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UE e EUA endurecem sanções contra Rússia após referendo da Crimeia

17 de março de 2014

Medidas incluem bloqueios bancários e proibição de ingresso. Enquanto anexação da península pela Rússia avança, Obama ameaça com sanções econômicas, e bloco europeu agiliza acordo de associação com a Ucrânia.

Foto: John Thys/AFP/Getty Images

A União Europeia e os Estados Unidos decidiram, nesta segunda-feira (17/03), aplicar novas sanções contra cidadãos russos e ucranianos, em reação ao referendo, da véspera, que determinou a independência da Crimeia em relação à Ucrânia.

Após uma reunião entre os 28 ministros de Relações Exteriores da UE em Bruxelas, o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, disse que os 21 atingidos pelas novas medidas "foram responsáveis, de diferentes maneiras, pelo acirramento da crise na Crimeia".

Trata-se de oito políticos de primeiro escalão da própria Crimeia, dez russos, sobretudo parlamentares, assim como o comandante da frota russa no Mar Negro e dois militares encarregados das operações no sul e oeste da península. As sanções, que incluem embargo de contas bancárias e proibição de entrada na UE, valem inicialmente por seis meses.

Paralelamente, o governo em Washington bloqueou todas as contas, propriedades, bens e rendimentos nos EUA de quatro políticos ucranianos e sete russos, entre os quais, o vice-primeiro-ministro Dimitri Rogozin. Também estão na lista dos sancionados o presidente ucraniano deposto Viktor Yanukovytch e Serguei Aksyonov, chefe do governo da Crimeia não reconhecido por Kiev.

Obama se pronuncia sobre situação na Ucrânia, a partir da Casa BrancaFoto: Reuters

Invocando o apoio da comunidade internacional, o presidente americano, Barack Obama, assegurou que seu país está pronto a aplicar até mesmo embargos econômicos, caso Moscou continue intervindo na Ucrânia.

"Vamos continuar a deixar claro que mais provocações não vão levar a nada, senão a um maior isolamento da Rússia e a uma diminuição de seu espaço no mundo", disse Obama. "Se a Rússia continuar a interferir na Ucrânia, estaremos preparados para impor mais sanções."

Moscou e Bruxelas se apressam

Segundo fontes do governo local, no referendo de domingo 96,8% da população decidiu pela independência da Crimeia em relação à Ucrânia. O Parlamento crimeano homologou a votação por unanimidade e já prepara a adesão à Federação Russa, a qual deve ser votada pela Duma na sexta-feira.

O presidente russo, Vladimir Putin, já assinou um decreto reconhecendo a Crimeia como um Estado soberano. E uma delegação da península no Mar Negro vai negociar em Moscou o cronograma para introdução do rublo russo como moeda.

Em contrapartida, a União Europeia anunciou para a sexta-feira a assinatura de um acordo de cooperação com a Ucrânia. Trata-se da parte política de um acordo de associação que vem sendo negociado há anos. As partes relativas a economia e livre-comércio só deverão ser abordadas depois das eleições presidenciais ucranianas, marcadas para 25 de maio.

A rodada de sanções em Bruxelas foi a segunda desde o início das tensões no Mar Negro: há uma semana, os ministros europeus do Exterior haviam decidido suspender provisoriamente as negociações com o Kremlin sobre a facilitação de vistos para russos na UE e sobre um acordo de parceria.

Os chefes de diplomacia europeus fizeram questão de enfatizar nesta segunda-feira que o bloco considera o referendo ilegítimo e irrelevante. A lista de candidatos a sanções originalmente proposta pela alta representante da União Europeia para política externa, Catherine Ashton, continha cem nomes. "Não podemos ficar sentados sem fazer nada", declarou, ao abrir a conferência. Portanto, afirmou, cabia enviar a Moscou "o sinal mais forte possível".

Manifestação patriótica em Moscou, contra interferência do Ocidente no Leste EuropeuFoto: Reuters

"Onde é que isso vai acabar?"

O ministro luxemburguês do Exterior, Jean Asselborn, ressalvou que, embora não se fosse "abençoar algo que nasceu ilegalmente", nem as mais fortes sanções poderiam mais forçar Moscou a se retirar da península. "Ninguém no mundo quer intervir militarmente, por isso é preciso reconhecer o que aconteceu, em termos de real-política, e dizer 'basta'." No momento, Asselborn também ocupa a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Steinmeier denunciou a "apropriação" da Crimeia pela Rússia como violação do direito internacional, e mostrou-se pessoalmente abalado com a veloz e dramática escalada dessa nova confrontação Leste-Oeste.

"Do ponto de vista política não posso entender, de forma alguma, que, sete décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, nós vamos começar a corrigir fronteiras na Europa. Onde é que isso vai acabar?", lamentou o ministro do Exterior alemão.

Júbilo com referendo na capital Simferopol. Ao centro, primeiro-ministro da Crimeia, Serguei AksyonovFoto: Reuters

Referendo sob acusação de fraudes

O referendo do domingo na Crimeia, no qual cerca de 1,8 milhão de cidadãos estavam aptos a votar, foi acompanhado por inúmeros jornalistas internacionais. Os mais de 1.200 locais de votação, a maioria escolas, foram fortemente vigiados. A minoria dos muçulmanos tártaros convocara um boicote ao referendo.

Segundo a imprensa ucraniana, a votação teria sido manipulada pela Rússia. Cidadãos russos que não estariam nas listas de votantes foram incluídos de última hora para participar do referendo. A denúncia, no entanto, não pôde ser comprovada.

Já há duas semanas a Crimeia se encontra sob controle de milícias pró-russas e de soldados fortemente armados, aparentemente sob comando de Moscou. O governo de Vladimir Putin afirma defender o direito de autodeterminação da maioria russa na península e querer trazer a região de volta à sua terra natal. A Crimeia foi cedida à Ucrânia em 1954, porém há mais de 200 anos a cidade portuária de Sebastopol abriga a frota naval russa no Mar Negro.

Após o referendo, novos protestos aconteceram em diversas cidades do leste da Ucrânia, de forte tendência pró-russa: em Charkov, cerca de 3 mil manifestantes exigiram a realização de uma votação popular nos moldes da Crimeia. Em Donetsk, edifícios da administração pública foram alvos de ataques.

AV/dw/dpa/afp/rtr

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