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UE inaugura mecanismo para contornar sanções dos EUA ao Irã

29 de junho de 2019

Instex permitirá a empresas europeias negociarem com iranianos, apesar de progressivos embargos comerciais americanos. Segundo especialistas, ameaças de sanções secundárias são abuso de dominância financeira pelos EUA.

Notas de euros, dólares e riais iranianos
Foto: Getty Images/AFP/A. Kenar

A União Europeia anunciou que seu mecanismo para facilitar o comércio com o Irã está funcionando desde esta sexta-feira (28/06). "A França, Alemanha e o Reino Unido informaram aos participantes que o Instex foi tornado operacional e disponível para todos os Estados-membros da UE e que as primeiras transações estão sendo processadas", divulgou o bloco em comunicado.

O Instex – Instrument in Support of Trade Exchanges (Instrumento em Apoio a Intercâmbios Comerciais) – é um sistema de pagamento que permitirá que companhias europeias façam negócios com o Irã, apesar das duras sanções dos Estados Unidos. Ele funcionará como um escudo diplomático, permitindo a troca de mercadorias sem necessidade de transferências de dinheiro diretas entre o Irã e as empresas.

Com a iniciativa, os países da UE procuram demonstrar a seriedade de suas intenções de aliviar a carga das sanções, a fim de convencer Teerã a permanecer no Plano Integral de Ação Conjunta (JCPoA, na sigla em inglês), de 2015, mais conhecido como o Acordo Nuclear com o Irã.

O futuro do pacto foi comprometido em maio de 2018, quando o presidente americano, Donald Trump, retirou unilateralmente seu país do JCPoA. Desde então, Washington têm acumulado os embargos contra Teerã e ameaçado as empresas que façam negócios com o país, através de sanções secundárias.

Enquanto os EUA afirmam que o acordo não reduziu, em absoluto, as capacidades nucleares iranianas, os europeus asseguram que ele está funcionando, o que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem repetidamente confirmado.

Diante das tensões crescentes com os EUA e o peso das sanções, o Irã vem ameaçando retirar-se parcialmente do JCPoA, caso os demais signatários, Alemanha, França, Reino Unido, Rússia, China e a UE, não forneçam incentivos concretos para que o país asiático respeite as regras estabelecidas pelo plano.

Cornelius Adebahr, da Associação Alemã de Política Externa (DGAP), ressalvou que as companhias envolvidas no Instex representam "um grupo-alvo muito reduzido, não se trata de gigantescas somas bilionárias". Acima de tudo, o acordo nuclear com o Irã "não está morto".

Os americanos receberam a notícia com desdém. O representante especial dos EUA para o Irã Brian Hook, consultor do secretário de Estado Mike Pompeo, declarou: "Simplesmente não vemos demanda corporativa para tal, pois se uma corporação tiver a escolha entre fazer negócios com os Estados Unidos ou com o Irã, ela escolherá sempre os EUA. Portanto essa é a nossa atual avaliação do Instex."

Analistas do DGAP frisam que "os EUA estabeleceram regras unilaterais sobre sanções secundárias que são um abuso de sua dominância financeira global". A associação parte do princípio que o fato de as três maiores economias europeias estarem envolvidas no Instex poderá forçar Washington a repensar sua avaliação do esquema pró-Irã.

AV/ap,rtr

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