Bálcãs
6 de março de 2008A mudança da política de Bruxelas em relação aos Bálcãs pode ser percebida sob dois aspectos: em fins de fevereiro último, representantes da UE optaram, ao lado dos enviados dos EUA e da Rússia, pela permanência por tempo indeterminado de seus "encarregados" na Bósnia-Herzegóvina. Originalmente a idéia era a de que os enviados deixarariam a região em 2008. No entanto, para as autoridades européias, o país ainda está longe de gozar da soberania necessária.
Após um encontro do Conselho de Implementação da Paz, o "alto encarregado" Miroslav Lajcak afirmou que não se deve mais estabelecer nenhuma meta com prazo determinado para a região, mas sim promover o debate de questões políticas. O Conselho fiscaliza, desde 1995, a implementação do Acordo de Paz de Dayton na Bósnia-Herzegóvina.
A Comissão da UE sugere uma série de medidas a serem tomadas em prol de uma abertura da União dos Sete Países Balcânicos e de um auxílio na reconstrução e reformas na região. Uma das medidas é, por exemplo, o intercâmbio acadêmico e programas de apoio à pesquisa, ao lado de auxílio financeiro e de viagem. Ou seja, Bruxelas inclui, pela primeira vez, a democratização de cada país nas metas da UE para os sete países da região.
Paz sem democracia
Na Bósnia-Herzegóvina, vivem aproximadamente quatro milhões de pessoas. Metade da população é muçulmana, 30% são sérvios e 20% pertencem à minoria croata. O país foi dividido em duas metades autônomas após a guerra civil, que durou de 1992 a 1995: a chamada República Sérvia e a Federação, formada por muçulmanos e croatas.
Os dois lados bloqueiam-se mutuamente com freqüência, tornando impossível uma administração democrática comum do país. No momento, a Bósnia-Herzegóvina parece estar passando até mesmo por uma das piores crises políticas desde o fim da guerra civil na região. Uma das razões é, na opinião de vários observadores, a declaração de independência do Kosovo, apoiada por vários países da UE.
"Com isso, criou-se um precedente político, que mostra que as fronteiras das repúblicas formadas no território da ex-Iugoslávia não são sagradas", diz Dusan Relijic, da Fundação Ciência e Política, em Berlim. Bósnios e sérvios tiram do caso suas próprias conclusões, ou seja: se o Kosovo pode, também os sérvios da Bósnia se sentirão no direito. Um pensamento do gênero, contudo, coloca em perigo a estabilidade da Bósnia-Herzegóvina.
Falta de visão
Wolfang Petritsch, "alto encarregado" para a região entre 1999 e 2002, critica a política de Bruxelas: "O problema fundamental da política européia para os Bálcãs é que os problemas sempre foram abordados de forma muito específica, sem que se tenha atentado para o contexto geral e para a influência mútua dos focos de crise entre si".
Considerando tal realidade, a oferta recente da Comissão da UE aos sete baíses da região vem com atraso. Segundo Relijic, as condições diferenciadas de obtenção de visto para croatas bósnios, de um lado, e sérvios bósnios e muçulmanos, de outro, teriam que ter sido há muito abolidas. Pois se os croatas bósnios possuem não apenas passaportes bósnios, mas também croatas, eles podem circular livremente pela UE, não tendo necessidade de pedir visto para os países do bloco.
Trânsito livre
Já os bósnios muçulmanos e os sérvios bósnios necessitam de tal visto. "É preciso permitir às pessoas de toda a região ocidental dos Bálcãs o livre acesso à UE. Durante os 40 anos de Iugoslávia comunista, as pessoas podiam entrar nos países da Europa Ocidental livremente. Agora, depois de 15 anos de democracia, não podem mais", alerta Relijic.
Segundo observadores da política na região, o futuro próximo da Bósnia-Herzegóvina é, contudo, mais que sombrio. Somente hoje, diz Petrisch, é que se percebe que em 12 anos não é possível consolidar um Estado que funcione plenamente.
Na opinião do especialista, é possível que a UE ainda tenha que permanecer por mais 20 anos no país, a fim de garantir a ordem local. Trata-se de uma "questão de geração", acredita Petrisch. Segundo ele, somente quando a Bósnia-Herzegóvina for absorvida pela União Européia é que as feridas étnicas no país poderão, quem sabe, ser sanadas.