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Drogas

Steffen Leidel (gh)25 de novembro de 2006

Fundo co-financiado pela União Européia ajuda municípios bolivianos a buscar alternativas ao cultivo de coca na região dos Yungas. DW-WORLD conversou sobre o projeto com Johann Krug, funcionário da GTZ alemã na região.

Johann Krug, da GTZ, vê alternativas à coca nos YungasFoto: DW/Steffen Leidel

O relatório do Observatório Europeu sobre Drogas e Toxicomanias (OEDT), publicado esta semana, constatou que a cocaína transformou-se numa droga de massa na Europa. No ano passado, ela teria sido consumida por três milhões de europeus. Dez milhões de habitantes da União Européia (3% do total) entre 15 e 64 anos, já experimentaram essa droga uma vez na vida, diz o estudo.

A UE tenta combater o problema pela raiz. Investiu 13 milhões de euros no Fundo Nacional para o Desenvolvimento Alternativo (Fonadal) da Bolívia, destinado a reduzir a plantação de coca no país. Em entrevista à DW-WORLD, Johann Krug, funcionário da Cooperação Técnica Alemã (GTZ) e consultor internacional do fundo, explica o funcionamento do projeto.

DW-WORLD: Durante muitos anos, o governo norte-americano determinou as regras do combate ao cultivo de coca na Bolívia. A ordem era reprimir, ajuda haveria somente para quem destruísse suas plantações. Até que ponto a política da UE difere da luta antidrogas dos EUA?

Johann Krug: Ao contrário da cooperação norte-americana, a ajuda européia não é condicionada. Isto é, os projetos são apoiados, sem que se exija em troca a destruição das plantações de coca. Uma prioridade da UE é o fomento da economia local. Isso inclui o cultivo de produtos alternativos, como manga, abacaxi, verduras ou a criação de porcos, abelhas etc. Também a sociedade civil deve ser fortalecida, através de uma melhor educação, acesso aos serviços de saúde e infra-estrutura. Desta forma, se pretende diminuir a dependência do plantio da coca e as pessoas notam que também há outras fontes de renda.

Por que os agricultores deveriam plantar menos coca só porque há estradas melhores?

Veja o exemplo a região dos Yungas, espetacular em termos de paisagem. Ela é muito montanhosa, tem vales profundos. As condições das estradas são ruins. Isso dificulta a comercialização de produtos agrícolas perecíveis, como frutas ou flores. Esses produtos precisam chegar rápido ao mercado em La Paz ou, se forem para a exportação, ao aeroporto. No período de chuvas, há freqüentes deslizamentos de terra, rios arrancam pontes e as estradas ficam bloqueadas. O que fazer então com os produtos perecíveis? Isso é um problema.

Quais são as vantagens oferecidas pela planta de coca?

A folha é colhida, secada e prensada em grandes bolas, que podem ser armazenadas durante semanas. Além disso, as folhas de coca são leves e fáceis de transportar. E podem ser colhidas até quatro vezes por ano. Assim, os agricultores têm uma renda bastante segura em intervalos relativamente curtos.

O cultivo da coca não é simplesmente muito mais rentável do que o de produtos alternativos?

Nós partimos do princípio de que as diferenças não são tão grandes assim. Os investimentos para uma lavoura de coca aqui nos Yungas são elevados. Preparar uma área de plantio de um hectare nestas encostas íngremes custa entre 4 mil e 5 mil dólares. Além disso, exige muito trabalho braçal; a folha de coca precisa de muito cuidado. Existem alternativas interessantes, como café e manga.

Região dos Yungas tem potencial para o turismoFoto: DW/Steffen Leidel

Para as pessoas aqui, a coca não é só uma planta útil. Ela é sagrada. Há resistência contra produtos alternativos?

Assim que alguém vê uma alternativa, ele a aceita. O cultivo da coca é realmente cansativo. Além disso, provoca graves problemas ambientais. É uma monocultura, que, em 12 anos, esgota o solo. Daí as lavouras precisam ser abandonadas e há erosão. E o desmatamento aumenta. Nos Yungas já temos um grave problema de água potável. Há alternativas, sim. Não só na agricultura. Aqui o turismo tem o maior potencial.

É possível verificar se a estratégia "suave" da UE está tendo efeito?

Tomemos o exemplo do Chapare, a segunda maior região de plantação de coca da Bolívia. Lá, a UE investiu oito milhões de euros em saúde, educação e infra-estrutura. Nos últimos três anos, não ocorreram maiores conflitos provocados pela produção de coca. Já a estratégia dos EUA gerou muitos conflitos, porque a ajuda só era concedida quando o produtor destruía sua lavoura de coca.

O senhor já teve atrito com seus colegas norte-americanos por defender uma linha diferente?

Não, de forma alguma. Não há conflito com a cooperação norte-americana. Estamos em permanente contato. Os colegas do Usaid até concordam com nossa estratégia, mas eles recebem determinações da central, que não podem influenciar.

Evo Morales adotou o slogan "coca sim, cocaína não". Qual é a posição da UE em relação à legalização da coca?

Não existe uma política oficial da UE em relação a isso. Observa-se a situação. Há certas simpatias, mas também forte rejeição. Eu penso que Morales tem razão quando diz que é preciso distinguir entre planta da coca e cocaína. Produtos da coca, como chá, shampoo, pasta de dente com extrato de coca, não servem para a produção de drogas.

Johann Krug, funcionário da Cooperação Técnica Alemã (GTZ), trabalha na Bolívia como consultor internacional do Fundo Nacional para o Desenvolvimento Alternativo (Fonadal). O fundo apóia municípios principalmente em projetos de infra-estrutura, como a construção de escolas, hospitais, estradas, e ajuda a buscar alternativas à produção de coca.

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