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PolíticaBelarus

UE não reconhece resultado da eleição em Belarus

19 de agosto de 2020

Após cúpula, líderes europeus dizem que pleito que deu sexto mandato ao autoritário Lukashenko não foi livre nem justo, e preparam longa lista de sanções. Merkel condena "violência brutal" do Estado contra manifestantes.

Protesto em Minsk
Protestos se tornaram o maior movimento antigoverno desde que Lukashenko assumiu o poder, há 26 anosFoto: DW/A. Boguslavskaya

Os líderes da União Europeia (UE) decidiram nesta quarta-feira (19/08) não reconhecer o resultado das eleições presidenciais de Belarus, que garantiram um sexto mandato consecutivo ao autoritário presidente Alexander Lukashenko e desencadearam no país uma onda de protestos antigoverno.

Os chefes de governo e de Estado europeus também expressaram apoio às manifestações em massa a favor dos direitos democráticos e avisaram que estão preparando uma longa lista de nomes do país que sofrerão sanções por fraude eleitoral e repressão brutal contra manifestantes.

"As eleições não foram justas nem livres e não cumpriram os padrões internacionais. Não reconhecemos os resultados apresentados pelas autoridades bielorrussas", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em entrevista coletiva virtual após presidir uma reunião feita por videoconferência entre líderes dos 27 países-membros da UE.

O político belga disse ainda que a situação na antiga república soviética é "cada vez mais preocupante" e garantiu que a mensagem dos chefes de governo e Estado do bloco é clara: "A UE se mantém solidária ao povo de Belarus e não aceita impunidade."

O presidente do Conselho Europeu avaliou que a situação no país não se trata de "geopolítica", mas de uma crise nacional, sobre o direito de eleger livremente suas lideranças.

Além disso, Michel considerou que a violência utilizada contra manifestantes, que há 11 dias consecutivos vão às ruas protestar contra os resultados eleitorais, foi "impactante e inaceitável" e, por isso, pediu que seja feita uma investigação sobre os fatos.

Segundo ele, a UE imporá "sanções a um número substancial" de pessoas consideradas responsáveis pela fraude eleitoral e pela violência, com medidas restritivas que já estão sendo preparadas. "Trata-se de punições seletivas, não contra o povo bielorrusso", afirmou.

Líderes da UE participaram de uma reunião de emergência para debater a crise em BelarusFoto: Reuters/O. Hoslet

Por sua vez, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, cujo país detém atualmente a presidência rotativa da UE, reiterou que "as eleições [em Belarus] não foram justas nem livres e, por isso, não é possível reconhecer seu resultado".

Em Berlim, Merkel também condenou a "violência brutal" contra manifestantes pacíficos e pediu ao regime bielorrusso que liberte, sem impor condições, todos os detidos durante os atos.

Em conversa com jornalistas, a líder alemã disse que chegou a propor um telefonema com Lukashenko para debater a situação, mas ele não aceitou a oferta. "Lukashenko rejeitou a ligação telefônica, o que eu lamento. Só é possível mediar quando você está em contato com todos os lados", disse Merkel.

Também falando após a cúpula, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a UE apoia totalmente os esforços de mediação entre o governo bielorrusso e a oposição, supervisionados pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

"Estamos prontos para acompanhar uma transição de poder pacífica e democrática em Belarus", disse. "Estamos do lado do povo que deseja liberdades fundamentais e democracia."

Von der Leyen também informou que o bloco "mobilizará um adicional de 53 milhões de euros em apoio ao povo de Belarus nesses tempos difíceis". Segundo ela, 2 milhões de euros ajudarão vítimas da repressão policial, e 1 milhão serão para apoiar grupos da sociedade civil e a mídia independente. A maior parte vai para assistência emergencial à crise do coronavírus.

As eleições presidenciais de 9 de agosto em Belarus terminaram oficialmente com a vitória de Lukashenko por mais de 80% dos votos. O resultado, divulgado pela comissão eleitoral do país, controlada por seu governo, é contestado pela oposição, que alega que a oposição foi fraudada, e desencadeou uma onda de protestos em massa no país europeu, que não faz parte da União Europeia. 

As forças de segurança prenderam quase 7 mil pessoas e feriram centenas com balas de borracha, granadas de atordoamento e cassetetes nos quatro primeiros dias de manifestação. Ao menos três manifestantes morreram, e há relatos de atos brutais de violência contra os detidos.

Apesar da dura repressão policial, os atos têm crescido e se tornaram o maior movimento antigoverno desde que Lukashenko assumiu o poder, em 1994. Trabalhadores de empresas estatais realizam greves nesta semana, enquanto protestos sem precedentes corroem a autoridade do presidente conhecido como "o último ditador da Europa".

Manifestantes reunidos em frente a uma fábrica estatal em Minsk em apoio a greve de funcionáriosFoto: picture-alliance/AP/D. Lovetsky

Antes da cúpula entre líderes da UE nesta quarta-feira, a líder oposicionista Svetlana Tikhanovskaya, que ficou em segundo lugar no pleito, com cerca de 10% dos votos, clamou pelo apoio dos europeus ao que chamou de "o despertar de Belarus".

"Eu peço que vocês não reconheçam essas eleições fraudulentas. Lukashenko perdeu toda a legitimidade sob os olhos da nossa nação e do mundo", disse Tikhanovskaya em vídeo a partir da Lituânia, onde se exilou após a eleição, temendo ser presa pelo regime de Lukashenko. Do país vizinho, ela vem convocando os bielorrussos a saírem às ruas a favor da democracia.

Lukashenko ordena limpeza das ruas

Nesta quarta-feira, pelo 11º dia seguido, centenas de manifestantes antigoverno voltaram a se reunir na capital bielorrussa, Minsk, desafiando uma nova ordem de Lukashenko, que instruiu suas forças de segurança a restaurarem a ordem nas ruas da cidade.

"Não deve mais haver qualquer desordem de qualquer natureza nas ruas de Minsk", declarou o presidente, citado pela agência de notícias estatal Belta, ao anunciar a nova repressão policial na capital. "As pessoas estão cansadas. O povo exige paz e sossego."

Porém, até o início da noite desta quarta-feira, não havia sinais de grandes operações para retirar os manifestantes das ruas. Centenas de pessoas se reuniram em frente ao Ministério do Interior, que comanda a polícia, gritando "Renuncie!". Um grande número de policiais estava estacionado no local em viaturas, mas não foi tomada qualquer atitude em repressão ao protesto.

Também nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa de Belarus ordenou um aumento da presença militar ao longo das fronteiras com a Polônia e a Lituânia, segundo noticiou a agência de notícias TASS, citando a pasta. O ministério estaria planejando enviar uma divisão de mísseis guiados, tecnologia militar antiaérea e drones à região.

Em discurso durante um ato pró-governo convocado por Lukashenko no último domingo, o presidente havia expressado preocupação com exercícios militares da Otan nas vizinhas Polônia e Lituânia, lançando acusações de que a aliança militar estaria enviando tanques e aviões para a fronteira oeste de Belarus – o que a Otan negou.

EK/afp/ap/dpa/efe/rtr/dw

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