UE exige que Hamas desista da violência
26 de janeiro de 2006A vitória do grupo radical islâmico Hamas nas eleições parlamentares desta quarta-feira (25/01) causou grande inquietação em Bruxelas, sede da União Européia. Mesmo o normalmente reservado Javier Solana, chefe da diplomacia do bloco, falou de uma situação "completamente nova" no Oriente Médio.
A Comissão Executiva da União Européia (UE) exigiu o cumprimento de acordos já existentes entre europeus e palestinos. Caso contrário, é preciso repensar a posição em relação à Autoridade Palestina, disseram fontes da UE nesta quinta-feira.
Em Berlim, a notícia da vitória foi recebida com reserva e preocupação. O ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, anunciou que tomará uma posição conjunta com seus colegas europeus de pasta. A condição para o prosseguimento da cooperação com a Autoridade Palestina é que desistam da violência e reconheçam a existência de Israel. "Parece ser um caminho ainda bastante longo para o Hamas", completou Steinmeier.
Apesar da reviravolta política na região, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pretende viajar ao Oriente Médio neste domingo. Depois de visitar Israel, ela vai aos territórios palestinos e se encontrará com o presidente Mahmud Abbas na segunda-feira.
Mudança de rumos
A importância da União Européia no Oriente Médio é bem menor do que a dos Estados Unidos. Mesmo assim, o bloco de países europeus é o maior doador dos palestinos, com 480 milhões de euros concedidos em 2005.
Para o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Paul Spiegel, o resultado da votação significa um grande retrocesso para as negociações de paz no Oriente Médio. O pleito demonstrou que os palestinos não estão preparados para isso, disse Spiegel ao jornal Berliner Zeitung, da capital alemã.
Embora o próprio Solana e deputados do Parlamento Europeu tenham saudado a forma pacífica como transcorreram as eleições, cresce em Bruxelas o clamor de que seja suspenso o apoio à região caso o Hamas não mude seus rumos.
Violência x dinheiro
"A ajuda financeira terá de ser cortada se o Hamas assumir o governo e não desistir da violência e da intenção de destruir Israel", salientou o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento alemão, o cristão-democrata Elmar Brok.
A representante da Palestina junto à União Européia, Leila Shahid, apelou para que a UE continue tratando a Autoridade Palestina da mesma forma como seus parceiros no Mediterrâneo. Numa entrevista a uma emissora belga, ela apelou ainda à União Européia para que pressione Israel a fazer o mesmo.
O premiê francês, Dominique de Villepin, manifestou-se "preocupado" com a vitória do movimento radical islâmico. Também o ministro holandês das Relações Exteriores, Ben Bot, exigiu que o Hamas desista da violência e reconheça o Estado de Israel. Ainda antes de saber o resultado final da votação, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, disse que uma vitória dos islâmicos seria "muito, muito ruim". As esperanças de paz entre Israel e os palestinos estão extintas por tempo indeterminado, observou.
As condições da UE
Para a comissária de Relações Exteriores da União Européia, Benita Ferrero-Waldner, "trabalhamos com qualquer governo que esteja disposto a manter a paz com meios pacíficos e que cumpra os dois acordos firmados e os princípios ali contidos".
Nos dois acordos assinados entre a Autoridade Palestina e a União Européia, o governo palestino reconhece os direitos humanos, o Estado de direito e, acima de tudo, o processo de paz previsto pelo plano internacional de paz (Road Map), o que implica também negociações diretas com o governo israelense.
O Hamas, atualmente, é considerado organização terrorista pela União Européia. Por seu lado, o grupo radical islâmico, que vê em atentados uma forma legítima de pressão, não reconhece Israel.
As relações entre União Européia e o novo governo palestino serão tema do encontro de ministros das Relações Exteriores do bloco na próxima segunda-feira(30/01). No momento, a UE vê chances de exercer pressão financeira sobre o Hamas: "Os líderes do Hamas sabem que sem o dinheiro da UE praticamente nada funciona", observou um diplomata em Bruxelas.