte do jornalista. Dink foi morto nesta sexta-feira (19/01) em Istambul, com três tiros na cabeça, em frente à sede do semanário turco-armênio Agos, do qual era editor.
A maioria dos turcos supõe que o assassinato foi uma reação às declarações públicas de Dink sobre o genocídio dos armênios, algo que nacionalistas turcos vêem como um insulto à honra do país e uma ameaça à unidade nacional.
Democracia baleada
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, classificou o assassinato como um "atentado abominável contra todos nós como nação, contra a nossa unidade e convivência, contra a paz e a estabilidade. A liberdade de pensamento e nossa vida democrática foram baleadas", afirmou.
Várias pessoas já foram detidas por suspeita de envolvimento com o assassinato, informaram meios de comunicação turcos. As autoridades turcas prometeram determinação e transparência nas investigações sobre o crime.
O diretor da Anistia Internacional para a Europa e a Ásia Central, Nicola Duckworth, vinculou a morte de Dink à legislação turca. "Na Turquia ainda há uma série de leis rígidas que fomentam a repressão à liberdade de opinião", disse.
O diretor do Centro de Estudos Turcos em Essen, Faruk Sen, disse que, no último dia 10 de janeiro, Dink ainda recebeu uma carta em que era ameaçado de morte. "Ele a entregou à Procuradoria Geral da República, mas nenhuma providência foi tomada. É uma vergonha que a polícia não o tenha protegido. A Justiça nunca o deixou em paz, era um processo atrás do outro", disse Sen, que era amigo do jornalista.
UE cobra apuração rápida
A União Européia, os EUA e a Armênia também condenaram o crime. Em nota divulgada à imprensa neste sábado em Berlim, a presidência alemã da UE se mostrou "chocada pelo assassinato" e disse esperar que as autoridades turcas esclareçam o crime o mais rapidamente possível.
O comissário de Ampliação da União Européia, Olli Rehn, classificou Dink como um "respeitado pensador e defensor da liberdade de expressão na Turquia. Estou chocado e muito triste com este ato brutal de violência", disse.
O presidente francês, Jacques Chirac, disse que, "com este ato de crueldade, a Turquia perdeu sua voz mais corajosa e livre".
Premiado na Alemanha
Segundo o Ministério alemão das Relações Exteriores, o jornalista sempre vinculou seu trabalho à "luta pela democracia e a liberdade de expressão, mesmo correndo muitos riscos pessoais".
Em 2006, Hrant Dink recebeu o prêmio internacional Henri Nannen, concedido pela revista alemã Stern e a editora Gruner+Jahr a profissionais que se destacam pela qualidade de seu trabalho jornalístico.