Liberalização do mercado interno europeu deve elevar a produção a partir da beterraba branca, e indústria alemã já fala até em conquistar espaço no mercado internacional.
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A regulamentação do mercado de açúcar da União Europeia (UE), que impõe cotas de produção e preços mínimos para o produto, deixa de existir a partir de outubro. Os produtores europeus estarão então livres para produzirem quanto quiserem e também para venderem no mercado mundial. Como consequência, a área cultivada de beterraba branca cresceu 17% no bloco de 2016 para 2017.
Representantes do setor açucareiro na Alemanha se dizem preocupados com a mudança. "Nós nunca apoiamos essa decisão política de abandonar o equilíbrio do mercado interno europeu com o fim da regulamentação", diz Dominik Risser, porta-voz da empresa Südzucker.
Segundo ele, a extinção das cotas compromete uma estrutura equilibrada, que protege os interesses de produtores, fábricas e consumidores. "Agora teremos o mercado de açúcar menos regulamentado do mundo", sublinha. Ele afirma que subsídios e normas existem em todos os outros mercados produtores. "Isso é algo que passaremos a não ter mais na Europa. Trata-se de uma mudança profunda."
Proteção da produção europeia
A primeira norma para o mercado europeu de açúcar entrou em vigor em 1968, como um conjunto de cotas, tarifas e subsídios para proteger a produção doméstica, ou seja, o cultivo da beterraba branca, de onde é extraída a mercadoria. Como resultado, a União Europeia, até então uma importadora de açúcar, tornou-se uma exportadora.
Em 2005, a Organização Mundial do Comércio (OMC) determinou limites a essas exportações, após queixas apresentadas por Brasil, Tailândia e Austrália. Ao mesmo tempo foram cortadas as tarifas impostas pelos europeus aos exportadores de açúcar mais pobres, para apoiar o desenvolvimento desses países. A produção europeia caiu de cerca de 21 milhões de toneladas para cerca de 17 milhões.
Como consequência da decisão da OMC, a UE relaxou as cotas de produção a partir de 2006. Como o fim delas estava previsto, os produtores europeus puderam se adaptar. Só entre 2005 e 2011, mais de 80 fábricas de açúcar foram fechadas na Europa. O número de funcionários no setor caiu de 50 mil para pouco mais de 20 mil.
Fim das restrições à exportação
Com o fim da regulamentação do mercado interno, as restrições à exportação também deixarão de existir a partir de outubro, abrindo novas oportunidades para os europeus. A Südzucker, por exemplo, pretende aumentar suas vendas para outros mercados para 800 mil toneladas por ano. "Somos o maior produtor de açúcar também no mercado mundial – algo difícil de imaginar", comenta Risser. "Produzimos anualmente de 4 milhões a 5 milhões de toneladas."
Os números da Südzucker mostram o quão fragmentado é o mercado mundial de açúcar, pois ele movimenta um volume total anual de cerca de 180 milhões de toneladas. Além disso, apresenta grandes flutuações.
Demanda crescente
Por outro lado, a demanda no mercado mundial cresce entre 1,5% e 2% ao ano. "Isso significa que os produtores precisam, a cada ano, disponibilizar no mercado um volume equivalente à produção do grupo Südzucker", compara Risser.
Um eventual aumento das exportações europeias não deverá afetar o preço do açúcar no mercado mundial – já que, comparativamente, as quantidades são pequenas. Quebras nas safras de cana-de-açúcar no Brasil ou na Austrália, por exemplo, podem afetar com muito mais força o mercado.
Mesmo as flutuações no preço do petróleo podem influenciar o mercado de açúcar: quando ele sobe, sobe também o consumo de etanol no maior mercado exportador do mundo, o Brasil, o que, por sua vez, reduz a oferta e eleva o preço do açúcar.
Talvez isso leve alguns consumidores a reduzir o consumo de doces, o que seria benéfico para a saúde. De acordo com a revista de economia Wirtschaftswoche, o consumo de açúcar triplicou no mundo nos últimos 50 anos. O consumidor europeu também ingere cada vez mais açúcar – são 38 quilos per capita por ano, cerca de duas vezes mais do que o recomendado pela Sociedade Alemã de Nutrição.
Dez verdades amargas sobre o açúcar
Aumento do consumo de açúcar afeta seriamente a saúde da população do planeta, e a Organização Mundial da Saúde alerta para uma "epidemia global". Confira dez riscos associados ao produto.
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Engorda
No corpo, o açúcar é convertido em gordura por volta de duas a cinco vezes mais rapidamente que os amidos. Ou seja, quando comemos açúcar, alimentamos nossas células de gordura. A frutose no produto também é metabolizada pelo fígado, o que pode contribuir para a esteatose hepática ou "fígado gorduroso". Isso pode promover a resistência à insulina e levar a diabetes do tipo 2.
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Afeta o humor
Em pequenas quantidades, o açúcar promove a liberação da serotonina, um hormônio que estimula o humor. No entanto, o consumo elevado do produto pode fomentar a depressão e a ansiedade. Mudanças repentinas nos níveis de açúcar no sangue também podem levar à irritabilidade, ansiedade e alterações de humor.
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Contribui para o envelhecimento
Já é sabido que o açúcar afeta a saúde, mas também atinge a pele. Isso acontece em parte devido à glicação, processo pelo qual moléculas de açúcar se ligam às fibras de colágeno. Como resultado, estas perdem sua elasticidade natural. O excesso de açúcar também prejudica a microcirculação, o que retarda a renovação celular. Isso pode estimular o desenvolvimento de rugas e o envelhecimento precoce.
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Prejudica o intestino
A flora intestinal promove a digestão e protege o sistema digestivo de bactérias nocivas. O consumo elevado de açúcar deixa a microbiota intestinal fora de sintonia. Fungos e parasitas adoram açúcar. O excesso do fungo "Candida albicans" pode levar a uma série de sintomas irritantes. E o açúcar também contribui para o resfriado, a diarreia e gases.
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Pode viciar
Em pessoas adiposas, o cérebro responde ao açúcar, liberando dopamina, da mesma forma que responde ao álcool e a outras substâncias que causam dependência. Faça o teste: evite todos os alimentos e bebidas adocicadas por dez dias. Se você começar a ter dor de cabeça e picos de irritabilidade após um ou dois dias, e passar a ter desejo por açúcar, então pode estar sofrendo de abstinência de açúcar.
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Provoca agressividade
Pessoas que consomem açúcar em excesso são mais propensas a assumir um comportamento agressivo. Crianças que sofrem de deficit de atenção e hiperatividade também são afetadas pelo açúcar. O consumo elevado do produto afeta a concentração e fomente a hiperatividade. É por isso que é uma boa ideia que as crianças evitem comer açúcar durante o horário escolar.
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Enfraquece o sistema imunológico
Depois do consumo de açúcar, a capacidade do sistema imunológico de matar germes é reduzida para até 40%. O açúcar também enfraquece o estoque de vitamina C, da qual os leucócitos necessitam para combater vírus e bactérias. O doce produto também fomenta o processo inflamatório e mesmo a menor inflamação pode desencadear graves doenças.
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Contribui para o Alzheimer
Estudos mostraram que o excesso de consumo de açúcar aumenta o risco de desenvolvimento da Doença de Alzheimer. Uma pesquisa de 2013 mostrou que a resistência à insulina e altos valores de açúcar no sangue – ambos são comuns no diabetes – estão associados a um maior risco de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.
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Eleva o risco de câncer
As células cancerígenas precisam do açúcar para se multiplicar. Uma equipe internacional de pesquisa, chefiada por Lewis Cantley, da Escola Médica de Harvard, está pesquisando como o açúcar pode contribuir para o crescimento de células malignas. Cantley acredita que o açúcar refinado faz com que células cancerígenas se transformem em tumores e recomenda o menor consumo possível do produto.
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Provoca perda de memória
O consumo elevado de açúcar pode ter efeito negativo sobre a memória. Segundo estudo realizado pelo Hospital Universitário Charité de Berlim, pessoas com níveis elevados de açúcar no sangue têm um hipocampo menor, parte do cérebro fundamental para memória de longo prazo. Na pesquisa, o desempenho de pessoas com quantidade elevada de açúcar no sangue foi pior do que aquelas com níveis menores.