Ministros europeus do Exterior fazem apelo pelo fim da violência no país latino-americano. Além da definição de um calendário eleitoral a fim de superar a crise, políticos clamam pela libertação de presos políticos.
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Os ministros do Exterior da União Europeia (UE) fizeram um apelo nesta segunda-feira (15/05) pelo fim da violência na Venezuela, solicitando, entre outras ações, a realização de novas eleições no país.
Segundo declararam os políticos europeus em comunicado conjunto, os últimos dez meses de esforços contra a crise no país latino-americano foram de "estagnação". Por isso, clamaram pela definição de um calendário eleitoral "para que o povo possa expressar sua vontade de forma democrática".
Os ministros, reunidos em Bruxelas, convocaram ainda um "diálogo urgente, construtivo e eficaz entre o governo e a maioria parlamentar", dominada pela oposição ao presidente Nicolás Maduro, a fim de superar a crise política que assola o país, que enfrenta ainda uma grave crise econômica.
Referindo-se à recente onda de protestos violentos, os ministros pediram respeito pelos direitos fundamentais dos venezuelanos, "incluindo o direito de se manifestar pacificamente". "A violência e o uso da força não resolverão a crise. É crucial que todas as partes se abstenham de atos violentos."
As crises política e econômica que atormentam a Venezuela têm levado manifestantes às ruas em todo o país contra o governo Maduro. Desde o início de abril, 39 pessoas morreram e centenas ficaram feridas em confrontos entre policiais e manifestantes. Há ainda dezenas de opositores detidos – segundo organizações de direitos humanos, muitos civis foram julgadas em tribunais militares.
No texto divulgado nesta segunda-feira, os ministros do bloco europeu pedem que o governo investigue "todos os incidentes violentos" ocorridos nas últimas semanas, bem como liberte os presos políticos. Eles lembram ainda que "julgar civis em tribunais militares viola a lei internacional", além de expressar preocupação com o aumento da presença de grupos civis armados nos embates.
Por fim, os políticos destacaram que a UE "está comprometida em ajudar a Venezuela a encontrar soluções pacíficas e democráticas" e também está "pronta para usar todos os instrumentos possíveis a fim de ajudar" na solução da crise no país, onde vivem mais de 600 mil cidadãos europeus.
EK/afp/ap/dpa/efe/lusa/rtr
A crise na Venezuela pelo olhar de um fotógrafo
Imagens capturadas por fotojornalista venezuelano Iván Reyes documentam protestos contra o governo de Nicolás Maduro: da reação da polícia à coragem de jovens e mulheres.
Foto: Ivan Reyes
Jornalismo nascido da necessidade
"Eu já trabalhava há um ano como jornalista quando os protestos começaram em 2014. Muitos meios de comunicação independentes surgiram nos últimos dois anos devido à censura do governo, e é assim que eu me tornei repórter", diz Iván Reyes à DW. Ele começou a fotografar a nova onda de protestos no final de março.
Foto: Ivan Reyes
Idade da Pedra
A decisão do Supremo Tribunal de Justiça de tirar a imunidade dos parlamentares da oposição (logo revogada) desencadeou uma onda de manifestações que paralisou o país. Embora os protestos inicialmente tenham sido pacíficos, as forças governamentais começaram a atirar pedras contra os manifestantes. "Sério, deram pedras aos policiais! Este homem foi atingido por uma em 4 de abril ", afirma Reyes.
Foto: Ivan Reyes
Guerra contra os manifestantes
Os protestos ocorrem todos os dias em várias partes de Caracas, mas geralmente acabam nas grandes vias da cidade. A foto mostra os membros da Guarda Nacional disparando gás lacrimogêneo contra os manifestantes. "Segundo a legislação internacional, os projéteis devem voar por cima das cabeças das pessoas", diz Reyes. Mas, segundo ele, a determinação não é obedecida.
Foto: Ivan Reyes
"Todos somos Juan!"
Juan Pablo Pernalete, de 20 anos, morreu depois de ser atingido por um projétil em 26 de abril. A morte do estudante da Universidade Metropolitana desencadeou protestos indignados. "As pessoas gritavam: Somos todos Juan!'", conta Reyes. No enterro, a família entregou ao líder oposicionista venezuelano Henrique Capriles uma medalha que Juan Pablo ganhou nos Jogos da Juventude.
Foto: Ivan Reyes
Armas caseiras
Embora as lideranças dos protestos tenham apelado para que os manifestantes não recorram à violência, vários grupos começaram a usar armas de fabricação caseira contra as forças do governo, como estilingues e coquetéis molotov. "Esta é uma batalha que não podem vencer", afirma Reyes.
Foto: Ivan Reyes
Os heróis
"Jesus foi um dos feridos na manifestação de 4 de maio. Ele foi atingido na cabeça. As pessoas que estavam no local o carregaram até os paramédicos. Eles e os médicos da equipe de primeiros socorros UCV são os verdadeiros heróis", diz Reyes, referindo-se a médicos e estudantes de medicina que acompanham os protestos para ajudar os feridos.
Foto: Ivan Reyes
A fúria das mulheres
A marcha das mulheres organizada pelo partido oposicionista MUD em 6 de maio tinha como meta o Palácio da Justiça em Caracas. Mas elas foram barradas por uma unidade feminina das forças de segurança. As manifestantes usaram camisetas brancas, tal como as "Damas de Branco", de Cuba, que desde 2003 fazem manifestações todos os domingos pela libertação dos maridos e de outros políticos presos.
Foto: Ivan Reyes
Ode à Venezuela
Esta foto feita por Reyes viralizou nas redes sociais em 8 de maio. Ela mostra um jovem que toca o hino nacional venezuelano enquanto caminha pela rua. "Não acredito que os protestos vão terminar logo", assinala Reyes. "Vamos ver quem cansa primeiro!"