UE reitera que não reconhece parlamento da Venezuela
6 de janeiro de 2021
Bloco europeu segue exemplo de Brasil e EUA e afirma que mantém apoio à oposição liderada por Guaidó. Parlamento chavista eleito em dezembro tomou posse em Caracas.
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A União Europeia lamentou "profundamente", nesta quarta-feira (06/01), que a Assembleia Nacional da Venezuela tenha tomado posse na noite passada, com base em "eleições não democráticas", e insistiu na necessidade de uma solução política para o impasse que o país atravessa.
Um dia após os membros da nova Assembleia Nacional terem sido empossados numa sessão solene, em Caracas, na sequência das eleições de 6 de dezembro, que não foram reconhecidas pela oposição, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, emitiu um comunicado no qual lamenta que as eleições tenham ocorrido apesar de não haver um "acordo nacional sobre as condições eleitorais".
Borrell afirmou que a UE manterá o seu compromisso com todos os atores políticos e da sociedade civil que lutam para trazer de volta a democracia à Venezuela, incluindo, em particular, o líder opositor Juan Guaidó e outros representantes da Assembleia Nacional cessante eleitos em 2015, naquela que foi "a última expressão livre dos venezuelanos num processo eleitoral", sustenta o chefe da diplomacia europeia.
Brasil, Estados Unidos e Colômbia também comunicaram que vão continuar reconhecendo a Assembleia Nacional da Venezuela que foi eleita em 2015 e que é liderada por Guaidó, reconhecido por esses países como presidente interino do país.
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Assembleia pró-Maduro
A Assembleia Nacional eleita em 6 de dezembro tomou posse na noite desta terça-feira, em Caracas, tendo sido empossados 256 deputados dos partidos pró-regime do presidente Nicolás Maduro, 20 da oposição desvinculada de Guaidó e um do Partido Comunista.
Durante a sessão, o ex-ministro de Comunicação e Informação e ex-reitor do Conselho Nacional Eleitoral Jorge Rodríguez foi eleito presidente da Assembleia Nacional, com a ex-ministra Iris Varela e o deputado Didaldo Bolívar como vice-presidentes.
Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, comandará o bloco de deputados ligados ao regime.
"A extrema direita golpista usou as chamadas organizações não governamentais para subvencionar a conspiração e o crime contra a Venezuela", frisou Rodríguez, sublinhando que "reconciliação sim, mas sem amnésia".
Guaidó vai manter Assembleia cessante
Também nesta terça-feira, a oposição venezuelana realizou uma sessão virtual, em que Guaidó jurou que o parlamento liderado pela oposição continuará em funções.
A sessão parlamentar opositora decorreu ao mesmo tempo em que os deputados eleitos em dezembro tomavam posse nos espaços físicos da Assembleia Nacional.
A oposição venezuelana, liderada por Guaidó, não reconhece Maduro como presidente da Venezuela e denuncia irregularidades nas eleições presidenciais antecipadas de 2018, acusando o chefe de Estado de usurpar o poder.
AS/lusa/efe/afp
Venezuela: um país sacrificado
Em 6 de dezembro, os venezuelanos vão às urnas eleger uma nova Assembleia Nacional em meio a uma crise econômica e política que se arrasta há anos. O cotidiano no país é marcado pela fome e pobreza.
Foto: Cristian Hernandez/AFP/Getty Images
Geladeira vazia
Em 2018, a Venezuela registrou a maior inflação da história do país: 65.374%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a calcular uma inflação de 1.370.000% naquele ano para o país. Devido à falta de divisas, quase nenhuma mercadoria pode ser importada. Fazer compras em supermercados é quase impossível para a maioria dos venezuelanos por causa dos preços altos dos produtos.
Foto: Alvaro Fuente/ZUMA Press/imago images
Escassez geral
Com frequência, apenas aqueles que trazem seu próprio prato recebem algo para comer em centros de distribuição de refeições, como o da cidade de Valencia. Embalagens descartáveis faltam também para organizações de ajuda. A Venezuela, outrora rica, vem sofrendo há anos com uma grave crise de abastecimento. Falta de tudo: alimentos, medicamentos e produtos de higiene.
Foto: Juan Carlos Hernandez/ZUMA Wire/imago images
Crianças com fome
Em Caracas, as crianças estendem os braços desesperadas quando a Caritas ou outra organização de ajuda distribui alimentos. Muitas passam dias sem comer. De acordo com um estudo da Universidade Católica Andrés Bello, 96% das famílias na Venezuela vivem na pobreza. Destas, 64% vivem na pobreza extrema. Poucas famílias consomem carne, peixe, ovo, frutas e legumes.
Foto: Roman Camacho/ZUMA Press/imago images
Sistema de saúde próximo do colapso
Quem precisa ser internado, como no Hospital San Juan de Dios, em Caracas, tem que pagar do próprio bolso os medicamentos e materiais hospitalares, como seringas e catéteres. Mais de um terço dos 66 mil médicos venezuelanos deixaram o país. O número de outros profissionais de saúde também diminuiu, o que deixou o sistema de saúde à beira do colapso.
Foto: Dora Maier/Le Pictorium/imago images
Casas precárias
Uma criança brinca em sua casa construída com pedaços de madeira e barro. Esse tipo de construção remete ao período pré-colombiano. Com um aumento da pobreza extrema nas regiões rurais, esse método de construção está se tornando cada vez mais comum no país. Essas casas não têm eletricidade e nem água encanada.
Foto: Jimmy Villalta/UIG/imago images
Sem energia elétrica
Apagões paralisam o país frequentemente. A oposição cita a falta de investimentos, corrupção e escassez de manutenção de usinas como motivos para os apagões. Para economizar energia, o governo tomou medidas parcialmente drásticas. Ocasionalmente, a semana de trabalho de funcionários públicos é reduzida a dois dias úteis. A medida, porém, não surte efeito.
Foto: Humberto Matheus/ZUMA Press/imago images
Vida na rua
Quando falta energia, as casas ficam sem ventiladores e ar condicionado. Para suportar o calor, a população costuma passar o tempo na rua, como em Maracaibo. Apagões regionais ou nacionais são comuns no país há anos. O presidente Nicolás Maduro alega que eles são causados por atos de sabotagem da oposição contra a infraestrutura do país.
Foto: Humberto Matheus/ZUMA Press/imago images
Falta de água
No distrito Santa Rosa, em Valencia, o abastecimento de água foi interrompido mais uma vez. Venezuelanos usam a água acumulada numa poça na rua para se lavar. Em algumas regiões da Venezuela, há água encanada apenas três dias por semana e somente por algumas horas. Muitas famílias enchem todas as garrafas e baldes disponíveis para ter um pouco de água quando as torneiras secarem novamente.
Foto: Elena Fernandez/ZUMA Wire/imago images
Energia e água
Esgoto e produtos químicos tóxicos são jogados no rio Guaire. Água e eletricidade têm uma relação de dependência no país. Devido à falta de manutenção e energia, paredes de reservatórios do país racharam e o nível da água caiu. Com menos água, menos energia pode ser gerada nas hidrelétricas. Assim ocorrem apagões. Um círculo vicioso.
Foto: Adrien Vautier/Le Pictorium/imago images
Contaminado com petróleo
Os venezuelanos nadam em petróleo, mas não no bom sentido. No Lago de Maracaibo, pescadores utilizam como boias câmaras de ar de caminhões velhos cheias de óleo. A costa também é atingida por esse tipo de poluição: devido a vazamentos em oleodutos e uma pane numa refinaria próximo a Puerto Cabello, no nordeste do país, cerca de 20 mil barris de petróleo bruto teriam vazado no mar.
Foto: Miguel Gutierrez/Agencia EFE/imago images
Falta gasolina
Em Guacara, no estado de Carabobo, carros fazem filas há mais de duas semanas num posto de combustíveis e esperam por gasolina. A Venezuela precisa importar petróleo do Irã porque suas refinarias em péssimo estado quase não conseguem mais explorar o combustível fóssil. Há dez anos, eram produzidos no país 2,3 milhões de barris de petróleo ao dia. A atual produção, porém, caiu para menos da metade.
Foto: Juan Carlos Hernandez/ZUMA Wire/imago images
Em busca de gás
Em Caracas, alguns moradores esperam na rua com botijões de gás na esperança de que eles sejam reabastecidos em breve. Devido à escassez de gasolina e falta de eletricidade, muitos passaram a usar o gás de cozinha como fonte de energia. O aumento da demanda tornou o produto escasso.
Foto: Miguel Gutierrez/Agencia EFE/imago images
Heróis enfraquecidos
Imagens de Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo Morales e Rafael Correa adornam o muro de uma casa em Caracas. Muitos venezuelanos adoram os líderes socialistas da Venezuela, Cuba, Bolívia e Equador como santos. Mas na Venezuela o socialismo do século 21 não foi capaz de cumprir sua promessa de prosperidade para todos.