Conselho Europeu aprova pela primeira vez declaração conjunta pedindo pausa humanitária em Gaza. Washington anuncia que apresentará resolução ao Conselho de Segurança por cessar-fogo.
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Os 27 países da União Europeia (UE) decidiram nesta quinta-feira (21/03) fazer um pedido conjunto por uma pausa humanitária imediata em Gaza que leve a um cessar-fogo sustentável. É a primeira vez que o bloco faz um pedido unificado desse tipo sobre a guerra no Oriente Médio.
A decisão foi tomada numa reunião em Bruxelas do Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado ou de governo dos países da UE, e marca um aumento da pressão do bloco sobre Israel.
O conflito no Oriente Médio vinha dividindo os países da UE, com alguns demonstrando mais apoio a Israel e outros condenando enfaticamente a ofensiva militar do governo de Benjamin Netanyahu. Bélgica, Irlanda e Espanha pedem um cessar-fogo desde o fim de outubro, mas outros países, como Alemanha, República Tcheca e Hungria, inicialmente se manifestaram contra, argumentando que isso comprometeria a capacidade de Israel se defender do Hamas.
"Declaração forte e unificada dos líderes da UE sobre o Oriente Médio no #EUCO esta noite! A UE pede uma pausa humanitária imediata que leve a um cessar-fogo sustentável. Acesso humanitário integral e seguro em Gaza é essencial para levar à população civil assistência, para salvar vidas na situação catastrófica em Gaza", escreveu no X Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.
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Estados Unidos pressionam por cessar-fogo
A decisão do Conselho Europeu foi tomada no mesmo dia em que os Estados Unidos anunciaram que apresentarão na reunião do Conselho de Segurança da ONU desta sexta-feira uma proposta de resolução que determina um "cessar-fogo imediato e sustentável" em Gaza, para proteger a população civil e permitir a chegada de ajuda humanitária para mais de 2 milhões de palestinos.
O anúncio da Casa Branca também significa aumento da pressão sobre Israel. Desde o início da guerra, em 7 de outubro, Washington vinha se opondo a pedidos por cessar-fogo, a chegou a vetar três propostas de resolução nesse sentido no Conselho de Segurança – inclusive uma apresentada pelo Brasil em outubro.
O apoio do governo americano a Israel vem causando danos de popularidade ao presidente Joe Biden entre a sua base de eleitores progressistas. Biden disputará a reeleição em novembro, contra o ex-presidente republicano Donald Trump. Antes de anunciar a proposta de resolução pelo cessar-fogo, a Casa Branca já havia renunciado a seu direito a veto e se absteve em duas resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança que pediram pausas humanitárias e maior envio de ajuda aos palestinos.
Um rascunho da proposta de resolução dos Estados Unidos obtido pela agência de notícias Associated Press "determina o imperativo de um cessar-fogo imediato e sustentável", e não vincula a medida à soltura de reféns mantidos sob poder do Hamas, mas apoia esforços para que todos os reféns sejam soltos.
O Conselho de Segurança tem cinco membros permanentes, com direito a veto: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. O vice-embaixador da Rússia na ONU, Dmitry Polyansky, afirmou que Moscou apoia o pedido de cessar-fogo imediato, mas questionou qual seria o significado do uso da palavra "imperativo" na proposta de resolução da Casa Branca: "Não estamos satisfeitos com nada que não peça um cessar-fogo imediato."
Os outros dez membros rotativos do Conselho de Segurança também estão elaborando uma proposta de resolução que determina um cessar-fogo imediato para todo o mês do Ramadã, sagrado para os muçulmanos, que começou em 10 de março e vai até 9 de abril, que "leve a um cessar-fogo permanente e sustentável".
O embaixador da França na ONU, Nicolas de Riviere, afirmou que espera que uma decisão sobre tema seja tomada na sexta-feira: "Precisamos de um cessar-fogo agora. Há duas opções: ou o texto dos EUA é aprovado e então prosseguimos para a nova fase da gestão desta crise, ou o texto não é aprovado e a proposta dos membros rotativos será colocada na mesa e submetida a voto. E espero que seja aprovada."
Em 7 de outubro, o Hamas promoveu um ataque terrorista contra Israel, que matando 1.200 e sequestrando outros 253. Em reação, Israel iniciou uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza que já matou cerca de 32 mil palestinos, segundo autoridades de saúde de Gaza.
bl/av (AP, Reuters)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.