Até 700 mil migrantes africanos estão retidos em acampamentos na Líbia. Ao final de reunião de cúpula, líderes europeus e africanos prometem "soluções de longo prazo" para conter fluxo migratório.
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Ao fim de uma cúpula de dois dias na Costa do Marfim, líderes da União Europeia (UE) e da União Africana (UA) chegaram a um acordo sobre planos para a retirada imediata de 3.800 migrantes isolados na Líbia, em meio à consternação mundial por recém-divulgados leilões de migrantes escravizados no país.
"Concordamos, juntamente com a UE e a ONU, em criar uma força-tarefa para repatriar ao menos 3.800 pessoas", disse o chefe da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat. "Mas é apenas um acampamento. O governo líbio nos diz que existem 42 destes. Definitivamente, há mais. Estimaßse que haja entre 400 mil e 700 mil migrantes africanos na Líbia."
Mahamat explicou que a UA se associou à ONU e à União Europeia para conceber "soluções em longo prazo para a questão da migração", especialmente na Líbia, que tem sido usada como ponto de partida pela maioria de quase meio milhão de migrantes africanos que tentaram alcançar a Europa desde 2015, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM). A Uniäao Africana deve liderar as repatriações.
Milhares de migrantes da África Subsaariana foram presos na Líbia depois que o governo da Líbia apoiado pela ONU – o Governo do Acordo Nacional (GNA) – adotou uma política de detenção de migrantes da região. Bruxelas havia pressionado a Líbia a fazer mais para conter o fluxo migratório.
Gerba Shehu, porta-voz do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, disse em entrevista à DW que o governo fará tudo que estiver a seu alcance para repatriar os nigerianos na Líbia. Mas ele afirmou que é preciso fazer mais em relação aos traficantes de seres humanos, inclusive aqueles que operam fora da Líbia. "Eles também estão aqui na Costa do Marfim, de onde pessoas estão sendo encaminhadas à Líbia", disse Shehu.
A repatriação, no entanto, inicialmente é possível somente a partir de regiões acessíveis à OIM e às forças do GNA, segundo Marina Schramm, do escritório da OIM em Abidjan. "Num primeiro momento, temos acesso a acampamentos operados pelo governo no norte do país. Mas a situação de segurança é até mesmo nessa região muitas vezes difícil e um desafio, de modo que a logística dessas operações é muito complexa."
Desde que o ditador Muammar Kadafi foi deposto em 2011, a Líbia mergulhou no caos, com milícias, grupos terroristas e governos concorrentes reivindicando o poder no país. Os contrabandistas de seres humanos exploram justamente o vácuo de ordem e segurança e prometem passagem para a Europa a centenas de milhares de africanos subsaarianos, muitos deles em fuga de conflitos e pobreza extrema em seus países.
Sem "Plano Marshall" para a África
Esperava-se que a cúpula de dois dias fosse abordar os desafios decorrentes da crescente população da África, que deverá chegar a 2,4 bilhões de pessoas até 2050. Líderes europeus e africanos alertaram que, sem um desenvolvimento acelerado, milhões de jovens africanos podem tentar fugir para a Europa em busca de uma vida melhor ou recorrer a grupos militantes islâmicos.
"Uma oportunidade importante foi perdida aqui", disse Friederike Röder, da organização francesa de desenvolvimento One, em entrevista à DW. "Todos os chefes de governo concordaram com os desafios das mudanças demográficas na África", mas deixaram de estabelecer novas iniciativas – nem mesmo o "plano Marshall para a África", discutido anteriormente pela Alemanha, acrescentou Röder.
PV/afp/rtr/dpa/dw
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As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac