Proposta é uma represália ao país liderado pelo autoritário Viktor Orbán por desrespeitar o Estado de Direito e não agir no combate à corrupção.
Anúncio
A Comissão Europeia propôs neste domingo (18/09) a suspensão de 65% dos fundos comunitários à Hungria por alegações de corrupção e violações do Estado de Direito por parte do governo liderado por Viktor Orbán. O montante representa cerca de 7,5 bilhões de euros.
O anúncio foi feito pelo comissário para o Orçamento e Administração, Johannes Hahn, em conferência de imprensa.
"A decisão de hoje é uma demonstração clara da determinação da Comissão de proteger o orçamento da UE e de usar todas as ferramentas a nossa disposição para garantir este importante objetivo", disse Hahn.
Se a maioria dos Estados-membros da UE apoiar a proposta, a medida afetará os chamados fundos de coesão da Hungria, que visam ajudar a levar as economias e a infraestrutura dos países da UE aos padrões do bloco. A Hungria tem até 19 de novembro para tratar das preocupações da UE.
De acordo com a autoridade anticorrupção da UE, no período entre 2015 e 2019, a proporção de irregularidades no uso de fundos da UE foi maior na Hungria do que em qualquer outro país do bloco. A Comissão já havia acusado a Hungria de combater a corrupção de forma insuficiente e, portanto, bloqueou cerca de seis bilhões de euros em ajuda no combate ao coronavírus.
Pressão por padrões democráticos básicos
A proposta deste domingo é o primeiro movimento sob um mecanismo que a UE introduziu há dois anos para vincular seu orçamento a padrões democráticos básicos.
Adotado em 2021, o regulamento relativo à condicionalidade prevê que, no caso de as violações do Estado de Direito num determinado Estado-membro e em situações que afetam os interesses financeiros da UE, a Comissão possa propor ao Conselho a adoção de medidas "adequadas e proporcionadas", como a suspensão de verbas. Cabe aos Estados-membros tomar uma decisão final, por uma maioria qualificada de 55% dos países, que representem pelo menos 65% da população da UE.
Anúncio
Por que a UE recomenda a suspensão dos fundos?
Há tempos, Bruxelas acusa o governo de Viktor Orbán de minar a democracia, de violar o Estado de Direito, nomeadamente a independência do sistema judicial e dos meios de comunicação, infringir direitos das minorias e de não combater a corrupção. Na quinta-feira, membros do Parlamento Europeu votaram pela condenação da Hungria por seu resvalo para o autoritarismo. Para os eurodeputados, o país deveria perder o status de democracia plena, passando a ser considerado um "regime híbrido de autocracia eleitoral".
Um relatório da Comissão publicado em julho observou "um ambiente em que os riscos de clientelismo, favoritismo e nepotismo na administração pública" permanecem sem solução.
Hahn disse que a UE estava recomendando a suspensão, apesar das medidas propostas por Budapeste para atender às preocupações de Bruxelas. No sábado, a Hungria disse que tentaria acabar com o impasse aprovando uma série de novas leis anticorrupção .
Espera-se que as medidas incluam o estabelecimento de um órgão de fiscalização anticorrupção independente para monitorar o uso de fundos da UE, bem como medidas para tornar o processo de compras governamentais mais transparente.
"O governo aceitou os pedidos da Comissão Europeia ou, nas áreas em que não pudemos aceitá-los, conseguimos chegar a um compromisso satisfatório para ambas as partes", disse o chefe de gabinete presidencial, Gergely Gulyas, em entrevista coletiva no sábado.
As leis devem ser aprovadas pelo Parlamento em um procedimento acelerado e entrar em vigor em novembro.
le (AP, Lusa, DPA, Reuters, ots)
A desigualdade econômica na União Europeia
As diferenças nos padrões de vida entre países da União Europeia são extremas. Mas, dependendo de como a riqueza é medida, há algumas surpresas – até quando se trata das nações em crise do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Bulgária: salários baixíssimos
A Bulgária é considerada o país mais pobre da União Europeia e também aquele onde a corrupção é mais generalizada no bloco. Segundo a Germany Trade and Invest (GTAI), a renda bruta média em 2018 foi de apenas 580 euros por mês. Desde que o país ingressou na UE, vários jovens búlgaros deixaram sua terra natal, sendo muitos deles profissionais qualificados.
Foto: BGNES
Romênia: o penúltimo lugar no ranking econômico da UE
Não se deixe enganar pela riqueza de cidades pitorescas cuidadosamente restauradas, como Brasov (foto), na Transilvânia. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 11.440 euros per capita (2019), o país está, de fato, numa posição melhor do que a Bulgária (8.680 euros). Mas com um salário médio bruto de 1.050 euros em 2019, ainda fica bem atrás da Alemanha (3.994 euros).
Foto: Imago Images/Design Pics/R. Maschmeyer
Grécia: saindo de uma crise para entrar em outra
Quando o país estava apenas começando a se recuperar dos efeitos da crise da dívida, em grande parte graças ao turismo dos últimos anos, veio a crise do coronavírus. Ainda que tenha um PIB per capita de cerca de 17.500 euros - aproximadamente o dobro do da Bulgária -, o país é considerado pobre se comparado à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/VisualEyze
França: país de proprietários de imóveis
Quando o assunto é riqueza média, os franceses estão muito à frente dos alemães. Com um patrimônio líquido de 26.500 euros (2018) per capita, os franceses possuem quase 10.000 euros a mais, de acordo com dados da Allianz, em parte devido à baixa participação imobiliária dos alemães. Na França, muitos chegam a ter até uma segunda casa no interior.
Foto: picture alliance/prisma/K. Katja
Itália: sem crescimento e altas dívidas
Entre os países europeus, a Itália foi particularmente atingida pela covid-19, com a cidade de Bérgamo rendendo manchetes como o epicentro da pandemia. Após cerca de duas décadas de estagnação econômica, o país é hoje um dos que defendem a distribuição de ajuda devido à pandemia entre os membros da UE. Com um PIB de 29.610 euros (2018) per capita, a Itália fica pouco abaixo da média do bloco.
Foto: AFP/P. Cruciatti
Espanha: o pavor de uma segunda onda
Após um forte aumento nas infecções por covid-19, as autoridades da Catalunha reimpuseram limitações de circulação em julho. O país é extremamente dependente do turismo, que representa cerca de 15% do PIB. Com uma produção econômica per capita de 26.440 euros (2018), a Espanha fica abaixo da média da UE, de pouco menos de 31.000 euros.
Foto: Reuters/N. Doce
Suécia: muita prosperidade, altos impostos e sem confinamento
A Suécia resolveu enfrentar a crise do coronavírus sem lockdown, o que, em comparação com seus vizinhos, acabou provocando muitas mortes. Com um PIB de 46.180 euros per capita, a Suécia fica em quinto lugar na Europa, atrás de Luxemburgo, Irlanda, Dinamarca e Holanda. Apesar dos altos impostos, os suecos ficaram à frente dos franceses em 2018, com um patrimônio líquido de 27.511 euros.
Foto: imago images/TT/J. Nilsson
Países Baixos: riqueza e produção econômica elevadas
Ao lado da Suécia, Dinamarca e Áustria, os holandeses estão entre os países que rejeitam transferências bilionárias sem contrapartida de reformas para países como a Itália. Com um PIB de 46.800 euros per capita (2019) e um patrimônio líquido de mais de 60.000 euros per capita (2018), eles estão no topo do ranking da UE.
Foto: picture-alliance/robertharding/F. Hall
Alemanha: uma nação rica, mas os cidadãos nem tanto
Até agora, o país tem contornado a pandemia com sucesso. Os custos econômicos, no entanto, são enormes: as exportações caíram, e muitas empresas lutam para sobreviver. Detentora da maior economia da UE, a Alemanha teve um PIB de 41.340 euros (2019) per capita. Em 2018, porém, os alemães possuíam um patrimônio líquido de apenas 16.800 euros per capita - metade do observado na Itália.