UE quer Grécia na zona do euro, mas sem corte de dívida
Bernd Riegert, de Bruxelas (av)21 de janeiro de 2015
Em Bruxelas, intenção de cooperar com próximo governo grego, qualquer que ele seja, é consensual. Mas novo corte da dívida, como defendido pelo partido Syriza, não é bem visto.
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Independentemente do resultado das eleições parlamentares antecipadas da Grécia neste domingo (25/01), a União Europeia (UE) insiste que o país mantenha a moeda comum, o euro. Mesmo que o novo chefe de governo venha do partido radical de esquerda Syriza, também ele deverá honrar as obrigações contratuais, diz-se em Bruxelas.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, descarta uma saída de Atenas da zona do euro. "A questão nem se coloca. A Grécia não abandona a zona do euro nem é instada a renunciar ao euro", declarou durante recente visita a Paris.
O comissário europeu para assuntos monetários, Pierre Moscovici, mostrou-se igualmente decidido. "A filiação da Grécia à zona do euro não é mais posta em dúvida, como alguns fizeram no auge da crise [financeira], em 2011 e 2012. Para mim, pessoalmente, nunca esteve em questão."
Ele recomenda que os gregos mantenham o atual curso de consolidação orçamentária, o qual mostra os primeiros êxitos. Se tudo correr como planejado e o país seguir obedecendo as rigorosas diretrizes de reforma dos credores, a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI), ainda este ano Atenas poderá suspender os programas de resgate de financeiro, promete Moscovici.
"O que pedimos ao governo grego é definitivamente factível e possível. Não exigimos coisas impossíveis, queremos medidas úteis e praticáveis."
Cooperação a todo custo
Em Bruxelas é consenso a intenção de cooperar com o governo grego eleito, qualquer que ele seja. As duas posições são, em parte, conciliáveis, uma vez que o Syriza também quer manter o país na zona do euro, em vez de introduzir uma nova moeda grega, como já se cogitou e ameaçou.
Por outro lado, esbarram em grande ceticismo, por parte de numerosos políticos e representantes da economia, as reivindicações de certos políticos gregos, como o eurodeputado George Katrougalos, de que se perdoe parte das dívidas da Grécia e se organize uma conferência internacional para neutralizar as exigências recíprocas relativas ao débito.
"Um corte de dívidas é sempre uma coisa boa – quando se é o devedor. A Grécia se beneficiaria. Mas se decidisse isso unilateralmente, ela perderia o acesso ao crédito internacional. O que, por sua vez, seria negativo para o país", alerta o economista Guntram Wolff, do think tank Bruegel, sediado em Bruxelas.
Perdão impopular
O primeiro-ministro finlandês, Alexander Stubb, rechaça com veemência a opção de que os países que emprestaram dinheiro à Grécia abram mão de suas exigências. "Isso seria inaceitável e decididamente seria contra as regras da zona do euro", declarou em entrevista ao jornal grego Ekathimerini.
Essa opinião é compartilhada pelo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, falando à revista Der Spiegel: "Os políticos gregos não devem mais ficar prometendo antes das eleições coisas que não vão poder cumprir depois", aconselhou.
Em março de 2014, os credores privados já tiveram que abrir mão de cerca de 100 bilhões de euros em débitos gregos. Os 320 bilhões de euros restantes provêm principalmente de fontes públicas e estatais.
Wolff explica o risco para os países doadores, que financiam o programa de resgate grego, e seus contribuintes, em caso de um corte das dívidas: "Isso significaria que seria cancelada parte das exigências financeiras que Alemanha, Itália ou Espanha têm em relação à Grécia, e que elas não seriam restituídas."
Ainda assim, ele acredita que o caminho final seja a União Europeia chegar a um consenso com Atenas, relaxando as condições ou prorrogando para além de 2050 o pagamento dos créditos. Fora de cogitação está uma saída dramática da zona do euro: pois aí os países doadores teriam que dar adeus a suas reivindicações – exatamente como no caso de um corte da dívida negociado voluntariamente, lembra o economista do think tank Bruegel.
A semana em imagens (de 19 a 25 de janeiro)
Veja os acontecimentos que marcaram o noticiário internacional.
Foto: Reuters/M. Brindicci
Vitória da oposição na Grécia
A vitória da aliança esquerdista Syriza nas eleições parlamentares da Grécia, realizadas neste domingo, é confirmada logo nos primeiros levantamentos após a votação. Entre as principais bandeiras do partido está a suspensão do programa de austeridade imposto em troca de ajuda financeira internacional ao país em crise. (25.01.2015)
Foto: Reuters/Y.Behrakis
Abraço de Obama e Modi
Presidente americano, Barack Obama, e primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, mostram sintonia em um simbólico abraço assim que o chefe de governo dos EUA desembarca em Nova Déli. Mais tarde, eles anunciariam acordo de cooperação nuclear e nas áreas de comércio e defesa. (25.01.2015)
Foto: picture-alliance/AP Photo
Alemanha coberta de neve
Uma frente fria cobriu de branco boa parte da Alemanha neste sábado. Por volta de meio-dia, cidades como Schleswig, no norte, Emden, na Baixa Saxônia, e Düsseldorf, na Renânia do Norte-Vestfália, já tinham acumulado 7 centímetros de neve. Até o fim da noite, preveem institutos de meteorologia, a neve deve chegar ao Lago Constança – extremo sul do país. (24.01.2015)
Foto: picture-alliance/dpa/Marcel Kusch
Morre rei saudita
O rei Abdullah da Arábia Saudita morreu vítima de uma pneumonia. O sucessor é o seu meio-irmão e príncipe herdeiro, Salman, que já exercia algumas funções do rei, internado em dezembro. Abdullah, que tinha mais de 90 anos, governou a Arábia Saudita desde 2005, mas era o governante de facto desde 1995, depois de seu antecessor, o rei Fahd (também um meio-irmão), ter sofrido um derrame. (23.01.2015)
Foto: Reuters/D. Martinez
BCE tenta aquecer zona do euro
Banco destina 60 bilhões de euros por mês para a compra de títulos públicos, na esperança de afastar a deflação da área de moeda única europeia. Programa deve ter início em março e durar pelo menos até setembro de 2016. Na foto, o presidente do BCE, Mario Draghi. (22.01.2015)
Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach
Pequeno orangotango encanta a Alemanha
Um filhote nascido no zoológico de Berlim no início da semana foi batizado de Rieke. O nome foi escolhido entre 600 propostas enviadas por leitores de dois jornais. O orangotango, que foi rejeitado pela mãe e está aos cuidados de funcionários do zoológico, mede 38 centímetros e pesa 1,8 quilo. (22.01.2015)
Foto: Zoo Berlin/dpa
Ataque a ponto de ônibus na Ucrânia
Poucas horas depois do encontro em Berlim para negociar um cessar-fogo na Ucrânia, um ataque próximo a um ponto de ônibus na cidade de Donetsk deixou pelo menos sete civis mortos e nove feridos, segundo as autoridades locais. (22.01.2015)
Foto: Reuters/Reuters TV
Líder do Pegida renuncia
Depois de a imprensa alemã divulgar uma foto em que ele aparece imitando Hitler, o líder do Pegida, Lutz Bachmann, renunciou ao posto. A foto, e denúncias de que Bachmann teria publicado ofensas a refugiados em sua página no Facebook, levaram promotores a abrir um inquérito contra ele por incitação ao ódio. (21.01.2015)
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Obama em tom desafiador
Falando diante de um Congresso dominado pelos republicanos, presidente dos EUA, Barack Obama, destacou recuperação econômica e defendeu medidas que beneficiem a classe média, em detrimento das camadas mais ricas. Obama também pediu o fim do embargo econômico a Cuba. (21.01.2015)
Foto: Reuters
Nacionalidade francesa para Bathily
O muçulmano Lassana Bathily, que ajudou a salvar a vida de várias pessoas no atentado a um mercado judaico de Paris, em 9 de janeiro, recebeu a nacionalidade francesa das mãos do primeiro-ministro Manuel Valls e do ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. "Estou muito feliz por ter a dupla nacionalidade", disse Bathily, que teve um pedido recusado em 2011. (20.01.2015)
Foto: picture alliance/AP Photo
Dilma veta correção na tabela do IR
A presidente Dilma Rousseff não aprovou a correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda para pessoas físicas, argumentando que "levaria à renúncia fiscal na ordem de 7 bilhões de reais". (20.01.2015)
Foto: Reuters/P. Whitaker
China registra pior crescimento desde 1990
A segunda maior economia do mundo cresceu 7,4% em 2014, menos do que a meta estabelecida pelo governo e do que no ano anterior. Economistas e FMI preveem nova desaceleração em 2015. (20.01.2015)
Foto: AFP/Getty Images/J. Eisele
Protesto contra "Charlie Hebdo" na Chechênia
Patrocinada pelo governo, manifestação contra a publicação de caricaturas de Maomé pelo jornal satírico francês reúne 800 mil pessoas na capital Grózni. (19.01.2015)
Foto: Reuters/E. Korniyenko
Guiné reabre escolas
Com a diminuição de casos de ebola, governo retoma aulas depois de dez meses e adota diretrizes para proteger estudantes. No fim de semana, vizinho Mali foi declarado livre da doença. (19.01.2015)
Foto: AFP/Getty Images/C. Binani
Desigualdade social
Segundo relatório da Oxfam, a riqueza acumulada de 1% da população mundial vai superar a dos outros 99% em 2016. Hoje, para cerca de 80% da população já restam apenas 6% da fortuna global, e 1 bilhão de pessoas vive com 3 reais por dia. (19.01.2015)
Procurador que denunciou Cristina Kirchner é encontrado morto
Alberto Nisman havia acusado, na semana passada, a presidente argentina de favorecer suspeitos iranianos de ataque a centro judaico com o objetivo de se aproximar de Teerã. Causa da morte ainda é desconhecida. (19.01.2015)